A EDUCAÇÃO NO RENSACIMENTO. 

Raimundo da Silva Mesquita 

RESUMO 

A reforma do pensamento e a quebra de paradigmas compreendem diversos períodos históricos. Esta pesquisa apresenta a relevância da Educação no Renascimento Cultural, acontecimento articulado com o capitalismo comercial que perdurou dos séculos XIV ao XVI. Caracterizado pelo movimento anticlerical e antiescolástico, o Renascimento marcou a produção artística e científica da Idade Moderna procurando se afastar do misticismo da Idade Média, sobretudo com a criação de uma cultura laica, racional, cientifica e não-feudal.

 

1 INTRODUÇÃO 

O termo Renascimento, dado entre os séculos XIV e XVI, teve origem na História da Arte e designava a época de criação artística inspirada nos modelos da Antiguidade Clássica. Entretanto, tratando-se Renascimento Cultural, de maneira mais ampla, podemos considerar como uma importante etapa na construção do pensamento humano moderno já que este compreendeu mudanças nas áreas do pensamento científico, filosófico e literário. 

Este trabalho apresenta uma contextualização do período Renascentista com suas particularidades sociais e educacionais, de modo a evidenciar o inicio do distanciamento entre ciência e fé que ocorreu paulatinamente no decorrer da história da humanidade. 

O conceito de Renascimento não é só aplicável ao campo artístico, mas também ao escolar por uma série de mudanças. O aparecimento do humanismo e a renovação do saber desfiguraram o patrimônio tradicional da cultura, constituindo uma nova pedagogia e a criação de escolas onde os ovens passaram a ser educados de acordo com o novo ideal de formação. 

Percorreremos a seguir por uma época que tentou se distanciar o máximo possível das concepções medievais, a famosa Idade das Trevas. O sistema econômico estava na transição do feudalismo para o capitalismo, fato que também representou grande mudança cultural. 

2 O RENASCIMENTO DO HOMEM E DA ARTE  

A Historiografia Contemporânea situa o Renascimento entre os séculos XIV e XVI. Foi durante este período que surgiram importantes nomes nos campos da filosofia, da pintura, escultura e das Artes de forma gera. 

Ao refletirmos sobre o Renascimento e qual seu papel na sociedade da época, temos que ter em mente a necessidade que o homem tinha de entender a si mesmo, de buscar respostas para as suas indagações sobre seu papel no Universo, da relação com Deus e com o meio do qual fazia parte. 

Dentro de um processo histórico uma nova mentalidade ia se formando em consonância com os acontecimentos do período, ou seja, do desenvolvimento das cidades e de um pensamento com vistas ao comércio. Para os Renascentistas, o homem passava a ser o centro das atenções. No entanto, ainda se mantinha a fé em Deus como criador desse homem feito a Sua “imagem e semelhança”. 

 

Para muitos pensadores renascentistas o homem só é notável quando se assinala nos campos do pensamento e da ação por obras excelsas ou feitos heróicos, e o individualismo é exaltado numa atmosfera de egocentrismo e naturalismo no cego a t e n d ime n t o   a o   p r e c e i to   d o   c a r p e  diem.   (NUNES, 1 9 8 0: 2 7 ) 

 

A partir dessa reflexão, a visão dos renascentistas era de que: Tal qual como o “Criador” o homem feito a sua “imagem” também tinha a capacidade de criar. A criação do homem partia dos seus desejos, das vontades de transformar e de conhecer o inusitado. 

É nesse aspecto que ocorre um avanço dentro das “Humanidades”, abre-se um leque de questionamentos pautados, sobretudo pela visão empirista de uma busca pela suposta “verdade”. 

Dessa forma, os renascentistas acreditavam que a natureza era algo que deveria ser estudada pelo homem. Conhecê-la e dominá-la era descobrir um pouco mais sobre os segredos do Universo.

Toda produção artística e cultural deve ser entendida no meio onde foi criada e produzida, deste modo, muitas obras de arte do período Renascentista traziam consigo uma certa individualidade, boa parte passou a ser assinada, fato que não ocorria na Idade Média. 

Um destes exemplos de individualidade nas obras artísticas e nas técnicas para criá-las foi o desenvolvimento do sfumato por Da Vinci. A técnica única mudou a maneira como os pintores posteriores à Da Vinci trabalhavam com os pigmentos para a aquisição de uma fidelidade maior ao exemplo da natureza, agora exaltada. Da mesma forma a perspectiva evoluiu para buscar um maior realismo em lugar de distorcer e até mesmo corrigir uma natureza antes considerada selvagem e até perigosa. Com Da Vinci e seus contemporâneos passa-se a buscar a sensação de profundidade, a reprodução de um olhar que acompanha ao observador e a admiração pelo humano. 

Além dessas características, muitas pinturas em tela também nos convidam a refletir sobre o cotidiano e a importância do corpo humano pintado ou esculpido pela ótica da força e da beleza, como por exemplo, a escultura “Davi” de Michelangelo (1475-1564). Nesse sentido, muitos dos renascentistas se identificavam mais com o “Humanismo” que defendia o antropocentrismo, buscando resgatar algumas obras do período greco-romano que inspiravam tal ponto de vista. 

