A DISCIPLINA DE LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL E O TRABALHO COM PROJETOS

                                                                                                   *¹ Jusiani M. Wosch de Souza

                                                                                                      *² Lígia S. F. Barrichello

RESUMO

 

Este texto aborda a utilização da metodologia de trabalho com projetos no ensino de língua estrangeira. Expõe como problema a seguinte indagação: de que forma o trabalho com projetos pode modificar o aproveitamento discente no processo de ensino aprendizagem de língua inglesa? O objetivo central da pesquisa, de caráter exploratório e bibliográfico foi verificar benefícios da mencionada metodologia, para o aproveitamento dos alunos.  Como resultado do estudo tornou-se possível inferir que os aspectos mais importantes da metodologia apontada prendem-se ao papel ativo que o estudante desempenha na construção do seu conhecimento; à virtude que a resolução de problema apresenta, quando ocorre em contexto semelhante ao profissional; à riqueza da visão interdisciplinar, que se processa no contexto do desenvolvimento de competências técnicas, pessoais, sociais e profissionais e ao grande lucro que transferência de habilidades, para outros contextos pode oferecer.  Concluiu-se que a metodologia de ensino com projetos constitui-se em proposta eficaz para a preparação dos estudantes para a aprendizagem do presente e do futuro, sobretudo porque conduz à pesquisa a desafios complexos, à postura reflexiva, num território que também pode incluir a ludicidade. O conjunto desses fatores leva a ganhos significativos de aprendizagem.

Palavras-chave: Ensino de língua estrangeira. Metodologia de trabalho com projetos. Aproveitamento discente.

 

 INTRODUÇÃO

 

             Desde os primórdios da civilização o homem comunica-se, principalmente, através das palavras. Com o passar dos anos houve grandes avanços em todas as áreas da vida humana. A comunicação melhorou. Obteve maiores recursos. Ainda assim, a palavra, em todos os idiomas, é o seu maior referencial.  Aprender línguas significa ampliar possibilidades comunicacionais.

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*¹ Graduanda do curso de especialização em Metodologias do Ensino de Línguas das Faculdades Itecne de Cascavel. 

*² Orientadora. Mestre em Educação.         

 

              O ensino da língua estrangeira, na educação fundamental, representa grande oportunidade para o aluno expressar-se, enriquecendo seu potencial comunicativo.  Por isso, é indispensável melhorar os processos de ensino-                            -aprendizagem de língua estrangeira. Acredita-se que novas metodologias são bem-vindas e, entre elas, a de ensino por meio de projetos.

             Assim, surge a seguinte indagação, para mobilizar uma pesquisa necessária: De que forma o trabalho com projetos pode modificar o aproveita-mento discente no processo de ensino aprendizagem de língua inglesa? O objetivo central do trabalho investigativo é analisar de que forma projetos podem modificar o aproveitamento dos alunos no processo de ensino aprendizagem de língua inglesa.

              A justificativa para o estudo manifesta-se pela necessidade de busca por estratégias e recursos, que ofereçam maiores benefícios, para o êxito da aprendizagem de língua inglesa, no contexto da educação fundamental.

           No tocante ao planejamento metodológico, para a investigação, escolhe-se o método dedutivo, para orientar raciocínios. Em relação à abordagem do problema a pesquisa pode ser classificada como qualitativa porque descreverá, interpretará e atribuirá significados ao fenômeno estudado. Relativamente aos seus objetivos, terá caráter exploratório, pois envolverá levantamento bibliográfico.

             A coleta e análise dos dados serão feitas por meio de leituras exploratórias; seletivas; analíticas e reflexivas, para interpretações e inferências.

             O desenvolvimento, que trará resposta para a questão abordada, apresenta-se organizado através de 3 tópicos importantes: as principais dificuldades dos professores na docência de língua estrangeira;  a metodologia de ensino por meio de projetos; ensino por meio de projetos e novas tecnologias;

 

 

1 AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES NA DOCÊNCIA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

               Quais são as principais dificuldades dos professores na docência de língua estrangeira? O primeiro desafio surge a partir de sua formação, que, muitas vezes, não se concretiza de forma ideal ou suficiente para as demandas que encontrará no contexto da sala de aula. Talvez uma das causas da deficiência esteja no formato dos cursos de licenciatura em língua estrangeira. Eles estão atrelados à licenciatura de língua portuguesa, cujos conteúdos ocupam grande parte da grade curricular.

