Marina Martins Ferreira¹

RESUMO

O estudo refere-se à atuação pedagógica nas classes hospitalares, com o objetivo de esclarecer e relatar, através da vivência dos professores, o modo de funcionamento da escola em um novo contexto de ensino-aprendizagem, procurando compreender as características e a eficácia da escolarização de crianças e adolescentes hospitalizados. Para tanto, foi realizada uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso com dados coletados a partir de uma entrevista estruturada direcionado às professoras atuante da Classe Hospitalar “Canto do Encanto”, no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória em Vitória/ ES. Informações pertinentes coletadas possibilitaram analisar o entendimento dos participantes sobre o método estudado. Abre-se com este estudo, a possibilidade de contribuir com novos subsídios para as discussões em relação aos saberes e práticas relacionadas à temática das classes hospitalares, como também provocar debates no poder público da necessidade de criação e ampliação desses espaços. Portanto, não é um estudo de conclusão definitiva, visto que, a situação de escolarização e de adoecimento está presente a todo tempo em nossas vidas.

Palavras chave: Espaço não escolar. Educação Hospitalar: Método de ensino. Escolarização.

OBJETIVO GERAL: Compreender as particularidades das práticas pedagógicas dos professores que atuam nas classes hospitalares.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Descrever o surgimento da classe Hospitalar; 2. Relatar sobre o Aluno hospitalizado; 3. Mostrar como são as dinâmicas de funcionamento da classe hospitalar “Canto do Encanto”.

  1. INTRODUÇÃO

A finalidade da educação é humanizar o homem, torná-lo capaz de exercer com cidadania seus direitos e deveres. Essa ação de humanizar já não acontece só nas escolas, estendeu-se a outros locais onde existem pessoas, homens, mulheres, crianças e jovens que por algum motivo são impossibilitados de frequentar uma escola regular.

Hoje, a figura do educador se tornou necessária em outros espaços senão a escola, sendo assim, já não é mais novidade encontrarmos um profissional da educação em um hospital, visto que, as classes hospitalares foram implantadas no Brasil a partir do século XX.

É inegável que a preocupação da implantação das classes hospitalares originou-se a partir do interesse da sociedade para com a educação das crianças e adolescentes com necessidades especiais.

Barros (1999) relata que nos termos da política da educação especial, da política de inclusão ou da política de atenção à diversidade do Ministério da Educação, crianças e adolescentes hospitalizados são portadores de necessidades especiais.

Com a proposta de uma “Educação para todos”, alunos com necessidades educacionais especiais passaram a frequentar o ensino regular e isto vem provocando dúvidas, incerteza e desestabilizando o professor que, ao se deparar com o outro "diferente", se vê diante de suas limitações pessoais e profissionais, levando-o, muitas vezes, a demonstrar atitudes de não aceitação deste educando.

A Resolução de 11 de setembro de 2001, precisamente em seu artigo 13, incisos 1º, estabelece que as classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da educação básica, contribuindo para o seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional, facilitando seu posterior acesso à escola regular.

As estratégias e orientações do Ministério da Educação e Cultura corroboram com esta indicação sequencial quando afirmam que:

O atendimento educacional hospitalar e o pedagogo domiciliar devem estar vinculados aos sistemas de educação como uma unidade de trabalho pedagógico das Secretarias Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de Educação, como também as direções clínicas dos sistemas e serviços de saúde em que se localizam. (MEC, 2002, p. 15).

Ainda conforme o MEC (2002) denomina-se Classe Hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambiente de tratamento de saúde, seja na circunstancia de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstancia do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental.

A pesquisa tem como objetivo: Compreender as particularidades das práticas pedagógicas dos professores que atuam nas classes hospitalares. Descrevendo o surgimento das classes hospitalares; Relatando o funcionamento da Parte Hospitalar “Canto do Encanto”; e Analisando a importância do professor na mediação das atividades pedagógicas.

A razão para a escolha deste tema se justifica ao desejo de se conhecer novas experiências do docente além dos muros escolares (fora da sala de aula), e por se tratar de um assunto novo.

