A educação no contexto de uma Pedagogia para a libertação
Por Irani Alves da Silva Ferreira | 21/11/2024 | EducaçãoA educação no contexto de uma Pedagogia para a libertação
Erliete da Silva Santos
Pedagoga - ICHS/CUR/UFMT
Mestra em Educação - PPGEDU/ICHS/CUR/UFMT
Irani Alves da Silva Ferreira
Pedagoga/UNIP
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Educação Infantil/FAVENI
(iranialvesferreira@hotmail.com)
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo compreender a função social da escola a partir de uma reflexão sobre a educação no contexto de uma pedagogia para a libertação, a partir do reconhecimento da valiosa história de vida do ilustre educador Paulo Freire e suas imensuráveis contribuições para a educação brasileira. Partimos, assim, da lógica de que a educação é um instrumento para a emancipação humana, e que esta [educação] não acontece somente no espaço escolar, mas na interação entre os sujeitos, suas culturas e seus espaços de convivência. Trata-se, portanto, de um estudo de cunho qualitativo, baseado na pesquisa bibliográfica e documental, na tentativa de responder à seguinte problemática: Num contexto de crise-evolução da educação, qual a postura do educador/formação frente aos desafios subjacentes à realidade de seus educandos no contexto escolar? A partir do diálogo de Paulo Freire, é possível se fazer uma educação democrática e para todos nesse contexto contemporâneo? As leituras e análise críticas partiram de autores como: Barreto (2004), Basílio (2017), Freire (1996), Freire (2006), Libâneo (1994), Mariani e Carvalho (2009), Nóvoa (1979), dentre outros que serviram de apoio para a compreensão da questão em estudo, os quais buscam descrever a função social da escola num cenário de contradições e enfrentamentos políticos e ideológicos, marcados pelo ideário neoliberal e capitalista, mas que também são refletidos na prática educativa. O estudo aponta que uma proposta de emancipação humana deve partir da elaboração e estruturação de uma pedagogia e de políticas públicas educacionais que atendam a cada um e a todos educandos e educadores, sendo respeitados na sua originalidade, constituída de múltiplas interferências – contextos sociais e culturas, relacionadas mutuamente na sociedade. A atividade educacional, cujo papel fundamental reside na mediação entre o senso comum e a consciência filosófica, tem a função de formar cidadãos ativos, críticos e criativos tendo em vista a emancipação humana e a transformação social. Com o estudo e as leituras mais aprofundadas, foi possível compreender que Paulo Freire deixou um grande legado para a educação brasileira e mesmo em demais países, propondo ao estudante assimilar e apropriar-se de atitudes, valores sociais, morais e políticos, emancipando-se frente à opressão.
Palavras-chave: Paulo Freire. Educação. Contribuição.
Introdução
A educação problematizadora respondendo à essência do ser da consciência, que é sua intencionalidade, nega os comunicados e existência a comunicação. Identifica-se com o próprio da consciência que é sempre ser consciência de, não apenas quando se intenciona a objetos, mas também quando se volta sobre si mesma, no que Jaspers chama de “cisão”. Cisão em que a consciência é consciência de consciência. (FREIRE, 2005, p. 77).
Discorrer sobre o processo educativo, ou melhor, sobre a educação não é uma atividade muito fácil, uma vez que esse processo é de natureza complexa e requer um estudo mais aprofundado de sua especificidade e de sua intencionalidade, dentro de uma perspectiva histórica social, econômica e cultural.
Requer, ainda, uma prática reflexiva sobre os seus fundamentos e origens, desde a Antiguidade até os dias atuais. Só assim, podemos buscar um conhecimento mais efetivo sobre o mesmo, pautado em leituras e tarefas que nos levem a conhecer e dialogar com a realidade na qual estamos inseridos e na qual atuamos teórica e praticamente.
Sabemos que as relações sociais não são unívocas, mas buscam expressar uma leitura do mundo que vai para além de aprendizagens teóricas, históricas e heurísticas. Essa educação é também alterada pelo homem ao que tange ao papel de educar. Então, numa doutrina materialista, Paulo Freire pressupôs idealmente uma escola em que preconizasse a leitura do homem, em suas produções de conhecimento, na formação de conceitos culturais, hipóteses e críticas, para que este pudesse libertar-se das atividades medidas exclusivamente pela teoria.
