A Educação tal qual o Titanic.

Alguns tentam salvar o maior número de pessoas, nos poucos botes salva-vidas.

Alguns vendo o navio afundar atiram-se ao mar. Pulam no navio, preferem morrer a pensarem em lutar.

Alguns continuam a tocar seus instrumentos musicais, não tem força, nem vontade de lutar. Talvez isso os acalme ou tranquilize alguém. Seguem tocando, esperando o momento derradeiro.

Assim é a educação:

Alguns ainda lutam. Com as armas que tem: seu conhecimento, suas vozes, suas conquistas anteriores e o seu amor pela educação.

Alguns escolhem desistir e seguir outros caminhos. Muitos se resignam e se afastam da profissão, afundam-se num caos entre um medicamento e outro.

Alguns continuam na profissão e cumprem sua carga horária, preenchem os papeis, fazem seus planejamentos, preenchem planilhas. Estão de corpo presente na escola, mas com a mente em outro lugar, onde mais nada os abala. Nesse mundo onde não existe indignação, nem emoção. Onde a fatídica frase acontece: o professor finge que ensina e os alunos fingem que aprendem.

Quem está certo? Não sei... O que vejo? O primeiro grupo, estressado. O segundo, estressado e o terceiro também estressado. A Síndrome de Burnout, a depressão e os transtornos de ansiedade são resultado desse ambiente doentio, onde diversos ansiolíticos, antidepressivos, psicólogos, psiquiatras, terapias tentam dar conta de tratar as consequências. Quando o verdadeiro objetivo deveria ser buscar soluções para tornar o ambiente escolar, um ambiente mais saudável.

Os motivos para o ambiente escolar estar passando por um momento tão crítico?

Alguns dirão que são consequências de um período de pandemia. Outros dirão que é pelas responsabilidades que a escola assume, muitas delas, que seriam responsabilidades da família. Eu diria que sim, todos estão corretos. E acrescentaria nesses motivos, a subordinação da Educação à política. Quando existe um interesse político e certa dependência da Educação em relação mesma, o que percebemos ao longo dos anos é que nem sempre a prioridade é a aprendizagem e o bem estar dos alunos e professores.

Mas aí surge uma questão... A Educação poderia ser independente da política? Talvez sim, mas de uma maneira geral, não. Então o que faria essa parceria ser mais saudável do ponto de vista da escola? Em minha opinião, seria indispensável o comprometimento de cada personagem com a Educação, e a responsabilidade com que deve ser olhada.

E por que essa parceria muitas vezes não funciona? Porque os interesses individuais, por vezes, se sobressaem ao interesse do coletivo. Questões político-partidárias interferem e muitas vezes, os comandantes e capitães desse barco chamado Educação, para agradar e manter seus cargos preferem fechar os olhos e fingem não ver as reais necessidades do ambiente escolar.

Os professores, como membros da tripulação, marinheiros e marujos da educação como faz tudo nesse navio estão na linha de frente, vendo tudo acontecer e com quase nenhuma força para modificar o que enxergam errado, sendo cada vez menos valorizados, pelo poder público, pela população em geral, pelas famílias e consequentemente pelos alunos, adoecem. Sim, adoecem, porque a carga que assumem diariamente numa sala de aula deixa-os sobrecarregados e sem motivação para continuar fazendo o barco andar.

Estando em qualquer um dos botes salva-vidas, os professores sucumbem, sem forças para continuar e lutar. Desvalorizados pelo sistema que prefere manter a população refém da ignorância, onde são mais fáceis de manipular.  

E aí você me pergunta... E o comandante, os capitães, os engenheiros e oficiais desse Titanic chamado EDUCAÇÃO, onde estarão? E eu respondo: Estão fechados em suas salas. Escondidos? Talvez! Amedrontados? Também!

O Doutor e Mestre em Educação Jonathan Aguiar, no 1º Seminário Internacional Sesc de Educação: Docências na contemporaneidade: reflexões, práticas criativas e inventividades, disse em uma de suas falas na sua palestra: Ser um docente criativo, eis a questão: refletindo sobre culturas, políticas e práticas que: “...estamos em barcos diferentes, navios, iates, mas estamos na mesma grande tempestade”.

Nada descreve melhor esse período em que estamos vivendo atualmente. Na Educação tal qual o Titanic, eu diria que estamos no mesmo mar. Talvez no mesmo barco ou em algum bote salva-vidas. Nem todos sobreviverão, mas sempre e em todos os tempos vai existir alguém lutando por tempos melhores.

Eu sou Lilian Alessio, professora na Escola Municipal de Educação Infantil Amor Perfeito, no município de São Marcos/RS, e essa é uma singela analogia de como percebo a Educação.