             Os professores de língua inglesa parecem estar abandonados tanto em sua formação inicial quanto em sua atuação profissional, nas diversas regiões do país. A esse respeito, Celani  (2003)  afirma que mesmo com a restauração do papel formador das línguas estrangeiras, no currículo da escola fundamental,  garantido  pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação  Nacional, a situação parece não ter melhorado, visto que as causas da crise  têm de ser buscadas em níveis mais aprofundados de formação inicial de professores, na Universidade.

              Embora a situação de carência se caracterize em todos os tipos da escola, ela parece ser particularmente crítica na escola pública. O ensino de língua estrangeira, principalmente do inglês, encontra-se à deriva, com professores, pais e alunos muitas vezes  perguntando a mesma coisa. “O que estamos fazendo aqui? Para que servirá esta tentativa frustrada de se ensinar / aprender outra língua?”  

              Talvez fosse preciso investigar, historicamente, se o ensino de línguas estrangeiras já alcançou patamares mais promissores e, neste caso, de que forma isso ocorreu. Quem sabe um trabalho relacionado a  memórias de  professores sobre contextos de aprendizagem pudesse ajudar, pois os trajetos  de construção de conhecimentos são  conduzidos  por eventos, desejos, decisões, estratégias, crenças, e percepções individuais.  As narrativas trazem à tona  afetos e ressentimentos associados, respectivamente, a momentos agradáveis e lembranças desagradáveis, que agiram como forças perturbadoras  contribuindo para alguma mudança. Acredita-se que a escrita de histórias de aprendizagens poderia, assim, oferecer  interessantes reflexões sobre essas forças e dar consciência aos mestres de hoje, sobre estratégias que, em algum momento, funcionaram e poderiam ser resignificadas, para aproveitamento.

             Contemporaneamente, os registros comuns sobre como tem ocorrido o ensino de língua inglesa, na educação básica, na dimensão do ensino público, revela que os resultados de aprendizagem são, normalmente, muito ruins.  Em relação às metodologias de trabalho, verifica-se que tradicionalmente os professores começam ensinando o verbo To Be, de forma isolada; não contextualizada.  Trata-se de um mau começo, que tem continuidade pífia com um ensino muito teórico, centrado na gramática, que não trabalha bem a leitura, a interpretação, a conversação, a pronúncia e entonação. 

              Outros fatores reforçam a pobreza da docência de língua estrangeira, por exemplo, a falta de materiais de apoio pedagógico, de cursos de aperfeiçoamento para os professores, que os levem à aquisição de  competências didáticas específicas para a sua área e ao refinamento de saberes sobre a matéria que lecionam, pois somente com o adequado domínio do idioma estrangeiro, o professor conseguirá dar conta do seu trabalho.

2 A METODOLOGIA DE ENSINO POR MEIO DE PROJETOS

             A aprendizagem é um processo ativo, de construção de novas ideias e conceitos, que surgem associados a experiências anteriores. Bruner (2005) realça a influência exterior, essencialmente do meio social e cultural, nas aprendizagens anteriores do aluno. Para facilitar o êxito do aprendiz são necessárias  metodologias ativas, que agucem o seu interesse. Entre estas destaca-se a metodologia de ensino por meio de projetos.

2.1 A METODOLOGIA DE ENSINO POR MEIO DE PROJETOS: BREVE HISTÓRICO

              O método de ensino por meio de projetos, na educação, surgiu primeiramente nos EUA.  Muitos dos seus fundamentos foram baseados não só no movimento da escola Progressista de Dewey, como também no movimento da Escola Nova, com origem na Europa, em 1918.

             O projeto pode ser definido como um conjunto de práticas conscientemente finalizadas, através de um processo complexo, que inclui momentos de ação e representação, conduzindo á existência de  interações múltiplas e diversificadas. (SILVA & MIRANDA, 1990). Trata-se, portanto, de um conjunto de atividades planificadas, para alcançar um determinado objetivo através da utilização de recursos disponíveis.

             Em educação, o trabalho com projetos está associado a uma visão progressista, cuja meta é conduzir os alunos ao desenvolvimento de competências essenciais, como espírito crítico, colaboração e comunicação, em resposta a questões ou problemas com maior ou menor grau de complexidade. Assim o processo de aprendizagem está centrado nos alunos.