Estamos falando de Paulo Freire, nosso grande educador brasileiro, que trouxe à educação nacional uma atividade revolucionária, mediada por uma relação consciente e libertadora. Aborda uma proposta educativa de estudar e compreender a realidade a partir do cotidiano do sujeito, em que este passa a ser construtor de seu conhecimento, podendo atuar e transformar a realidade vigente.
Sua proposta de educação, aplicada aos jovens e adultos, inspirou os principais programas de Alfabetização e Educação Popular no início dos anos 60, deixando, assim, um legado teórico e prático como referência internacional na área da educação.
Proposta que está, fundamentada numa alfabetização conscientizadora, cujo objetivo primordial era a leitura do mundo precedida da leitura da palavra, ou seja, a reflexão sobre o conceito de limite tão utilizado na escola tradicional. Apontou ainda, que a escola não tem fronteiras, é a própria aprendizagem da vida.
Nessa perspectiva, Vera Barreto em seu livro “Paulo Freire para educadores”, nos aponta que:
São muitas as marcas do pensamento de Paulo Freire. Uma delas é ser um pensamento que nasce da prática. Paulo não pensava as ideias, mas pensava a própria vida. Assim, as experiências, surpresas, alegrias e tristezas do dia – a – dia foram as fontes do seu pensamento. (2004, p. 53).
Assim, o pensamento de Paulo Freire perpassa pela visão de ser humano e de mundo que, segundo ele, a pessoa humana deve ser vista num conjunto de relações, respondendo aos desafios do mundo em que vive e criando e recriando sua cultura, em busca de sua completude, sendo capaz de perceber o infinito e como sujeito de sua história, percebendo a consequência de sua ação sobre o mundo.
Diante disso, é possível compreender que a atividade educativa, seja ela nos mais variados âmbitos sociais assume a tarefa de formar cidadãos plenos no desenvolvimento de suas habilidades pessoais, interpessoais, sociais e profissionais, objetivando a sua inserção na vida pública e no mundo do trabalho, cujo processo é norteado pelos interesses de uma sociedade capitalista, por isso dominante.
Ainda assim, o ato de ensinar, reside na atividade de apreensão da razão de ser do objeto ou do conteúdo, implicando sua significação, tanto para o educando como para o professor.
Acreditando nessa premissa, é que baseamos esse nosso estudo a respeito desse grande pensador e educador, já que atuamos numa realidade concreta e complexa, que se transforma constantemente. Paulo Freire nos inspira e nos permite refletir sobre a nossa prática cotidiana, ao passo que sua proposta de educação objetiva a libertação humana.
Esse nosso artigo apresenta uma breve descrição de sua história de vida, sua trajetória no campo educacional e suas indiscutíveis e valiosas contribuições para a educação nos dias atuais, ao que tange à prática reflexiva.
Foram realizadas leituras de algumas de suas principais obras, como Pedagogia do Oprimido (2005), Pedagogia da Autonomia (1996), dentre outras leituras como Paulo Freire para educadores, de Vera Barreto (2004), Diálogo com Paulo Freire, de Carlos Alberto Torres Novoa (1979) e outras leituras complementares.
A contribuição da educação no processo de transformação da sociedade tem sido objeto de nossa preocupação, já que esta [educação] é fruto de uma realidade histórica e temporal, que está em constante movimento.
No entanto, é por meio dela que se projeta a formação dos cidadãos, sejam eles autônomos ou submissos. Essa formação perpassa não apenas no ambiente escolar propriamente dito, mas também nos mais variados contextos sociais, sendo ela constituída por meio das múltiplas interações entre os sujeitos que nela atuam. Contextos estes, formados por diversos grupos e que obedecem a objetivos de uma sociedade capitalista, por isso dominante, a qual enfrenta momentos de crise-evolução, em que até mesmo a própria sobrevivência é problema do dia-a-dia.
A preparação das gerações para a participação no mundo do trabalho e na vida pública requer a interferência de instituições como a escola, cujo atributo é atender e nortear o processo de socialização, caracterizado pelos objetivos políticos.
Nessa direção, a produção acadêmica de Paulo Freire é vasta, possuindo publicações do ano de 1959 ao ano de 2000, com diversas reedições, que nos direciona a pensar meios educacionais para atender o processo de socialização, caracterizados pelos objetivos políticos.
