PERGUNTA: Eu sou uma pessoa de oração, vou a missa aos domingos, dobro meus joelhos, entretanto parece que Deus não me ouve, continuo cheio de problemas, e a benção nunca vem. Além disso, sou constantemente assolado por doenças. Será que a doença é vontade de Deus? Devo ser um mártir?

RESPOSTA: Em primeiro lugar devemos deixar claro que Deus não criou o sofrimento. O sofrimento em todas as suas formas, enfermidades, problemas, morte etc., é conseqüência do pecado e é comum a todos os homens, uns em maior escala, outros em menor escala (como medir?). O fato é que todos sofremos.

São Basílio Magno (330-379) nos deixou vários escritos que mostram as razões porque Deus permite o sofrimento em nossas vidas:

Para a nossa correção e disciplina – Se tomarmos o texto de Hebreus 12(4-13), veremos o sentido do sofrimento, nesse item proposto por São Basílio.

Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado. Estais esquecidos da palavra de animação que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes quando repreendido por Ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho. (Prov 3,11s). Estais sendo provados para a vossa correção; é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho ao qual seu pai não corrige? Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos. Aliás, temos na terra nossos pais que nos corrigem, e no entanto os olhamos com respeito. Com quanto mais razão nos havemos de submeter ao Pai de nossas almas, o qual nos dará a vida? Os primeiros nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria conveniência, ao passo que este o faz para nosso bem, para nos comunicar sua santidade. É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e paz. Levantai pois, vossas mãos fatigadas e vossos joelhos trêmulos. (Is. 35,3). Dirigi os vossos passos pelo caminho certo. Os que claudicam tornem ao bom caminho e não se desviem.”

Como está escrito no versículo 13, nós não entendemos, durante o tempo de provação, que é por amor que Deus permite o sofrimento, que Ele nos corrige porque um filho sem correção é potencialmente um perigo para a sociedade e para si mesmo. Muitos de nós recebemos de nossos pais uma boa educação formal, alguns até, uma educação em escolas caras, com tudo o que o dinheiro pode comprar, mas somos mal educados para a vida, porque na nossa educação não foi inserida a necessária correção, naqueles momentos em que erramos, em que não fomos responsáveis, enfim, nos momentos que falhamos. Um pai que ama, não encobre os erros de seus filhos, mas os corrige, às vezes até severamente, para a sua própria felicidade, para o seu próprio bem. E como dói, corrigir a quem se ama. Não há prazer para ambas as partes no momento da correção, mas o bom pai sabe que o futuro será de bênçãos para o filho bem educado.

No Salmo 118 vs. 67 “Antes de ser afligido pela provação, errei; mas agora guardo a Vossa Palavra”.

No versículo 71 “Foi bom para mim ser afligido, afim de aprender vossos decretos”.

Muitas vezes, como diz o salmista, é no sofrimento que nos aproximamos de Deus. Algumas pessoas em nosso Grupo de Oração nos procuram dizendo que há muito tempo estão rezando por uma graça e ela não acontece; conversando com essa pessoa, verificamos que durante esse tempo, o marido se converteu, os filhos passaram a freqüentar a igreja, e muitas outras coisas mais. Aí, a pessoa se convence de quantas graças ela já se beneficiou, durante esse tempo de provação e, que a sua própria fé está sendo fortalecida.

Quantos erros cometemos que só nos damos conta quando vem o sofrimento: uma doença venérea nos faz ver nossa lascívia; a fama de fofoqueiro nos faz ver o pecado da língua; o colesterol em excesso nos mostra o pecado da gula e assim por diante. O sofrimento para o sábio, é motivo de conversão.

Punição pelos nossos pecados: Em Romanos 6,23 está escrito “O salário do pecado é a morte”. Não é Deus que nos pune. O pecado é autopunitivo. Em vários trechos da Palavra de Deus, vemos a relação entre enfermidades e pecado, entre o perdão e a cura.

Salmo 40,5 “Quanto a mim, eu vos digo: piedade para mim Senhor; sarai-me porque pequei contra Vós.”

Salmo 102,3 “É Ele quem perdoa as suas faltas, e sara suas enfermidades”.

Salmo 106,17 “Outros, enfermos por causa de seu mau proceder, eram feridos por causa de seus pecados”.

Is. 33,24 “ninguém mais (em Jerusalém) se dirá doente: o povo dessa cidade terá seus pecados perdoados”.

Em nosso ministério de rezar pelos enfermos e, mesmo durante a nossa atuação em hospitais como voluntários da pastoral da saúde, presenciamos inúmeras curas após uma boa confissão; enfermos à beira da morte, milagrosamente curados após receber a Unção dos Enfermos; depressões crônicas que desaparecem depois que a pessoa perdoa as ofensas recebidas e pede perdão pelo pecado do ódio.

Em Romanos 2,9 está escrito “Tribulação e angústia sobrevirão a todo aquele que pratica o mal”.

Popularmente se diz:  - Tenho a consciência tranqüila, encosto a cabeça no meu travesseiro e durmo – pois muitas vezes a insônia, enxaqueca, gastrite,  úlcera etc. é conseqüência de pecados não confessados, de consciência pesada.

Em Eclo 38,9-12 está escrito “Meu filho, estás doente? Ora a Deus pedindo para Ele te curar; afasta-te do pecado e dá lugar ao médico”.