2.2 A METODOLOGIA DE ENSINO POR MEIO DE PROJETOS: VIRTUDES EM DESTAQUE             

             A metodologia de ensino por meio de projetos conduz à participação ativa do aprendente, na construção das suas aprendizagens. Exige atividades de autoavaliação, por parte do aprendiz e também do professor, oferecendo-lhes a necessária consciência metacognitiva, que  conduz esses dois atores a terem mais controle sobre suas futuras ações,  para melhorar seu nível de atuação.

            A  avaliação formativa será sempre componente indispensável dos processos de aprendizagem  decorrentes da metodologia de ensino por meio de projetos, visando  à concretização de bons resultados em termos de aprendizagens reflexivas e duradouras.

             A metodologia de ensino por meio de projetos organiza a aprendizagem em torno de tarefas complexas, provenientes de questões ou problemas, que envolvem o aluno na sua resolução e na decisão  sobre a investigação, dando-lhe a liberdade para trabalhar de forma autônoma  e colaborativa, para chegar a um produto final. Através de um processo de  interação e investigação o aluno constrói novo conhecimento. Esta  visão está embutida na filosofia do Construtivismo e do Construcionismo.

                Pinheiro (2011) defende a metodologia de ensino por meio de projetos afirmando que o seu aspecto mais importante se prende à mudança do centro de interesse do ensino para a aprendizagem.  O autor ressalta o papel ativo que o estudante desempenha na construção do seu conhecimento e também a virtude que a resolução de problemas possui, quando ocorre em contexto semelhante ao profissional. Na esteira desses aspectos positivos, deve-se incluir a riqueza da visão interdisciplinar, que se processa no contexto do desenvolvimento de competências técnicas, pessoais, sociais e profissionais.

              Por outro lado, Maufffette, Kandlbinde, e Soucisse, (2004) indicam que, com esta iniciativa metodológica é possível criar ambiente significativo para a construção da aprendizagem.  A motivação intrínseca do aluno é despertada com maior facilidade.  Também aparece, obrigatoriamente, o senso da responsabilidade no cumprimento de tarefas.  Grande benefício surge diante da possibilidade de os aprendizes  desenvolverem um conjunto mais amplo de habilidades transferíveis para outros contextos, tais como  da comunicação, do trabalho em equipe e da resolução de problemas.

2.3 O AUXILIO DA TRANSDISCIPLINARIDADE NA APRENDIZAGEM DE LINGUA ESTRANGEIRA

              A transdisciplinaridade, recurso sempre presente na metodologia de ensino por meio de projetos, é o enfoque pluralista do conhecimento.  Através da articulação de inúmeras faces, que um conteúdo pode apresentar, objetiva  a construção de um saber mais completo. Assim, unem-se as mais variadas disciplinas para que se torne possível um exercício amplo e rico da cognição humana.

             O movimento transdisciplinar é, sem dúvida, um facilitador de aprendizagens. Coloca-se como alternativa para combater a monotonia das aulas tradicionais e a reprodução de saberes. Transforma-se em antídoto contra a desmotivação para o estudo, contribuindo para tornar a classe um ambiente motivador, instigante, criativo, ás vezes, lúdico. Mas, sobretudo, um ambiente de pesquisa para a solução de problemas. Essa característica  desperta  a  curiosidade do estudante que,  segundo Freire ( 1997),  é natural e desejada, cabendo ao professor aproveitá-la, tornando-a epistemológica.

              As propostas transdisciplinares exigem que os alunos sejam ativos; desenvolvam protagonismos em contextos, que sugerem, simultaneamente, espírito de colaboração e de autonomia, para que ocorram aprendizagens significativas, com as quais se conjuga o aproveitamento das múltiplas inteligências  e o alcance de excelentes resultados de aproveitamento escolar.

             A abordagem transdisciplinar modifica, até mesmo, a forma como o homem busca a compreensão de si mesmo e de seu papel no mundo. Ele não mais se satisfaz com ideias restritas. É desafiado a alargar as dimensões do conhecimento, pois são muitas as inter-relações e muito há para ser descoberto. O homem precisa, mais do que nunca, ampliar a esfera dos seus saberes.

             No processo educacional, assim como na vida, torna-se imprescindível recorrer á transdisciplinaridade, a qual vem se desenvolvendo no meio acadêmico, visando conectar o campo universitário ao campo social, para oferecer ao estudante  melhor preparo para enfrentar o competitivo mercado de trabalho.

