INTRODUÇÃO

Administrar, segundo o dicionário Aurélio, é dirigir uma situação, ou seja, gerir algo ou alguém. Vivemos num mundo em que até mesmo no âmbito pessoal, temos que administrar diversas questões, como o tempo, os recursos financeiros, etc.

Numa empresa, a situação não é diferente, aliás, é algo muito mais complexo, afinal tem que se administrar tempo, recursos financeiros, estoque de mercadorias, qualidade de atendimento, e, entre outras coisas, o que julgo de maior complexidade, as relações humanas, pois é muito difícil lidarmos com a diversidade que há entre as pessoas, o que em muitas das vezes, pode desencadear sérios conflitos, que, por sua vez, sendo bem trabalhados, poderão contribuir para o crescimento da organização.

Hoje, ouvimos falar muito sobre gestão descentralizada, ou conforme cita SCHVARSTEIN, uma gestão horizontal, onde os diversos grupos e seus respectivos atores têm espaço para exporem as suas idéias, sendo as mesmas respeitas e dentro do possível, aprimoradas e postas em prática pela gestão, o que dá a todos o sentimento de pertencimento à organização.

Quando falamos em escola, logo nos vem à mente, aquele modelo antigo de escola, onde o professor era o dono do saber e o que a direção passasse como regra, era algo a ser seguido pelos alunos, pais e funcionários, sem questionamentos, porém, hoje, com uma gestão aberta, todos devem participar da gestão escolar (sem tomar a autoridade do diretor), sejam pais, alunos, professores, funcionários ou comunidade. Porém, será que isso acontece na prática em todas as escolas? Como será que se dá esse processo democrático? Será que ele realmente existe ou será que tudo é lindo no papel e na prática não é nada daquilo do que se pensa? Será que há uma real democracia nas organizações ou ainda está presente uma administração exageradamente hierarquizada (também chamada de vertical)?

Com base num comparativo entre duas escolas, realizado através de pesquisas de campo, procurar-se-á mostrar um pouco da diferença de se administrar e a visão de ser democrática de cada uma das escolas.

ESCOLA 1

A primeira escola fica localizada no Jardim Zaíra na cidade de Mauá-SP, sendo uma das escolas mais antigas do bairro e da própria cidade.

O Jardim Zaíra é o maior bairro da cidade de Mauá, tendo várias linhas de ônibus que o atende e uma população superior a 110 mil habitantes, é um bairro com uma grande quantidade de comércios (incluindo dois bancos, correio, casa lotérica, restaurantes, grandes lojas como as Casas Bahia, etc.) e com uma grande diversidade socioeconômica, pois, há desde favela até castelos. Segundo a WIKIPEDIA, ter tamanho de cidade significa, também, para o bairro, ter problemas de cidade: enchentes em pontos da várzea do Rio Corumbé, deslizamento de terra nas encostas, favelização de áreas de mananciais, desmatamento de encostas, além de poucas escolas para atender à demanda da população, tendo muitos estudantes, que estudarem no centro ou enfrentarem salas hiperlotadas.

Até pouco tempo, a escola trabalhava em quatro períodos, cada qual com 19 turmas, o que resultava num número de aproximadamente 3.100 alunos, algo que ao ser citado em reuniões entre professores de outras cidades era visto como uma grande mentira, após a inauguração de outra escola, a mesma passou a atuar em três períodos e a ter aulas de segunda à sexta-feira (quando possuía os quatro períodos, as aulas eram de segunda a sábado).

Administrar uma escola com toda essa quantidade de alunos não é algo fácil, porém, é possível se administrar bem, apesar da ampla complexidade. Na década de 90, quando fui aluno dessa escola, a escola era considerada uma das cinco melhores do município, algo que infelizmente foi modificado com a atual gestão.

GARETH nos fala que tudo que há no mundo se transforma e que há fatores explícitos e implícitos que influem nesse processo, diante disso, o que podemos colocar como fatores que implicariam nessa queda?

Como observamos acima, o bairro possui uma ampla diversidade social. A escola se localiza numa área próxima à área de mananciais, atendendo muitas crianças carentes, e, segundo a direção da escola, com pais extremamente ausentes, mas o que tem sido feito pela escola para reverter esse quadro?