Se buscamos o recurso da medicina e não cuidamos da saúde do nosso espírito, afastando-nos do pecado, o nosso dinheiro será gasto em vão; da mesma forma, se pedimos a Deus a cura mas continuamos no pecado, a nossa prece será em vão; portanto, devemos rezar, pedir perdão a Deus e procurar o médico.

Como fruto de nossa negligência: Essa é outra razão do sofrimento. Nossas falhas, conseqüência do nosso descuido.

Quem se dá ao vício das drogas, do álcool, do fumo, não pode culpar a Deus pela degradação do cérebro, por uma cirrose hepática ou por um câncer de pulmão. Se estamos enfermos e não buscamos o médico, se somos medicados e não tomamos o medicamento, não cumprimos a dieta, não fazemos a fisioterapia, estamos sendo negligentes. Nosso corpo deve ser cuidado; ele é templo do Espírito Santo.

Somos livres, e o mal não é criação de Deus, mas conseqüência do pecado cometido livremente por nós e pelos nossos antepassados. Muitos males que hoje sofremos são resultado dos desatinos de nossos pais, avós etc.; Uma sífilis contraída por meu avô, traz sofrimento para a minha saúde hoje.

Uma cidade sem saneamento básico, sem rede de esgotos, com os mananciais poluídos, terá uma população enferma e, esse ônus não pode ser debitado a Deus.

As escolhas erradas que fazemos durante a nossa vida, são sempre causa de sofrimento; o casamento com aquele rapaz que todos diziam ser um problema, contra a vontade dos pais e amigos, terá uma grande probabilidade de não dar certo e, será causa de sofrimento.

Enviado por Satanás: O inimigo de Deus e dos homens, se alimenta de nossos traumas e feridas, causando doenças e sofrimentos que podem ser curados com uma oração de libertação, oração de cura interior ou com o exorcismo oficial da Igreja.

O inimigo se aproveita das brechas que deixamos em nossa vida espiritual, para nos atormentar. Essas brechas são consagrações em rituais que Deus abomina, idolatria, espiritismo, magia, religiões orientais reencarnacionistas etc.

Renunciando a tudo isso em nome de Jesus, muitas curas e libertações acontecem imediatamente.

No entanto, por permissão especial de Deus, muitos de seus servos sofreram ataques demoníacos, como São Paulo, São João Maria Vianey, Dom Bosco e mais recentemente São Padre Pio de Pietrelcina, para que eles crescessem em santidade e para que aprendessem, sentindo na pele as atrocidades do inimigo, afim de poderem ajudar mais os seus semelhantes.

Para servir de exemplo ao fraco na fé: Nós nos lembramos como se fosse hoje, o exemplo de Tia Laura, grande serva de Deus atuante no início da Renovação Carismática no Brasil. Tia Laura tinha reconhecidamente o dom de cura e milagres; quantos não foram curados até por uma oração feita por telefone por essa querida serva; no entanto, aquela que obtivera de Deus a cura para tantos cancerosos, um dia foi acometida do mesmo mal. Quis o Senhor, que Tia Laura padecesse anos a fio dessa doença, sem perder a fé, sem uma palavra de desespero, sem uma única blasfêmia, continuando a atuar em seu lindo ministério e conseguindo curas ainda mais espetaculares, oferecendo seu sofrimento pelos pecados de tantos ingratos que não conseguiam ver as bênçãos sendo derramadas. Tia Laura morreu em conseqüência daquele câncer, sendo até hoje, exemplo para todos que tomam conhecimento de seu martírio e principalmente para os que tiveram o privilegio de viver aqueles dias.

Prevenção contra o orgulho: Na 2Cor 12, 7-8, São Paulo nos diz: “Para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade”.

Se São Paulo não conhecesse o sofrimento, ele que era um romano orgulhoso, da casta dos fariseus, agraciado por Jesus de todos os dons e carismas, seria  uma pessoa insuportável (ele mesmo o diz, com outras palavras). O sofrimento em Paulo, tem esse caráter preventivo.

Quantas pessoas conhecemos com comprovado dom de cura, mas, com uma determinada pessoa querida nada acontece quando ora; quantos servos fiéis não têm problemas com os filhos que parecem sem solução. Muitas dessas provações são espinhos na carne, afim de permanecermos humildes, dando glórias Àquele que é o único digno de glórias, inclusive pelos nossos sofrimentos.

Para louvar a Deus: Muitas vezes Deus usa as enfermidades para nos atrair junto a Ele. Quantas pessoas por causa de uma enfermidade, do desemprego, de dívidas, de desencantos, descobrem um grupo de oração, uma comunidade onde têm um encontro pessoal com Jesus.

Há um ditado popular que diz: - Quer saber quantos amigos  você tem? Dê uma festa! Quer saber com quantos amigos você pode contar? Fique doente! –

No sofrimento descobrimos os verdadeiros amigos, aqueles que estarão conosco em qualquer circunstância... e esse é um grande motivo para louvar a Deus.

Na doença podemos louvar a Deus pela inteligência humana no campo da medicina, da farmacêutica, do diagnóstico. Louvar a Deus pelos médicos, medicamentos, enfermeiros, dentistas, psicanalistas e por todos os que se preocupam com o sofrimento humano.

No sofrimento louvamos a Deus pelos sacerdotes que nos trazem o Seu perdão, pelos irmãos na fé que nos mantêm firmes na esperança. No sofrimento louvamos a Deus pela paciência daqueles que estão a nossa volta. O nosso sofrimento serve enfim, para a celebração do louvor e da glória de Deus

O sofrimento longe de Deus é insuportável. O sofrimento junto a Deus tem para nós peso de eternidade!