Assim, na elaboração deste artigo, detemo-nos basicamente na leitura dos livros Pedagogia do Oprimido (2005), Pedagogia da Autonomia (1996), de Paulo Freire e outras leituras, Barreto (2004), Carlos Alberto Torres Novoa (1979) as quais referenciam sua história enquanto pensador e educador, permitindo-nos perceber e relatar como acontece esse processo entre sociedade e educação e o modo como o educador percebe e compreende as relações entre saber e poder, escola e sociedade e o seu papel diante disso, no que tange ao cotidiano escolar, conceitos, valores e crenças que orientam suas ações, numa perspectiva de que, segundo o próprio autor, “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.” (2004, p. 99).
Partimos, então, da compreensão de que a escola é um espaço marcado por conflitos ideológicos, sociais, políticos, econômicos e culturais, da mesma forma que a sociedade da qual faz parte, ou seja, tornou-se um campo permanente de oposições e contradições evidenciadas entre as exigências das diferentes esferas da sociedade.
Dessa forma, a atividade educacional está determinada intimamente pela finalidade de satisfazer necessariamente o que todo ser humano tem de compreender, a um tempo, o que está sendo produzido, adquirindo sentido no processo. Isto nos torna possível obter um maior grau de consciência, de conhecimento e compreensão da realidade da qual somos parte e na qual atuamos teórica e praticamente.
A escola, espaço onde acontece essa prática educativa, tem um papel fundamental que é a socialização do saber sistematizado. Entretanto, precisam-se adquirir instrumentos que possibilitem o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber, a partir do qual se estrutura o currículo escolar. Para tanto, é necessário que se realize o planejamento das ações educativas que é:
Um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais; tudo o que acontece no meio escolar está atravessado por influências econômicas, políticas e culturais que caracterizam a sociedade de classes. Isso significa que os elementos do planejamento escolar – objetivos, conteúdos, métodos – estão recheados de implicações sociais, tem um significado genuinamente político. Por essa razão, o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções e ações (...) (LIBÂNEO, 1994, p. 222)
Isto nos faz compreender o vocábulo grego “Paidéia” que significa ao mesmo tempo Educar e Civilizar para integrar socialmente o ser humano. Nesse sentido, Paulo Freire coloca a educação como o primeiro passo que permite ao homem descobrir-se sujeito de todo o processo histórico, sendo a alfabetização o degrau para a etapa civilizatória.
Bem como, a linguagem como forma expressiva da cultura, ajudando o homem a tornar-se homem. Ainda nessa perspectiva, expõe a conscientização e o ato de conscientizar, pois não há êxito na economia sem alicerce de um povo que se educa para civilizar.
Paulo Freire, pensador comprometido com a vida, pensa a existência. Como educador, seu pensamento reside numa pedagogia da práxis humana – prática da liberdade, cujo método não deve ser para o oprimido, mas dele, tornando-o sujeito que se deve autoconfigurar responsavelmente.
E nesse sentido, não é possível compreender seu pensamento e contribuições para educação, sem conhecer sua história de vida, conforme nos aponta Vera Barreto em sua edição especial “Paulo Freire para educadores” (2004), que discorre sobre a história vida de Paulo Freire, do nascimento, infância, juventude, lembranças, vida profissional, postura política, exílio e suas contribuições para educação brasileira. Sobre o nome de Freire, Barreto (2004), expõe que:
“Reglus, foi invenção do meu pai. Não sei qual foi a influência latina que ele teve, quando foi me registrar. O fato é que Reglus deveria ser Re-gu-lus, mas o sujeito do cartório errou e escreveu Reglus. Comecei a ser conhecido como Paulo Freire desde a minha adolescência. O nome por extenso nunca pegou.” (p. 17).
Paulo Reglus Neves Freire, educador pernambucano, nasceu em 19/09/1921 na cidade de Recife e morreu no hospital Albert Einstein no dia 02 de maio do ano de 1997. Foi educado pela mãe, que o ensinou a escrever com pequenos galhos de árvore, embaixo de uma mangueira, no quintal da casa da família.
Aos dez anos de idade, a família mudou para cidade de Jaboatão. Freire fazia parte da classe média, mas vivenciou a pobreza e a fome, fator esse que o levou a se preocupar com os além de pobres, oprimidos. Essa preocupação o ajudou a construir sua proposta de alfabetização. O interesse pela educação e Língua Portuguesa começou na adolescência. Aos vinte e dois anos de idade, começou estudar direito na Faculdade de Direito de Recife. Casou-se com Elza Maia Costa, com quem teve cinco filhos.
