É no domínio geral, que a significação de algo reside no sentido, inerente a um signo, o que implica, desde logo, a distinção entre o significante, que é a tradução fónica do conceito, e o significado, que é a contrapartida mental do significante, sendo admitido pela maior parte dos linguistas a necessidade da ligação, entre significante e significado, embora tais apologistas considerem a ligação arbitrária, ou seja, não derivada da necessidade natural.

Como já foi visto, o significante assume primordial importância, na medida em que numa linha estruturalista, ele é o facto percebido, aquele que importa para o conhecimento da realidade, enquanto que o significado é o facto não percebido, e a significação vai realizar a ligação entre aquele e este, denominando-se “SIGNO” o todo formado pelo significado e pelo significante.

Interessa, a este trabalho, conduzir o signo para a ideia de que ele é a fundamentação da escrita, em tudo o que ela implica para o conhecimento humano e, nesse sentido, pode-se, numa primeira interpretação, considerar o signo como um índice que liga, indissoluvelmente, um sentido ou, mais rigorosamente, um significado a um morfema, isto é, a um fonema linguístico.

As escritas mais antigas (pictográficas, hieroglíficas) foram passadas da cópia para o signo verdadeiro, em grande parte arbitrário, porque se possibilitou a transferência do signo escrito para um significado e libertação da linguagem, como conjunto e código de signos abstratos, eventualmente, discursivos.

Indiscutivelmente que a escrita é uma das formas de linguagem mais perfeitas que o homem criou, que utiliza em cada momento da sua vida, para expressar as inúmeras ideias, sentimentos, atitudes e, simultaneamente, estabelecer com o “outro”, seu igual, o diálogo necessário à vida em comum.

Ao dar uma grande prioridade e importância à escrita, DERRIDA (Jacques DERRIDA, 1930-2004, foi um filósofo francês, que iniciou durante os anos 60 a Desconstrução em filosofia. Esta “desconstrução”, termo que cunhou, deverá aqui ser compreendida, tecnicamente, por um lado, à luz do que é conhecido como "intuicionismo" e "construcionismo) vai colocar-se numa posição que será considerada como uma rutura da presença, da autoridade, do código e do contexto.

A sua grande tarefa é mostrar que o referente, comunicado na linguagem, não tem uma prioridade semântica, porque a primazia está na escrita, e esta seria uma prática de diferenciação, que está pressuposta nos atos de fala (estrutura grafemática), critica o logocentrismo inerente à filosofia analítica e procura mostrar que, por detrás da ontosemântica, existe uma marca e, nessa linha, propõe o conceito de escrita como uma diferença.

Para Derrida, a escrita é inerente à linguagem, e a fala fonética pode ser olhada como uma escrita, deslocando a dinâmica do sistema signo-sentido-conceito, abrindo à «possibilidade de pensar, na linguagem, aquilo que não é signo-sentido-conceito. A escrita marca a diferença, tende a transformar-se na realidade; neutraliza a hipóstase fonológica do signo e introduz no pensamento do signo (da língua) a substância gráfica» (in: KRISTEVA, 1980:31).

Derrida considera que: «Qualquer escrita deve, portanto, para ser o que é, poder funcionar na ausência radical de qualquer destinatário empiricamente determinado em geral. E esta ausência radical não é uma modificação contínua da presença, é uma rutura da presença, a “morte” ou a possibilidade da “morte” do destinatário, inscrita na estrutura da marca, é neste ponto, digo-o de passagem, que o valor ou: “o efeito” da transcendentalidade se liga, necessariamente, à possibilidade da escrita e da “morte” assim analisadas.» (DERRIDA, 1985:411).

Derrida conclui o seu pensamento sobre a primazia do significante na escrita, sugerindo que o signo deixe de ser o veículo de transmissão de sentido, na medida em que: «Enquanto escrita, a comunicação, se nos mantivermos fiéis a esta palavra, não constitui o meio de transporte de sentido (…) mas antes um desdobramento histórico cada vez mais poderoso de uma escrita geral de que o sistema da fala, da consciência, do sentido, da presença, da verdade, etc., continuaria apenas um efeito e como tal deve ser analisado.» (Ibid.:432)

O efeito a que alude Derrida, relativamente à comunicação escrita, naturalmente que não dispensa as potencialidades da linguagem escrita, no sentido perspetivado para o conhecimento, porque este, de facto, é indissociável da linguagem.

 

Bibliografia

 

DERRIDA. Jaques, (1985). Assinatura, Acontecimento Contexto. Margens da Filosofia. Tradução, J. T. Costa e A. M. Magalhães. Porto: Res.

KRISTIEVA, J., (1980). História de Linguagem. Tradução, Vários. Lisboa: Almedina.

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

 

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