Espaço em que o Pedagogo e Professor devam atuar de forma a transformar o ambiente hospitalar em experiências significativas na vida das crianças e dos adolescentes, já que estes abandonam sua vida normal para se adaptar a outra, por se encontrarem doentes.

Entretanto, o interesse em estudar a classe hospitalar se justifica, por um lado, pela possibilidade de contribuir junto à discussão de uma temática que carece visivelmente de estudos e intervenções e, consequentemente, para ratificar e multiplicar a modalidade de atendimento educacional dirigido às crianças e adolescentes.

É importante sabermos que a educação não se faz só na escola, ela pode acontecer em qualquer outro espaço: “Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais”. (FREIRE, 2006, p. 15).

A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa é a bibliográfica por ser aquela realizada em livros, revistas e artigos da internet. Reporta-se a autores como Fonseca (2008), Barros (1999), Trugilho (2001), e Fontes (2005) para fundamentar teoricamente esta análise.

A atuação do professor deve, nesse sentido, contribuir para a promoção de saúde e melhor retorno da criança e do adolescente aos estudos interrompidos. É possível promover os processos de ensino-aprendizagem, mesmo em situação de enfermidade e de distancia física da escola regular.

Assim surge a seguinte indagação: Quais as particularidades do trabalho do professor no universo hospitalar?

  1. SURGIMENTO DA CLASSE HOSPITALAR

A classe hospitalar surgiu em 1935, graças a Henri Sellier que inaugurou a primeira escola para crianças tuberculosas, nos arredores de Paris. Seu exemplo foi seguido na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas.

Segundo Esteves (2005), pode se considerar como marco decisório a Segunda Guerra Mundial, cujo acontecimento foi o principal ponto de partida para a criação das escolas em hospitais, devido ao alto índice de crianças e adolescentes mutilados, atingidos de alguma forma, levando-os a se ausentarem da escola.

O cargo de professor hospitalar foi criado em 1939 junto ao Ministério da Educação na França. O Centro Nacional de Estudos e de Formação para a infância tem como objetivo a formação de professores para trabalho em institutos especiais e em hospitais e como proposta mostrar que a escola não é um espaço fechado. O centro promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas, os médicos de saúde escolar e a assistentes sociais.

O Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Especial elaborou o documento chamado “Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégias e orientações”, com o objetivo de organizar ações políticas para a estruturação de atendimento pedagógico-educacional em ambiente hospitalar.

A implantação da Classe Hospitalar aconteceu de forma lenta e mesmo hoje em pleno século XXI, existem vários Estados brasileiros que não dispõe desse atendimento.

De acordo com o projeto de lei 4191/2004 que dispõe sobre a obrigatoriedade de oferta de atendimento educacional hospitalar e domiciliar para crianças e jovens, em junho de 2004.

Foi registrado pelo MEC apenas treze unidades federadas com atendimento educacional pedagógico nos hospitais, na Bahia, Acre, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

A Secretaria de Educação Especial do MEC denominou Classe Hospitalar como uma das modalidades de atendimento especial, definindo-a como: “Ambiente Hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados, que necessitam de educação especial ou que estejam em tratamento”. (MEC, 1994).

Fonseca (2008, p. 12), completa esta definição:

É reconhecido pela legislação brasileira o direito à continuidade de escolarização aquelas crianças e adolescentes que se encontrem hospitalizado. Esta modalidade de atendimento denomina-se classe hospitalar e objetiva atender pedagógico-educacionalmente às necessidades do desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que, dadas as suas condições especiais de saúde, encontram-se impossibilitados de partilhar experiências sócias intelectivas de sua família, de sua escola e de seu grupo social.

Ainda de acordo com Fonseca (2004) o atendimento escolar no ambiente hospitalar não é uma modalidade de ensino recente. No início do século XX, com fortalecimento das áreas de pediatria e de psicologia decorrentes, dentre outros estudos, daqueles voltados especificamente para o atendimento da infância, a criança passou a ser vista e tratada como uma pessoa com características, interesses e necessidades próprias, ou seja, um indivíduo com peculiaridades.

2.1  O PROFESSOR DA CLASSE HOSPITALAR

De acordo com Libâneo (1998), a ampliação do campo pedagógico de ação, em decorrência da complexidade cada vez crescente da própria educação, leva ao aparecimento de agentes da ação didática para além do âmbito escolar.