Tornou-se um autor conceituado e respeitado no Brasil e em vários outros países ao colocar em prática sua experiência Pedagógica em Pernambuco, onde ensinou trezentos (300) adultos a ler e escrever em 45 dias, e essa proposta continuou ininterrupta até 1964.
Também reconhecido pelos seus livros e escritos sobre a educação, dizia que a escola deveria ensinar os educandos a “ler o mundo”. Com este pensamento criticou a forma tradicional de ensinar, dizendo que a mesma não estimula os educandos.
Pelo contrário, mata a curiosidade, o espírito investigativo, crítico e criativo dos educandos, no sentido de ser uma educação bancária e de respostas prontas para manter a ingenuidade, ao qual ao lado de outros fatores, pode explicar as fugas das leituras, tornando as puramente mecânicas, enquanto vagueiam para outras situações e terminam por não ter a compreensão da leitura e sim sua memorização.
Em 1964, foi acusado de pregar o comunismo. Por aceitar a coordenar o Programa Nacional de Alfabetização, teve sua proposta de ensino considerada pelos militares como uma ameaça à ordem, sendo detido pelo golpe militar que derrubou o governo do então Presidente João Goulart eleito democraticamente.
Sua postura de alfabetizar o adulto para que o mesmo possa conhecer a sua realidade para atuar e participar criticamente na sociedade política levou-o ao exílio por dezesseis anos no Chile e Suíça onde também produziu muitos conhecimentos para a Educação.
No Chile, atuou pela UNESCO na formulação do Plano de Educação em massa, em que publicou em espanhol, o Manual del Método Psicossocial para la Ensenanza de Adultos e “revisou e publicou o livro Educação como Prática da Liberdade”, objetivando mostrar que o oprimido deve assumir – se enquanto sujeito na construção do conhecimento, adquirindo condições de, através da reflexão, descobrir – se e conquistar – se como sujeito de sua própria destinação histórica, e a sua obra principal “Pedagogia do Oprimido”.
Segundo Barreto, (2004, p, 35), “Hoje, Pedagogia do Oprimido é obra clássica na educação e está traduzida em mais de trinta idiomas. ” Assim, direcionou sua vida profissional para a educação, porém, “contribuiu também para as artes, nas ciências e nas engenharias”, retornando para o Brasil no ano de 1979.
Barreto (2004, p. 30), cita que Freire foi “considerado um ‘subversivo internacional’, como um traidor de Cristo e do povo brasileiro”, durante o golpe militar e acarretou em sua prisão por 70 dias e 4 dias de interrogatório no Rio de Janeiro.
Na perspectiva de Barreto (2004), as ideias de Paulo Freire influenciam práticas educativas e práticas da liberdade em todas as partes do mundo.
É difícil saber até onde elas chegam e que práticas influenciam. Consideradas como obviedades por quem as formulou, elas alimentam grupos de revolucionários em El Salvador, jovens artistas no Japão, militantes negros nos Estados Unidos, sindicalistas na Itália, teólogos da libertação, professores nos mais variados contextos da terra e uma infinidade de trabalhos de educação popular, desenvolvidos por pessoas comprometidas com alguma forma de libertação. (BARRETO, 2004, p. 15)
É considerado um dos maiores e mais importantes educadores críticos do século XX. Freire mostra, através de suas obras, um caminho inovador para a educação, para a relação entre educador e educandos. De forma que todos sejam eleitos sujeitos do processo de construção do conhecimento, tendo como objetivo a transformação social e construção de uma sociedade igualitária, democrática e justa para todos.
O seu propósito de vida para educação é/era alfabetização e conscientização do povo para emancipação política. Por ter percebido como ninguém no contexto militar em que vivia “as desigualdades sociais”. Principalmente, observou que a educação, seria o meio de tirá-los da concepção de ingênuos e do sistema de alienação e ignorância em que viviam. Vislumbrou que a libertação, só ocorreria através do conhecimento.
Freire expôs que, para a libertação acontecer, seria necessário respeitar o contexto cultural e familiar dos estudantes, dando a eles a oportunidade de participar do processo de ensino aprendizagem, tendo voz ativa e avaliando realidades de ensino nos conteúdos trabalhados que tivessem relação direta com a realidade em que estavam inseridos.
