A DISPARIDADE NAS OPORTUNIDADES DE EMPREGO NA QUESTÃO DO GÊNERO: COMO A ESCOLARIZAÇÃO VELADA NO MACHISMO INFLUENCIA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

 

1 INTRODUÇÃO

A desigualdade entre os gêneros, embora tenha ganhado maior visibilidade nas últimas décadas, trata-se de algo existente em nossa sociedade desde os tempos mais primórdios. Após muitas lutas travadas no decorrer dos séculos, a mulher foi capaz de conquistar um espaço no mercado de trabalho; mas, tais conquistas foram suficientes para que desaparecessem as desigualdades de oportunidade e tratamento entre homens e mulheres? E como o machismo enraizado em nossa sociedade influencia nas oportunidades de emprego atualmente?

Ao observarmos os fatos históricos registrados acerca da luta feminina por uma posição na sociedade, percebemos quão longa foi a trajetória traçada pelas mulheres até serem tratadas com respeito e dignidade. A mulher sempre foi vista como um ser mais “frágil” destinado a tarefas que exigem menos esforço, e tal visão ainda se faz presente na nossa realidade, evidenciando a permanência do machismo desde os séculos passados até os dias atuais.

Tratando-se da abordagem da questão de gênero nas escolas, podemos afirmar que corresponde a uma discussão muito escassa, mostrando seus efeitos na formação de profissionais e, posteriormente, nas diferenças salariais e de oferta de trabalho para homens e mulheres. A discussão acerca da desigualdade entre os gêneros não possui grande representatividade no método educacional, visto que, geralmente, o debate sobre inclusão e exclusão nas escolas é voltado para alunos com necessidades especiais de educação.

De acordo com os dados apresentados acerca das oportunidades de emprego para a mulher – tendo como foco a formação profissional como professor –, pudemos observar que embora a porcentagem de mulheres com licenciatura seja maior que a de homens, estes ainda ocupam posições de maior remuneração que as mulheres. Diante dos fatos mostrados neste artigo, como tal fenômeno pode ser explicado? A resposta encontra-se no machismo enraizado em nossa cultura que provoca inúmeros efeitos no meio social, profissional e econômico.

O objetivo deste artigo é analisar a disparidade das oportunidades de emprego entre homens e mulheres, abordando a carga histórica do machismo na sociedade em que vivemos, a maneira como a questão dos gêneros é tratada no sistema educacional, e apresentando dados estatísticos a respeito da diferença nas oportunidades oferecidas

2 HISTÓRICO DA DESIGUALDADE ENTRE OS GÊNEROS 

A origem da desigualdade está atrelada ao patriarcado enraizado na nossa sociedade desde os primórdios, provocando a não valorização da mulher no âmbito social e profissional. Quando falamos em desigualdade é impossível não olhar para o passado, observar a fonte de tudo isso e tentar compreender a realidade em que vivemos. Para isso, é necessário analisar todo o contexto histórico acerca desse assunto, os desafios enfrentados, e suas conquistas.

O sexo feminino, por muito tempo, foi visto como algo ruim, uma fraqueza, um defeito. As mulheres não tinham espaço público para serem vistas ou ouvidas; eram designadas a cuidar da família, ficar em suas casas e obedecer aos maridos. O acesso à escrita foi tardio, assim como seus direitos perante a sociedade. No entanto, como afirma a Historiadora Michelle Perrot:

A história das mulheres mudou [...]. Partiu de uma história do corpo e dos papéis desempenhados na vida privada para chegar a uma história das mulheres no espaço público da cidade, do trabalho, da política, da guerra, da criação. Partiu de uma história das mulheres vítimas para chegar a uma história das mulheres ativas, nas múltiplas interações que provocam a mudança. Partiu de uma história das mulheres para tornar-se mais especificamente uma história do gênero, que insiste nas relações entre os sexos e integra a masculinidade. Alargou suas perspectivas espaciais, religiosas, culturais. (PERROT, 2007, p. 15-16)