A educação formal não se aplica apenas a prática escolar, mas também, a outras instancias, como a educação de adultos, educação sindical, educação profissional, educação comunitária e educação em saúde.

Castro (2009, p. 44) afirma que:

Convencionalmente em nossa sociedade, o lugar do professor esteve voltado para a escola formal. Em tempos modernos, esses lugares estão sendo cada vez mais polarizados. Não existe mais fronteira para a ação do professor. O hospital, conhecido convencionalmente como lugar das seringas, injeções e do sofrimento, passa a ser também espaço do caderno, do lápis, das tintas, do colorido, da alegria e da produção infanto-juvenil.

Hoje o ambiente hospitalar faz parte do universo escolar, o que contribui para que as crianças e adolescentes impossibilitados de frequentarem a escola comum não representem os índices de evasão e repetência do analfabetismo em nosso país.

Assim, o professor da classe hospitalar tem que assumir uma postura pedagógica crítica, que possibilite ao aluno adquirir conhecimentos sólidos e significativos, desenvolvendo suas capacidades mentais.

Para Esteves (2005), o papel do professor hospitalar é muito importante, pois ele atende as necessidades psicológicas, sociais e pedagógicas das crianças. Este profissional precisa ter sensibilidade, compreensão, força de vontade, criatividade, persistência e muita paciência para atingir os respectivos objetivos.

As crianças por sua vez, devem ser motivadas e o ambiente em que elas estão inseridas, precisa ser o mais acolhedor possível, pois ao perceber que podem continuar fazendo as mesmas atividades escolares elaboradas por aquelas tidas como saudáveis, a recuperação da autoestima passa ser uma realidade.

De acordo com Viegas (2008), a hospitalização é geralmente traumática em qualquer classe social, pois causa desconforto na vida das crianças, por deixarem sua casa, sua família, seus amigos, animais de estimação, os brinquedos e a escola, para viver em um lugar desconhecido. É normal que elas estranhem o ambiente e as pessoas que passam a fazer parte do seu dia a dia.

Fontes (2005), afirma que o ofício do professor no hospital apresenta diversas interfaces: política, pedagógica, psicológica, social, ideológica. Mas nenhuma delas é tão constante quanto o da disponibilidade de estar com o outro e para o outro.

A importância do relacionamento do professor com o aluno deve ser de diálogo, o professor precisa conhecer as ansiedades, os medos e os sonhos da criança enferma. Possibilitando assim uma melhor aprendizagem.

O desenvolvimento da criança está interligado coma aprendizagem, ela não é apenas influenciada, mas também influencia, pois vive em constante relacionamento com o meio em que está inserida. A figura do professor mediador representa a continuidade desse processo de aprendizagem.

Pode-se, portanto, entender que as crianças e adolescentes hospitalizados parecem buscar na escolaridade um sentimento para se mantiver firmes e confiantes, enquanto que a doença tenta a cada momento derrubá-los.

Trugilho (2003) afirma que a afetividade presente na situação de escolaridade os fortalece e os renova dia a dia, levando-os a viver intensamente.

2.1.1 Prática Pedagógica no Ambiente Hospitalar

Para Libâneo (1998), a didática tem como objeto de estudo o processo de ensino na sua globalidade, isto é, suas finalidades sociopedagógicas, princípios, condições e meios de direção e organização do ensino e da aprendizagem, pelos quais se assegura a mediação docente de objetivos, conteúdos, métodos, em vista da efetivação da assimilação consciente de conhecimentos.

Ela se ocupa dos processos de ensino aprendizagem, em que o professor deve comprometer-se integralmente com a prática social e isso requer que o educador utilize à didática, metodologias pedagógicas capazes de desenvolver habilidades cognitivas.

O Ministério da Educação e Cultura (2002), no documento “Classe Hospitalar e Atendimento Domiciliar: estratégias e orientações” recomendam ao professor coordenador da proposta pedagógica classe hospitalar ou em atendimento domiciliar o conhecimento sobre a dinâmica e o funcionamento dessa modalidade de ensino.

