A difícil administração das motivações

Vanessa Ruffatto Gregoviski[1]

É comum colocar a responsabilidade da motivação à gerência, mas não se tem ideia do quanto é árdua essa tarefa. Cada pessoa tem sua subjetividade e isso faz com que motivação também seja algo singular, é impossível ter uma receita pronta. Um inimigo da motivação é o cenário atual, decadência de empregos em prol da modernização, já que os colaboradores sentem cada vez mais essa hostilidade e com isso vem a insegurança na carreira profissional. Alguns autores até afirmam que o significado de trabalho está enfraquecido nas pessoas. A empresa passou a ser apenas o que provem sustento financeiro, sem perspectivas de longo prazo. Em contrapartida, as empresas, tentando se defender do cenário atual, apelam à terceirização. E como entra a motivação no meio desse circo dos dias de hoje? Como podem as pessoas produzir se não se sentem motivadas? A psicodinâmica entra aqui em contraposição ao behaviorismo. Pensando na teoria do condicionamento, pensa-se que as pessoas agem conforme um padrão pré-estabelecido, Skinner acreditava que se poderia fazer com que qualquer postura fosse assumida pelos colaboradores. Assim, muitas empresas partiram do ponto de vista de Skinner e Pavlov na esperança de controlar o comportamento de seus funcionários (fala-se muito em punição e recompensa). A falha é que desse ponto de vista todos agiriam da mesma forma, e isso nos mostra a deficiência quanto à abordagem da subjetividade nesse modelo. Isso nos deixou uma herança presente até hoje: as beneficiações no trabalho. Motivação no trabalho não é algo que envolve apenas o indivíduo, afinal, mas também a própria organização, um depende do outro. Motivação se constrói e é algo que vai muito além de sentimentos de felicidade que as pessoas desfrutam ou estados com propriedades de disparar, na verdade, ainda há muito estudo em cima do conceito “motivação”, que não consegue ter ao certo uma definição. Tratamos, pois, com diferentes faces da motivação. O mais comum e antigo método, já mencionado, é o da recompensa, primeiro porque há uma reação positiva imediata, mas com o passar do tempo, se a mesma reação quiser ser mantida, o preço e qualidade da premiação vai ter que aumentar, o que gera custos para a empresa; além disso os critérios de distribuição de prêmios deve estar claro para não causar discórdia no ambiente organizacional. Ideias como a de Taylor, eram a de que o dinheiro ajudaria a criar e fortificar a motivação. O grupo social também desempenha um papel nessa equação. Já McGregor diz que trabalhadores fazem, por natureza, todo o possível para atingir por si próprios a sua auto realização através do trabalho, dando um novo viés ao que se acreditava até então. Autores como Herzberg nos trazem outro ponto muito importante que deve ser reparado, não é porque higiene, por exemplo, não é um fator motivador que devemos deixar de proporcioná-la, afinal, insatisfação gerará desmotivação. É preciso ir além, gerar satisfação interna. Aqueles que não adotam o condicionamento comportamental adotam a perspectiva que busca motivar as pessoas pelo seu interno, o que se mostra um desafio e tanto, já que, muitas vezes, nem mesmo a pessoa se conhece o suficiente para atingir isso. Nesse processo consciente alguns fatores entram em ação: 1) nível de expectativa, estimativa de sucesso a partir do esforço de cada um; 2) instrumentalidade, conquista de objetivos, que podem vir a ser a recompensa; e 3) valência, o valor dado à recompensa. Esse esquema para compreensão da motivação é conhecido como VIE. Já que motivação é algo interno é importante observar o sentido que a pessoa dá a aquilo que faz, conhecendo isso é possível trabalhar melhor aspectos da personalidade de cada um e chegar a uma recompensa satisfatória. Alguém que se engaja num emprego que faz bem para si mesmo busca fazer jus, ser reconhecido, o trabalhar passa a ser algo de uma necessidade de ordem afetiva. É importante terem existido pesquisas assim, pois proporcionaram um melhor conhecimento do trabalhador como um todo, sujeito singular e dotado de uma identidade particular, uma visão de si, a autoestima (conceito que cada um tem de si e que é o ponto de partida para o equilíbrio pessoal). Isso nos leva ao porquê cada um se sente motivado para fazer o que quer, e mais, nos faz pensar que a mudança comportamental inicia, antes de mais nada, em um desejo próprio de modificação. Pesquisas feitas em organizações mostram que pessoas com baixo rendimento se mostram desmotivadas e isso se dá devido a uma baixa autoestima. No momento em que a desmotivação se instala é preciso fazer algo ou os efeitos nocivos não demorarão a chegar. A noção da realidade é completamente diferente na visão de uma pessoa motivada e uma desmotivada, a desmotivada mostra-se com sentimento de permanente ameaça, além de distorcer muito a realidade. Se nada é feito, cada vez mais a pessoa se distancia da realidade, e passa a adotar comportamentos cada vez menos positivos ou produtivos. Por mais que esses problemas desmotivacionais tenham muito cunho individual também, creio que através do texto é perceptível o porquê é tão importante tratar esses comportamentos antes que afetem a pessoa, tanto em um nível particular quando do ponto de vista da prestação de serviços.

 

Referências

BERGAMINI, Cecília Whitaker. A difícil administração das motivações. Rev. adm. empres.,  São Paulo ,  v. 38, n. 1, p. 6-17, Mar.  1998 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901998000100002&lng=en&nrm=iso>. access on  26  May  2015.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901998000100002.

 

[1] Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo