A DOCÊNCIA NO UNIVERSO HOSPITALAR: O PROFESSOR EM UM NOVO CONTEXTO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

RESUMO 

O estudo refere-se à atuação pedagógica nas classes hospitalares, com o objetivo de esclarecer e relatar, através da vivência dos professores, o modo de funcionamento da escola em um novo contexto de ensino-aprendizagem, procurando compreender as características e a eficácia da escolarização de crianças e adolescentes hospitalizados. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso com dados coletados a partir de uma entrevista estruturada direcionado às professoras atuante da Classe Hospitalar “Canto do Encanto”, no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória em Vitória/ ES. Informações pertinentes coletadas possibilitaram analisar o entendimento dos participantes sobre o método estudado. Abre-se com este estudo, a possibilidade de contribuir com novos subsídios para as discussões em relação aos saberes e práticas relacionadas à temática das classes hospitalares, como também provocar debates no poder público da necessidade de criação e ampliação desses espaços. Portanto, não é um estudo de conclusão definitiva, visto que, a situação de escolarização e de adoecimento está presente a todo tempo em nossas vidas.

OBJETIVO GERAL: Compreender as particularidades das práticas pedagógicas dos professores que atuam nas classes hospitalares. 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Descrever o surgimento da classe Hospitalar; 2. Relatar sobre o Aluno hospitalizado; 3. Mostrar como são as dinâmicas de funcionamento da classe hospitalar “Canto do Encanto”.

  1. INTRODUÇÃO 

A finalidade da educação é humanizar o homem, torná-lo capaz de exercer com cidadania seus direitos e deveres. Essa ação de humanizar já não acontece só nas escolas, estendeu-se a outros locais onde existem pessoas, homens, mulheres, crianças e jovens que por algum motivo são impossibilitados de frequentar uma escola regular.

Hoje, a figura do educador se tornou necessária em outros espaços senão a escola, sendo assim, já não é mais novidade encontrarmos um profissional da educação em um hospital, visto que, as classes hospitalares foram implantadas no Brasil a partir do século XX.

É inegável que a preocupação da implantação das classes hospitalares originou-se a partir do interesse da sociedade para com a educação das crianças e adolescentes com necessidades especiais.

Barros (1999) relata que nos termos da política da educação especial, da política de inclusão ou da política de atenção à diversidade do Ministério da Educação, crianças e adolescentes hospitalizados são portadores de necessidades especiais.

Com a proposta de uma “Educação para todos”, alunos com necessidades educacionais especiais passaram a frequentar o ensino regular e isto vem provocando dúvidas, incerteza e desestabilizando o professor que, ao se deparar com o outro "diferente", se vê diante de suas limitações pessoais e profissionais, levando-o, muitas vezes, a demonstrar atitudes de não aceitação deste educando.

A Resolução de 11 de setembro de 2001, precisamente em seu artigo 13, incisos 1º, estabelece que as classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da educação básica, contribuindo para o seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional, facilitando seu posterior acesso à escola regular.

As estratégias e orientações do Ministério da Educação e Cultura corroboram com esta indicação sequencial quando afirmam que:

O atendimento educacional hospitalar e o pedagogo domiciliar devem estar vinculados aos sistemas de educação como uma unidade de trabalho pedagógico das Secretarias Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de Educação, como também as direções clínicas dos sistemas e serviços de saúde em que se localizam. (MEC, 2002, p. 15).

Ainda conforme o MEC (2002) denomina-se Classe Hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambiente de tratamento de saúde, seja na circunstancia de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstancia do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental.

A pesquisa tem como objetivo: Compreender as particularidades das práticas pedagógicas dos professores que atuam nas classes hospitalares. Descrevendo o surgimento das classes hospitalares; Relatando o funcionamento da Parte Hospitalar “Canto do Encanto”; e Analisando a importância do professor na mediação das atividades pedagógicas.

A razão para a escolha deste tema se justifica ao desejo de se conhecer novas experiências do docente além dos muros escolares (fora da sala de aula), e por se tratar de um assunto novo.