Assim, como as técnicas pedagógicas e terapêuticas dela decorrentes, as rotinas da enfermaria, dos serviços ambulatoriais e das estruturas de assistência social. Faz-se necessário que o professor tenha conhecimento da rotina do hospital, para facilitar o seu trabalho e planejamento.

Fonseca (2008, p. 46) afirma que:

Ao primeiro contato com o aluno hospitalizado, o professor deve ler o prontuário tanto para tomar conhecimento da situação de saúde da criança quanto para se informar sobre a evolução e prognósticos do tratamento. As informações prestadas pela própria criança e pelo acompanhante sobre as experiências escolares devem ser consideradas.

Para Fontes (2005), a pedagogia hospitalar deve ser entendida como uma proposta diferenciada da pedagogia tradicional, uma vez que se dá num âmbito hospitalar e que busca construir conhecimentos sobre esse novo contexto de aprendizagem que possam contribuir para o bem da criança enferma.

Os professores devem inovar com suas práticas pedagógicas, uma vez que o ambiente alfabetizador não se trata de uma escola regular e sim um espaço totalmente diferente, que exige sensibilidade e um currículo flexibilizado.

2.1.2 Perfil e a formação do Professor Hospitalar

Hoje, em pleno século XXI o professor deixou de ser visto como mero transmissor de conhecimentos, mas um constante colaborador do seu aluno, que o conduz a tomar consciência das suas necessidades para poder construir o próprio conhecimento.

De acordo com Antunes (2003), o papel do novo professor é o de usar a perspectiva de como se dá aprendizagem, para que usando a ferramenta dos conteúdos postos pelo ambiente e pelo meio social, estimule as diferentes inteligências de seus alunos.

Essa redefinição do papel do educador está vinculada à expansão do campo de atuação do professor, sua função social não acontece só nas escolas, e a sociedade requer um profissional que seja capaz de transformar-se em um estimulador de competências e habilidades.

Para Fonseca (2008), não tem como falar em professor sem citar sobre sua formação e capacitação profissional. Sabendo que há grande diferença entre formação e titulação.

A literatura na área de educação se enriquece a cada dia não apenas com novas propostas de ensino, mas também com novos olhares sobre teorias consideradas ultrapassadas. O professor que consegue realizar um bom trabalho no ambiente hospitalar será bem sucedido em qualquer espaço educacional.

No entanto, o professor da classe hospitalar que se mantiver bem informado desenvolverá com facilidade sua prática pedagógica.

Segundo Fontes (2005), a grande maioria de profissionais que atuam com crianças em hospitais possui formação em nível de pós-graduação na área educacional, a formação em serviço é, sem dúvida, o que tem assegurado um nível de qualidade crescente nesse atendimento pedagógico, uma vez que não existe um curso reconhecido pelo MEC voltado para esse tipo de profissionalização.

O Ministério da Educação e Cultura na Resolução nº 4, de 13 de julho de 2010, em seu artigo 57, parágrafo 2º, estabelece que:

Os programas de formação inicial e continuada dos profissionais da educação vinculados às orientações destas Diretrizes devem prepara-los para o desempenho de suas atribuições, considerando necessário: 1. Além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente; 2. Trabalhar em equipe; 3. Compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica, econômica e organizativa; e 4. Desenvolver competências para a integração com a comunidade e para relacionamento com as famílias.

O professor também precisa de alegria, esperança e humildade, pois professores e alunos aprendem juntos um com o outro e devem juntos superar os obstáculos e desafios que surgem no processo de ensino-aprendizagem.

3. ALUNO HOSPITALIZADO

Fonseca (2008), afirma que cada criança é diferente assim como também o são os ambientes com os quais interage. As experiências vivenciadas e o modo como elas reagem e como elas lidam com determinadas situações são diversas. O mesmo acontece com as crianças hospitalizadas.

Para Azevedo (1992), a criança pode estar em situação de risco de muitas maneiras, como ter nascido em condições difíceis de sobrevivência, não ter satisfeito suas necessidades básicas durante os primeiros anos de vida como (alimento, vestimenta, moradia, e afeto), viver em um ambiente físico inseguro, viver em um meio onde não há amor ou afeto, ou onde não se tenha sentido a responsabilidade de filiação. A esses elementos, acrescenta-se a pobreza, a falta de moradia, e a falta de um dos pais.