Pregando um trabalho de autonomia para o sujeito governar a si mesmo, respeitar normas, leis e diretrizes, porém buscando caminhos para mudanças e transformações. Bem como, que o professor, no seu trabalho docente, construa e assuma sua própria identidade; pois o seu papel possui limites e possibilidades na realização da prática pedagógica e precisa ser / estar coerente com a realidade.
Nessa direção, Novoa, em seu livro “Um Diálogo com Paulo Freire” (1979), em entrevista com Paulo Freire, aborda sobre a práxis educativa e ideologia sobre educação, citando numa perspectiva “dialética e fenomenológica”, que para que ocorra uma superação e ação cultural libertadora dos oprimidos culturalmente
[...]. Basta diagnosticar cientificamente esse fenômeno para que se estabeleça a exigência da educação como ação cultural de caráter libertador, através da qual se pode propiciar a extrojeção da consciência dominadora que está “habitando” a consciência oprimida, a extrojeção da consciência opressora que nela habita. (p. 14).
Barreto (2004, p. 46-5), expõe que Freire, na gestão da Prefeita Luíza Erundina no Município de São Paulo, atuou como secretário de educação (1989). Seu projeto político pedagógico fomentou uma escola pública de caráter democrático, buscando ampliar a demanda, a qualidade de ensino, a alfabetização de jovens e adultos.
Aprovou, no seu período de atuação como secretário, o Estatuto do Magistério - documento este de grande importância para todos os profissionais de educação do Município de São Paulo, isto porque “Para ele, todos estavam em processo de educação, do bedel à faxineira, passando pelo professor”.
E, ainda, expõe que a base dos pensamentos de Paulo Freire nasce da relação, da completude e incompletudes do ser humano e de mundo. Pois, o ser humano é um ser capaz de transcender na percepção do infinito, de humanizar e desumanizar-se sendo, o sujeito da sua história no passado, presente e futuro.
E o sentido da educação está presente no fato de as pessoas serem incompletas e estarem em relação com o mundo, modificando-se na busca para completar-se na liberdade de opções por “valores, hábitos, atitudes e comportamentos desumanizantes”. Vão se completando na busca de serem mais.
Barreto (2004, p. 61), explica que para Paulo Freire, a educação é a teoria do conhecimento colocada em prática, é um ato de conhecimento, é uma política por não ser neutra, sendo, que ela contribui “para que as pessoas não se acomodem ao mundo em que vivem ou se envolvam na transformação dele.”
As contribuições à educação foram as suas obras, na maioria direcionadas a educação do campo e educação popular, para a conscientização política de jovens e adultos operários, utilizando a proposta da problematização (das perguntas), do diálogo através da pesquisa participante.
Nessa proposta de alfabetização, Paulo Freire parte do pressuposto de que o trabalho docente na prática educativa deve ser comprometido com o desenvolvimento, a formação e construção de consciências e personalidades críticas e democráticas. Em que a conscientização e alfabetização se relacionam por meio do diálogo e para o diálogo, embasada na pesquisa do modo de vida e vocabular do universo dos educandos.
A alfabetização enfatiza as relações entre o sujeito e objeto de conhecimento, colocando o sujeito como protagonista aberto para a sua cultura.
O nascimento da proposta metodológica de Paulo Freire conforme Barreto (2004, p. 85-115) nasceu nos anos de 1950 no final do governo Vargas. Criou corpo no contexto dos anos de 1960, em que Freire levou para o contexto de alfabetização, novidades como um epidiascópio para projetar imagens de desenhos e imagens de desenhos relativos às palavras geradoras do círculo de cultura dos sujeitos em estado de alfabetização.
Através dessa proposta, Paulo Freire descarta a educação bancária, em que o professor é um sectário, somente ele sabe e os educandos não sabem, ou seja, os educandos são depósitos e o professor o depositante, transferidor de valores e conhecimentos.