No conjunto da produção renascentista começam a sobressair valores modernos, burgueses, como o otimismo, o individualismo, o naturalismo, o hedonismo e o neoplatonismo, mas o elemento central do Renascimento foi o humanismo, isto é, o homem como centro do universo (antropocentrismo), a valorização da vida terrena e da natureza, o humano ocupando o lugar cultural até então dominado pelo divino e extraterreno (VICENTINO, 2000: 185) 

Diante destas considerações, podemos afirmar que foi na Itália que o Renascimento alcançou o seu auge. Os principais mercadores e os homens de posse passaram a ser conhecidos como 'mecenas', pois eram estes que apoiaram muitos dos artistas, arquitetos, escultores e pintores. A Itália passaria a ser considerada como um grande museu a céu aberto, graças às inúmeras obras de arte do período renascentista. 

Da Itália, o Renascimento se espalharia por toda a Europa, como Espanha, com destaque para a obra Dom Quixote de Miguel de Cervantes (1547-1616), na Alemanha, com a pintura de Holbein (1497-1543), na Inglaterra com William Shakespeare (1564-1616) e Holanda com intelectual e filósofo humanista Erasmo de Rotterdam (1466-1536). 

  1. O RENASCIMENTO E A ESCOLARIZAÇÃO 

A educação escolar no período renascentista possui algumas quebras de paradigmas interessantes para análise. É fato histórico que a maioria das transformações de caráter social acontece paulatinamente e com a educação do período ocorre o mesmo. 

Aliada à escolástica e a tradição cristã, a educação do período medieval que precede a Renascentista vai aos poucos sendo desestruturada pelos anseios e necessidades que as sociedades européias traziam com a criação de universidades e a propagação da educação. Um dos primeiros pontos de destaque é o humanismo, movimento que procura afastar o misticismo da Idade Média em favor de uma educação racional e cientifica. 

No início da Idade Moderna a educação passou por modificações profundas, tanto na sua concepção como nos meios usados para a consecução dos seus objetivos. 

Primeiramente, ela começou a visar de modo claro e definido à formação integral do homem, o seu desenvolvimento intelectual, moral e físico, em contraste com a educação medieval que se esmerava na formação religiosa e intelectual e dava às escolas superiores um alcance prático, um objetivo profissionalizante, uma vez que as faculdades de teologia preparavam mestres, assessores de papas e bispos. (NUNES, 1980: 41) 

Segundo Nunes (1980) o vocábulo humanista que fora empregado nos séculos XV e XVI designava o mestre ou o estudioso das humanidades, os studia humanitatis, termo já usado na Antiguidade por Cícero (106 a.C. - 43 a.C.) e Aulo Gélio (122 d.C.), e que significava a educação literária digna de um homem livre e distinto.

Dentro desses preceitos a intenção educacional se afastara dos ideais escolásticos presos a uma Igreja essencialmente preocupada em perpetuar o pensamento cristão. Entretanto é inocente pensarmos em uma educação completamente destituída do caráter cristão, o mesmo autor apresenta: 

Na concepção dos humanistas, máxime no século XVI, a educação liberal através dos studia humanitatis era para ser completada com o estudo das obras dos Santos Padres da Igreja, principalmente Santo Agostinho, e das matemáticas, da astronomia e das demais ciências, da música, dança e outras artes e com exercícios físicos (NUNES, 1980: 30) 

Além do caráter religioso a educação renascentista apesar das concepções humanistas continuou a privilegiar determinada camada social em detrimento de outras como afirma o próprio Nunes: 

Um menino pobre mas talentoso só estudaria se tivesse a sorte de ser auxiliado por um patrono generoso ou por um clérigo benevolente. A educação humanística, em tese, refere-se á formação do homem, do ser humano abstrato, mas na prática é essencialmente aristocrática e só aceitável aos ricos (NUNES, 1980: 28)  

O possível avanço da educação no campo teórico ainda encontrava resquícios da Idade Média, já que o privilégio de uma educação sem intuito profissionalizante similar a educação do cidadão livre na Antiguidade era privilégio da juventude aristocrática na maioria dos países que conheceram o Renascimento.Muito embora ainda elitista e aristocrático, o humanismo antropocêntrico renascentista ao dirigir-se ao indivíduo permite entrever uma maior participação do aprendiz na aprendizagem. De certa maneira retoma uma agenda interrompida durante o período medieval.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. CONCLUSÃO

 

 

Apesar da evidente diferenciação entre a Idade Média e o Renascimento, percebemos que as mudanças culturais do período renascentista ocorreram paulatinamente, sendo mais perceptíveis em algumas áreas do que em outras, sendo o caso do rompimento artístico que elevou o status da época.

 

A necessidade de entender a si mesmo e de investigar a natureza e produzir conhecimento empírico amadureceu a ciência da época que na Idade Média estava essencialmente ligada a Religião.

 

A mudança de olhar e a transição da acentuada religiosidade medieval para a racionalidade renascentista do ponto de vista cultural, foram as conseqüências mais sérias dessa revolução de três séculos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. REFERÊNCIAS

 

 

 

NUNES, R. A. C. História da Educação no Renascimento. São Paulo: EDUSP, 1980.

 

VICENTINO, C. História Geral. São Paulo: Scipione, 2000.