De acordo com Santos (1999), entre as centenas de alunos com problemas de saúde, uns e outros são privados da livre frequência escolar por força de doenças, sejam elas crônicas ou de acontecimento único, o que as obriga a permanecerem em ambientes hospitalares, com a finalidade de restabelecer suas condições normais de saúde.

No entanto, o afastamento da escola não pode privar a criança da aprendizagem, por isso o atendimento pedagógico torna-se um fator relevante na vida do aluno hospitalizado, pois além da assistência educacional, os pacientes sempre manifestam melhoria nos seus estados de saúde.

Santos (1999, p. 114), afirma que:

A criança hospitalizada, assim como qualquer criança, apresenta o desenvolvimento que lhe é possível de acordo com uma diversidade de fatores com os quais interage e, dentre eles, as limitações que o diagnóstico clínico possa lhe impor. De forma alguma podemos considerar que a hospitalização seja, de fato, incapacitante para a criança. Um ser em desenvolvimento tem sempre possibilidades de usar e expressar, de uma forma ou de outra, o seu potencial.

Assim, pode-se, entretanto afirmar, que a criança mesmo estando hospitalizada não a impede de continuar o seu desenvolvimento, pois o apoio pedagógico além de ajuda-las a dar continuidade aos conteúdos curriculares da escola regular contribuirá significativamente para sua recuperação.

  1. DINÂMICAS DE FUNCIONAMENTO DA CLASSE HOSPITALAR “CANTO DO ENCANTO”

A classe Hospitalar Canto do Encanto, foi inaugurada em 16 de outubro de 2000. Somente iniciou suas atividades no primeiro dia de agosto de 2001. Durante este período esteve desativada por falta de professores.

Desde então a Classe Hospitalar do Hospital desenvolve atividades voltadas à escolaridade das crianças e adolescentes hospitalizados. Em seu projeto de criação consta uma preocupação com o atendimento escolar que compreende o ensino fundamental, priorizando atividades das séries iniciais, embora ocasionalmente atenda também alunos que se encontram na faixa escolar característica da educação infantil.

Nas atividades desenvolvidas tem dada mais atenção à alfabetização, devido à demanda dos alunos, que formam o corpo discente da classe.

Os alunos apresentam idades que variam entre quatro a quinze anos. Possui parcerias com a Secretaria de Estado da Educação, cuja atribuição é selecionar e disponibilizar professores para o atendimento educacional e a execução de projetos pedagógicos elaborados pela SEDU.

A Classe Hospitalar Canto do Encanto conta com o apoio de um coordenador pedagógico que assume a responsabilidade de orientar, acompanhar e avaliar, continuamente, o desenvolvimento das ações pedagógicas, juntamente com os alunos, professoras e coordenação administrativa do projeto, tendo as seguintes atribuições:

  • Conhecer a dinâmica e funcionamento peculiar dessa modalidade de atendimento;
  • Conhecer a rotina da enfermaria, dos serviços ambulatoriais, no que se refere às técnicas terapêuticas que dela fazem parte;
  • Conhecer toda a estrutura montada para o bom andamento dos trabalhos;
  • Realizar um encontro pedagógico semanal com profissional da educação para o estudo e planejamento das atividades;
  • Participar da elaboração do projeto político pedagógico, acompanhar o desenvolvimento das ações pedagógicas junto aos alunos; e
  • Organizar, controlar e acompanhar os registros dos alunos e os relatórios elaborados pelos professores, enviando os mesmos para a escola de origem para validação de sua frequência, entre outros.

O professor que atua na classe hospitalar ou no atendimento pedagógico domiciliar deverá estar capacitado para trabalhar com a diversidade e as carências dos alunos, identificando as necessidades educativas especiais dos educandos impedidos de frequentar a escola.

Sempre definindo e implantando estratégias de flexibilização e adaptação curricular. Devem, ainda, propor os procedimentos didáticos - pedagógicos e as práticas alternativas adequadas ao ensino dos alunos, bem como ter disponibilidade para o trabalho em equipe.

Hoje a Classe atende em média de trezentos e cinquenta a quatrocentas crianças.