Tal proposta é apresentada em etapas de: investigação; tematização; e problematização; dividindo-se em palavras geradoras, silabação, palavras novas e a conscientização. A aplicação da mesma apresenta-se em cinco fases:
1ª Fase - Levantamento do universo vocabular: palavras geradoras do círculo cultural do educando e nunca de uma biblioteca;
2ª fase - Escolha das palavras selecionadas: material pesquisado, seleção de palavras a serem utilizadas conforme o tema, a riqueza fonética, dificuldades fonéticas e aspecto pragmático no trabalho de alfabetização;
3ª Fase - Criação de algumas situações características existenciais do grupo/contexto;
4ª Fase - Criação de fichas-roteiro para debates e indicações de possíveis subtemas ligados à palavra geradora;
5ª Fase - Criação de fichas de palavras correspondentes às palavras geradoras para decomposição e famílias fonéticas.
A partir das etapas e fases, o processo de alfabetização ocorre no Círculo de Cultura, com a apresentação das fichas com palavras pesquisadas e retiradas do contexto cultural dos educandos, de situações características a palavra geradora, apresentação da palavra na situação temática, na divisão em silabas, famílias silábicas que a compõem e apresentação da “ficha descoberta”, formada por um conjunto de sílabas a partir da palavra geradora para que o educando descubra o mecanismo de como se escreve juntando as silabas e formado a palavra geradora e outras derivadas.
Nessa perspectiva, Paulo Freire é sempre recriado, porque suas ideias propõem amor ao mundo e às pessoas, a humildade, a fé nas pessoas, a esperança para um pensar verdadeiro para um movimento de obter diálogo verdadeiro.
Na mesma direção, expõe que o trabalho docente e papel do professor é opção, criação, coerência, competência científica, ensinar e aprender, promover a disciplina intelectualmente enquanto situação de conhecimento, descobrir a alegria, pois o ato do ensino aprendizagem, do conhecer é difícil e exigente.
Isso porque, ele propõe nos seus livros, uma educação emancipatória, libertadora, progressista, problematizadora e participante no processo da construção dos saberes e fazeres do ensino aprendizagem. Traz à tona a necessidade de momentos para experiências e buscas para realização do trabalho docente enquanto prática pedagógica e ato de ensinar com consciência.
Enfim, explica que a escolha da profissão de professor no trabalho docente deve possuir as características do ouvir, do dialogar, do ensinar e aprender a pesquisar para que o sujeito receba uma formação crítica e passe a governar a si mesmo com autonomia.
Conclusão
Assim, podemos concluir que, pautada na interação social, a proposta metodológica de Paulo Freire tem um elo multidisciplinar com as mais diversas disciplinas e com enfoques que pluralizam a leitura do mundo, emitem novos significados aos jogos de linguagem, cerceando a busca de harmonia no reduto escolar, conexidade com representações de vida real, reciprocidade e harmonia ao lado de outras disciplinas que arrolam o processo ensino – aprendizagem.
Isto posto, sua proposta permite ao estudante assimilar, atitudes, valores sociais, morais e políticos. Nessa perspectiva de propor uma prática crítico – educativa, torna – se um importante instrumento de emancipação do homem frente à opressão, pois toma como objeto de estudo a realidade concreta, singular e peculiar de cada educando.
Portanto, compreendemos que desafiar o papel do ser humano para Paulo Freire é aprender a filosofar, é ser autônomo, consciente da ação transformadora no mundo. E o papel da educação é uma prática social, humanizadora de ser mais e melhor.
Pode-se dizer que a educação se torna uma proposta mediadora para a finalidade do desafio de problematizar o ensino aprendizagem para formação da tomada de consciência do sujeito para opção política de libertar-se das opressões subjetivas, culturais, políticas e econômicas posta pelo contexto do mundo contemporâneo neoliberal e globalizado, que se transforma o conhecimento em informação.
Referências
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 2004.
BASÌLIO, Ana Luiza. Paulo Freie em seu devido lugar. Disponível em: http://educacaointegral.org.br/reportagens/paulo-freire-em-seu-devido-lugar/?utm_source=Google&utm_medium=Adwords&utm_campaign=AdwordsGrants&gclid=Cj0KEQjwl. Acesso em: 19/04/2017.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.
LIBÂNEO, José Carlos. O planejamento escolar. IN: ___. Didática. São Paulo: Cortez, 1994, p. 221 – 247.
MARIANI, Fábio; CARVALHO, Ademar de Lima. A formação de professores na perspectiva da educação emancipadora de Paulo Freire. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2625_1294.pdf. Acesso em: 19/04/2017.
NOVOA, Carlos Alberto Torres. Diálogo com Paulo Freire. São Paulo: Loyola, 1979.