 

Espaço em que o Pedagogo e Professor devam atuar de forma a transformar o ambiente hospitalar em experiências significativas na vida das crianças e dos adolescentes, já que estes abandonam sua vida normal para se adaptar a outra, por se encontrarem doentes.

 

Entretanto, o interesse em estudar a classe hospitalar se justifica, por um lado, pela possibilidade de contribuir junto à discussão de uma temática que carece visivelmente de estudos e intervenções e, consequentemente, para ratificar e multiplicar a modalidade de atendimento educacional dirigido às crianças e adolescentes.

 

É importante sabermos que a educação não se faz só na escola, ela pode acontecer em qualquer outro espaço: “Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais”. (FREIRE, 2006).

A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa é a bibliográfica por ser aquela realizada em livros, revistas e artigos da internet. Reporta-se a autores como Fonseca (2008), Barros (1999), Truguilho (2003), e Fontes (2005) para fundamentar teoricamente esta análise.

A atuação do professor deve, nesse sentido, contribuir para a promoção de saúde e melhor retorno da criança e do adolescente aos estudos interrompidos. É possível promover os processos de ensino-aprendizagem, mesmo em situação de enfermidade e de distancia física da escola regular.

Assim surge a seguinte indagação: Quais as particularidades do trabalho do professor no universo hospitalar? 

  1. SURGIMENTO DA CLASSE HOSPITALAR

A classe hospitalar surgiu em 1935, graças a Henri Sellier que inaugurou a primeira escola para crianças tuberculosas, nos arredores de Paris. Seu exemplo foi seguido na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas.

Segundo Esteves (2005), pode se considerar como marco decisório a Segunda Guerra Mundial, cujo acontecimento foi o principal ponto de partida para a criação das escolas em hospitais, devido ao alto índice de crianças e adolescentes mutilados, atingidos de alguma forma, levando-os a se ausentarem da escola.

O cargo de professor hospitalar foi criado em 1939 junto ao Ministério da Educação na França. O Centro Nacional de Estudos e de Formação para a infância tem como objetivo a formação de professores para trabalho em institutos especiais e em hospitais e como proposta mostrar que a escola não é um espaço fechado. O centro promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas, os médicos de saúde escolar e a assistentes sociais.

O Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Especial elaborou o documento chamado “Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e orientações”, com o objetivo de organizar ações políticas para a estruturação de atendimento pedagógico-educacional em ambiente hospitalar.

A implantação da Classe Hospitalar aconteceu de forma lenta e mesmo hoje em pleno século XXI, existem vários Estados brasileiros que não dispõe desse atendimento.

De acordo com o projeto de lei 4191/2004 que dispõe sobre a obrigatoriedade de oferta de atendimento educacional hospitalar e domiciliar para crianças e jovens, em junho de 2004.

Foi registrado pelo MEC apenas treze unidades federadas com atendimento educacional pedagógico nos hospitais, na Bahia, Acre, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

A Secretaria de Educação Especial do MEC denominou Classe Hospitalar como uma das modalidades de atendimento especial, definindo-a como: “Ambiente Hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados, que necessitam de educação especial ou que estejam em tratamento”. (MEC, 2002).

Fonseca (2008), completa esta definição:

É reconhecido pela legislação brasileira o direito à continuidade de escolarização aquelas crianças e adolescentes que se encontrem hospitalizado. Esta modalidade de atendimento denomina-se classe hospitalar e objetiva atender pedagógico-educacionalmente às necessidades do desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que, dadas as suas condições especiais de saúde, encontram-se impossibilitados de partilhar experiências sócias intelectivas de sua família, de sua escola e de seu grupo social. 

Ainda de acordo com Fonseca (2008) o atendimento escolar no ambiente hospitalar não é uma modalidade de ensino recente. No início do século XX, com fortalecimento das áreas de pediatria e de psicologia decorrentes, dentre outros estudos, daqueles voltados especificamente para o atendimento da infância, a criança passou a ser vista e tratada como uma pessoa com características, interesses e necessidades próprias, ou seja, um indivíduo com peculiaridades.

2.1  O PROFESSOR DA CLASSE HOSPITALAR

De acordo com Libâneo (1998)

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