Partindo do contexto histórico, pelo que sabemos por meio de livros, documentos e relatos, a luta das mulheres em busca de liberdade e direitos iguais teve início na Idade Média (sendo notável a figura de Joana D’Arc e de Isabel da França), quando a taxa de mortalidade era superior à dos homens e o infanticídio das meninas era uma prática comum em países como Índia e China. Todavia, foi na França do século XVIII, no advento da Revolução Francesa e Iluminismo, que se pôde falar sobre o assunto, como afirma Badinter (1993, p. 12): “foram as ‘preciosas francesas’ quem primeiro questionou a identidade masculina e o papel dos homens na sociedade, e seus questionamentos tiveram grande repercussão”.

Já no século XIX, com a chegada da Revolução Industrial, as mulheres foram jogadas nas fábricas para trabalhar em condições deploráveis, jornadas duplas e salários baixos; além disso, eram constantemente assediadas e abusadas sexualmente. Mas nessa época não havia condenação no caso de estupro cometido apenas por um homem: somente um julgamento afirmando “agressão com ferimento”, sendo suscetível de punições apenas em caso de estupro coletivo. Por essas e outras razões, foram desencadeadas diversas manifestações. Uma dessas manifestações ocorreu no dia 8 de Março de 1857, quando operárias de uma fábrica de tecidos em Nova York iniciaram uma greve reivindicando seus direitos. Então, em um ato de crueldade e covardia extrema, as autoridades da época as trancaram no interior da fábrica e em seguida atearam fogo no ambiente, resultando em suas mortes.

Além da introdução feminina no mercado de trabalho, a escolarização das meninas no primário deu-se nos anos 1880 e no secundário, nos anos 1900; as conquistas na área literária com a chegada de romancistas inglesas como, por exemplo, as irmãs Brontë; e também o acesso às universidades a partir de 1950. Em 1970 elas já representavam quase um terço das matrículas. A partir disso, a expansão do espaço feminino passou a se tornar real e as mulheres começaram a conquistar certos direitos legitimados.

Com o advento das I e II Guerras Mundiais, os homens iam às batalhas e, dessa forma, quem assumia os negócios da família e a posição do homem no mercado de trabalho era a mulher, de acordo com Leskinen (2004). Porém, na primeira Guerra, à primeira vista “ela reforça a ordem dos sexos, com os homens na frente de batalha e as mulheres na retaguarda” (PERROT, 2007, p. 143). Após as Guerras, ao retornarem às suas casas e encontrarem suas esposas trabalhando fora, sustentando o lar e possuindo as mesmas funções anteriormente realizadas por eles, os maridos não aceitaram a situação e exigiram que as mulheres retornassem às suas antigas ocupações. Entretanto, elas não recuaram e foram atrás de seus Direitos Civis, lutando pelo direito ao voto, divórcio, gestão dos próprios bens, ao trabalho, entre outros. Conquistaram nos EUA o pleno direito ao voto em 1920. No Reino Unido, em 1918, concederam o voto às mulheres com idade acima de 30 anos, ainda com algumas restrições, e em 1928 alcançaram finalmente o direito ao voto nas mesmas condições. Já no Brasil, o processo ocorreu de forma gradual. Em 1932 foi concedido o direito ao voto, porém, mediante aprovação do marido ou viúvas e solteiras que possuíssem renda própria. Em 1934, tais restrições foram abolidas do Código Eleitoral e no ano de 1946 a obrigatoriedade do voto foi estendida às mulheres.     

Atualmente, é raro encontrar uma profissão em que a mulher não esteja incluída, seja desde trabalhos com menor qualificação até trabalhos com alta qualificação, mostrando assim a capacidade indiscutível da mulher a adaptar-se a diversos trabalhos e superar dificuldades, embora ainda exista uma disparidade de salários entre homens e mulheres, principalmente no ramo da educação, no qual as mulheres são maioria