A dor de não ser o que se é

 

 

No vai e vem da vida, cada um acaba pegando o que pode e como pode.  Essa rotina gera monotonia e desânimo. Um exemplo: Queria fazer medicina, não tenho como concorrer ou pagar, faço pedagogia…., A sensação de não ser o que é causa tristeza, desmotivação e sofrimento. A não realização provoca não apenas sentimento de incapacidade e de derrota, mas gera uma ferida que corrói e se arrasta na amargura e na murmuração de tempos infinitos. Essa dor da insatisfação é a dor da alma, a dor que não se consome. A pessoa pode viver sem se dar conta ou fugindo do próprio sentido de existir, pode até sobreviver, arrastando-se pelas diversas gratificações que a vida oferece. O mundo das compensações tem esse objetivo de alienar as consciências, trocando a felicidade por conquistas. Alguém pode se refugiar nas drogas, no álcool, na religião ou qualquer outro fator, mas isso não elimina o núcleo essencial da pessoa que se sentir o que se é. O pior do sofrimento é não poder falar. Você é ceceado pelo seu próprio ego. A vergonha e o medo de ser um falido e não ter lutado ou buscado que de fato poderia trazer a felicidade. Abraça-se o que se acha. Cadê a coragem de jogar tudo para o alto e sair na procura, ainda que errante da realização de si.  Contentamo-nos com as possibilidades que a vida oferece e buscamos corresponder aos anseios que os outros esperam de nós. Isso é vida?  Esquecemos dos ideais e dos sonhos, a vida transcorre em pagar as contas, corresponder às expectativas, fazer algum tipo de mimo para si, quiçá umas férias ou comprar um objeto novo e tudo se resume numa relação de submissão ao mundo no qual estamos inseridos. Não estou perscrutando uma anarquia, que para ser feliz precisa ser fora dos padrões ou desobedecer aos cânones, mas que a autonomia nossa é submetida, na grande maioria das vezes, à conveniência de nossa caminhada. Não é lamentação ou choro de poeta, muito menos uma declaração fortuita da própria frustração, não se trata disso, trata-se do silêncio imposto à existência pela vontade de viver.  A existência é complexa e complicada e como não se sabe por onde encaminha-la, vamos conduzindo por onde se abrem brechas e oportunidades. Nessa trajetória muitos acabam trocando ou esquecendo o que seja ser realizado ou ser feliz. Essa palavra é quase uma pornografia, um luxo, vive-se mais para satisfazer a fome de viver e as opiniões alheias do que para ser a si mesmo. Entra ai outros fatores, tais como a lei de mercado, as exigências sociais e a intolerância.  A pessoa precisa está sempre na busca de corresponder o que tem de demanda no mundo familiar, cultural e trabalhista do seu ambiente; tem as conveniências sociais que elaboram padrões e que, de algum modo, exigem uma correspondência e uma adequação para que se possa se inserir no mundo a que se prestam. E ainda a intolerância, que não respeita o modo, o método e nem o tempo das pessoas, quase forçando a entrar numa lógica, que tantas vezes perversa e ambiciosa, não leva em conta as condições e nem as particularidades das pessoas. O maior inimigo da felicidade é o resultado. Vive-se, trabalha-se, mata-se para obter resultados. Não se tem tempo e nem espaço para viver, apenas para se correr e correr. E vai se parar onde? Muitos não querem pensar nisso, e preferem viver superficialmente ou banalmente, pois o medo de se perceber como um nada e que tudo caminha ao nada é aterrorizante. Entretanto, somente quem tem a coragem de mergulhar no próprio nada pode encontrar o princípio de ser o que deve ser.   

Por. Pe. Jorge Ribeiro
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