              Morin, (2005) explica que os fenômenos  não são fragmentados; logo  é necessário promover a comunicação entre as disciplinas.. É por isso que se  fala cada vez mais: “Façamos interdisciplinaridade” . A conexão é palavra de ordem, para um mundo cada vez mais globalizado.

             No ensino de língua estrangeira a interdisciplinaridade aparece no bojo da metodologia de projetos.  Propicia aos alunos o uso do idioma como recurso cognitivo, para a expressão de ideias e informações, dentro de situações comunicativas.  Envolve-os ativamente na produção e compreensão de textos verbais e não verbais, prevendo relacionamentos com outros saberes e com diferentes pessoas e comunidades.

 

 

3   ENSINO POR MEIO DE PROJETOS E NOVAS TECNOLOGIAS

             A sociedade atual passa por mudanças caracterizadas por uma profunda valorização da informação.  Processos de aquisição do conhecimento assumem um papel de destaque. O mercado passa a exigir profissionais  criativos, com capacidade de pensar, de aprender a aprender,  de pesquisar, de trabalhar em grupo, de resolver problemas.

             Cabe à educação escolar formar esses profissionais e, para isso, esta não se sustenta apenas oferecendo instrução.  Necessita ofertar possibilidades reais para que os estudantes possam viver experiências de construção de saberes, relacionados a novas e indispensáveis competências como a de inovar a partir do conhecido, de adaptar, de criar, de alcançar a autonomia intelectual e de se comunicar, com fluência.

              Entende-se que a metodologia de ensino por meio de projetos, instrumentalizada por novas tecnologias, propicia esse tipo de formação porque desenvolve habilidades variadas, através de uma organização de trabalho diferenciada, em que se faz necessária a colaboração interdisciplinar e transdisciplinar, o fácil acesso á informação e ao conhecimento.

             Diante disso, um novo paradigma está surgindo na educação, que exige mais do professor. Agora ele precisa dominar e usar, a favor das aprendizagens, as novas tecnologias.  Com estes recursos o professor de línguas, por exemplo, deve propor conjuntos de atividades, de interesse didático-pedagógico, entre as quais estão intercâmbios de dados científicos e culturais, produção de textos em língua estrangeira, elaboração de jornais inter- escolares  

               O professor, no contexto das tecnologias de informação instrumentalizando o trabalho com projetos, precisa saber orientar os educandos sobre onde colher informações, como tratá-las e utilizá-las. Esse educador será o conselheiro de aprendizagens dos alunos, ora estimulando o trabalho individual, ora apoiando o trabalho de grupos.

               Diante deste cenário, as instituições educacionais enfrentam o desafio não apenas incorporar as novas tecnologias como também desenvolver e avaliar praticas pedagógicas, que promovam uma disposição reflexiva sobre os conhecimentos e o uso tecnológico.

               As mudanças que vem ocorrendo em todos os campos do saber deslocam o modelo de educação escolar, que ocorre em uma determinada faixa etária, e num determinado espaço físico, apoiada na especialização do saber, para uma educação continua, que dá importância à reflexão e a aprendizagem em contextos multidisciplinares, à sua aplicabilidade na vida social, fundamentada em princípios de cidadania e liberdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

.            Os estudantes ensinados por meio da metodologia por projetos têm um desempenho igualmente bom em exames, uma vez que a abordagem desenvolve muito a capacidade de raciocínio e propicia alto nível de satisfação com os resultados obtidos, pois, embora  possam cometer mais erros,  são capazes de buscar explicações mais elaboradas, propor  alternativas e soluções de forma mais precisa e coerente.

               Conclui-se que  a metodologia de ensino com projetos constitui-se em proposta eficaz para a preparação dos estudantes para a aprendizagem do presente e do futuro, sobretudo pela abordagem interdisciplinar,  que conduz à resolução de problemas, à pesquisa; a desafios complexos, à postura reflexiva, num território que também pode incluir a ludicidade.  O conjunto desses fatores  leva a ganhos significativos, em termos de resultados de aprendizagem, comparativamente aos  obtidos com a aplicação de metodologia tradicional.  

REFERÊNCIAS

BRUNER2005

CELANI, Um programa de formação continua. In: Celani. A. A professores e formadores em mudança. São Paulo: Mercado de Letras,(2003).

MAUFFFETTE, KANDLBINDER, & SOUCISSE, The problem in problem- based is the Probems.Challenging Resarch in Problem-based learning(pp.11-25).New York: Open university.(2004).