O espaço físico da classe compõe-se de uma sala de atividades, destinada ao trabalho pedagógico, um banheiro de uso exclusivo dos alunos, uma antessala. Geralmente utilizada para a exposição das atividades realizadas pelos alunos.

Visto que a classe hospitalar trata-se de algo novo em nosso meio, não se encontra devidamente estruturada, mas, pode-se perceber que houve um crescimento no seu nível pedagógico, atualmente a classe conta com profissionais habilitados e capacitados para atuarem no universo hospitalar e lidar com situações diversas.

CONCLUSÃO

Contudo, pode-se concluir que apesar de todos os entraves, o atendimento pedagógico hospitalar está alcançando cada vez mais espaço em nossa sociedade, principalmente em nosso Estado.

No espaço escolar hospitalar foi possível perceber, refletir e conhecer vários aspectos pertinentes não só à escolaridade da criança doente, mas também o desempenho dos profissionais, sua qualificação, a organização do espaço, a dinâmica de funcionamento, o planejamento e prática pedagógica contextualizada.

Mesmo em um ambiente impessoal foi possível sentir relações verdadeiras de afetividade ligada com o comprometimento de desenvolver a aprendizagem de forma satisfatória, pois, ensinar e aprender só se efetiva se o professor estiver atento às necessidades e aos interesses do aluno.

Mediante a temática pesquisada, foi possível observar a importância da classe hospitalar, que favorece o atendimento pedagógico – educacional para as crianças e os adolescentes hospitalizados ou que se encontra em tratamento de saúde. Promovendo o elo com a escola de origem.

As professoras atuantes da classe hospitalar possuem formação pedagógica em Educação Especial, curso de Pedagogia e/ ou outras Licenciaturas específicas. Apesar de pouco espaço disponibilizado para aulas, a classe hospitalar não perde o seu aspecto de escola.

Hoje é um espaço intrínseco de aprendizagem, objetivando dar continuidade a dor e o transtorno do tratamento, contribuindo significativamente para a recuperação das crianças e adolescentes.

A educação Hospitalar é uma modalidade de ensino extremamente necessária e que precisa ser eficientemente implantada em todos os Estados do país para todas as crianças que dela necessitem.

Afinal, o atendimento hospitalar é um bom e concreto exemplo de mostrar como fazer valer o direito à escola de qualidade para todos os cidadãos em formação, em processo de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

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BARROS, Alessandra Santana. A prática pedagógica em uma enfermaria pediátrica: contribuições da classe hospitalar a inclusão desse alunado. Revista brasileira. ANPED. Nº 12. São Paulo, 1999.

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ESTEVES, C.R. Pedagogia Hospitalar: um breve histórico. Disponível em: www.qualievidanapedhospitalar.com. 2005. Acesso em: 30 de maio de 2017.

FONTES, Rejane S. A escuta pedagógica a criança hospitalizada: discutindo o papel da educação no hospital. Revista brasileira de educação. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em 20 de maio de 2017.

FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. Ed. São Paulo: Memnon, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessário a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

_____________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2006.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 1991.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para que? São Paulo: Cortez, 1998.

MEC. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília: MEC, 2002.

SANTOS, B. C; SOUZA, M. R. Ambiente Hospitalar e o Escolar. Escolarização: educação de mãos dadas para humanizar. Petrópolis: Vozes, 2009.

TRUGUILHO, Silvia Moreira. Classe hospitalar e a vivencia do otimismo trágico: um sentimento da escolaridade na vida da criança hospitalizada. Programa de Mestrado. Faculdade Federal do Espirito Santo: Vitória, 2003.

________________________. A escola chega ao hospital: aspecto sócio históricos da implantação de uma proposta de educação escolar hospitalar. Caderno de produções acadêmico científicas do Programa de Pós-graduação em Educação. Vitória: UFES, 2001.

VIEGAS, Drauzio. Brinquedoteca hospitalar: isto é humanização. 2. Ed. Rio de Janeiro: Wak, 2007.

 

  1. Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Estudos Sociais Aplicados de Viana-FESAV. Artigo publicado com avaliação na Disciplina De Didática 1 da Professora Doutora Monique Ferreira Monteiro Beltrão.