Gosto dos verbos no gerúndio. Exatamente porque eles não me deixam esquecer nunca, da dinamicidade existente nos processos de formação do humano. Quando escritos ou ditos no gerúndio, eles, os verbos, não me permitem olvidar de que o “mundo não é, ele está sendo”, como pensou Paulo Freire, Patrono da Educação brasileira. E se ele está sendo, é possível a mudança e a transformação no curso da história, pois nada está pronto, terminado (com exceção do que ficou no passado), dado, e o mais importante: determinado. Porque a vida é sempre um vir a ser.

“É cultural, é deles mesmo, já é assim há tempos, não vai mudar”, “essa Escola é difícil, problemática”, “esses alunos e alunas não têm jeito”, disparam muitos(as) que vivem a docência e suas muitas problemáticas no Brasil. Mas, é exatamente porque é cultural, que é provisório. Não definido, determinado. Cultura é dinamicidade e provisoriedade, porque é produto dos homens e das mulheres na história. História que a fazem e nela também se fazem, vão se fazendo, num eterno contínuo. Tem sido, está sendo, acontecendo, no gerúndio, daí a possibilidade de as coisas se darem de outras formas e jeitos.

“A escola tem sido problemática”. Sendo possível outra, outras, se a experiência da escola reinventarmos lúcida, crítica, corajosa e ousadamente. Se tivermos a coragem de repensando-a, refazê-la, redizê-la, e neste processo irmos modificando-nos também, porque o amanhã é, nas palavras de Paulo Freire um eterno quefazer. “Esses alunos/as têm dado muito trabalho”. Estão dando, mas podem ser diferentes, distintos do que têm sido historicamente. Criticamente podemos nos perguntar: por que têm sido assim e de que forma o contexto social e a estrutura da própria escola contribui para seu mau funcionamento?

Essa ideia que o gerúndio nos passa, principalmente em nosso português brasileiro – visto que no de Portugal, o gerúndio quase não aparece na fala e na escrita de seu povo – encanta-me. Seduz-me porque ratifica a constatada filosofia de Paulo Freire: a de que o mundo é sempre um qufazer, um por vir, sem determinismos a priori; e aqui não esquecemos ou negamos os condicionamentos sociais, mas, rejeitamos inteira e completamente a ideia de determinismo, determinismos de qualquer natureza, que matam e anulam a própria história.

Isto porque a desproblematização do futuro, “numa compreensão mecanicista da história, de direita ou de esquerda, leva necessariamente à morte ou à negação autoritária do sonho, da utopia, da esperança”. Portanto, necessário se faz não esquecermos que “o futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo” (FREIRE, 2016: 65).

É por ser movimento contínuo, ação ainda não concluída, como no gerúndio, é que a esperança na educação como prática unicamente humana, e como prática para a liberdade se faz sempre renovada, e a crença de que mudar é possível sempre viva. Freire nos relembra (2014: 107): “não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo”.

O gerúndio do verbo construir é construindo. Reparem, INDO. Ir, movimento, ação não concluída. Daí o hoje e o amanhã serem sempre possibilidades, porque o hoje ainda não se foi, e o amanhã não chegou a ser, mas, encontra-se sendo. E é neste processo do ir sendo, ir fazendo, ir mudando e transformando que nós homens e mulheres comprometidos com a educação brasileira podemos ir propondo outras formas de ser e fazer Escola, seja ela de que nível for, da creche à pós-graduação. Outras formas de experienciar a educação e a docência, e neste ato crítico, bondoso e solidário irmos nos fazendo nela e com ela, até que um dia a nossa única realidade seja: “Brasil, pátria educadora”.

YAGO FELIPE CAMPELO