Nos anos de 2009 e 2010, trabalhei e tenho trabalho nessa escola e tenho observado que pouco se faz para mudar a situação, realizando somente, reuniões de pais, homenagens e festas para integrar a comunidade, nem mesmo Conselho de Classe e APM há verdadeiramente na escola, embora haja diversas leis estaduais, que por sua vez são baseadas na Lei Federal nº 9394/96, que falam sobre a importância de se tê-los, algo que nessa escola, existe só no papel, diante disso, a comunidade é culpada por algo que não sabe que existe e, que, por, na maioria das vezes, desconhecimento, devido à baixa escolaridade, sobre esses instrumentos, por não participar da gestão escolar, quando na verdade o Conselho de Escola e a APM, existem somente no papel, algo que a direção controla com a troca de favores entre ela e alguns professores e funcionários e também, com uma "certa liberdade" para se trabalhar, uma vez que não verifica o trabalho realizado pelos professores, supostamente por acreditar nos mesmos, o que é extremamente lamentável, principalmente para a comunidade escolar.

A escola, atualmente, possui 19 salas, funciona em três períodos e atende ao Ensino Fundamental (1º ao 6º ano) e ao Ensino Médio (que não estará em 2012, funcionando na escola, devido à má administração), ela não possui salas de recursos (vídeo e informática) devido ao roubo dos computadores dos alunos e dos professores, fato esse que gerou suspeitas por parte de alguns considerando a direção culpada por deixar sempre o portão da escola escancarado e da direção por achar que a comunidade não valoriza o que tem. Além disso, a escola possui quadra e biblioteca (que embora seja apertada possui vários livros).

Assim, conforme cita KLIKSBERG, um programa de gestão, deve abranger toda a comunidade, inclusive nos processos de elaboração, devendo a mesma estar integrada com a ação, pois, assim, se caminhará para a construção de uma organização mais humana e equitativa, através da formação de cidadãos críticos.


2. ESCOLA 2

Semelhantemente à outra escola, esta também é uma escola antiga, localizada no Jardim Itapeva, também em Mauá-SP.

O Jardim Itapeva, em si, é um bom e pequeno bairro, apresentando uma considerável extensão de área verde, porém, os bairros circunvizinhos apresentam um alto índice de vulnerabilidade social, além da presença de gangues, o que gera violência e de áreas com risco iminente de desmoronamento.

Diferentemente da outra escola, esta era vista pela população em geral como uma escola péssima e de alta periculosidade, em conversa com ex-alunos, eles relataram que só estudavam nela, os alunos que eram expulsos das outras escolas e que ao ver a escola como está hoje, dá orgulho.

Porém, como cita KLIKSBERG quando fala da importância em se ter a comunidade como parceira, a atual diretora, deu um exemplo de força de vontade e de dedicação para mudar não só a realidade da escola.

Atualmente, a escola possui 15 salas de aula, funciona em 3 turnos e atende ao Ciclo II do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), com 30 turmas e ao Ensino Médio, com 10 turmas.

A escola busca uma participação intensa da comunidade em atividades como:

- Assembléias de Pais: Espaço onde os pais são informados sobre os procedimentos da escola e podem fornecer sugestões para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da escola.

- Conselho de Classe Participativo: O Conselho de Classe, diferentemente da maioria das escolas, não conta somente com a participação de professores e gestores, mas, também, com a participação de todos os pais e alunos de cada turma, sendo um espaço aberto para discussões construtivas entre os atores envolvidos.

- Projetos: A escola procura manter diversas parcerias com políticos, comerciantes, ONGS e comunidade em geral, visando benfeitorias não só para a escola, como também para a comunidade, através da doação de roupas, cestas básicas e também na busca de melhorias para a região, sendo um desses instrumentos, o projeto Rádio-Escola, da qual eu faço parte como professor da escola, que consiste em buscar soluções para os problemas locais, sendo um projeto aberto a pais, professores, alunos e comunidade, sendo escolhidos os projetos que causem mais impacto e que gerem um melhor custo-benefício para a região. Além de programas na rádio da escola, chamada Rádio Conexão, os alunos integrantes do projeto, gravarão ou até mesmo apresentarão ao vivo, um programa para ser transmitido na Rádio Z FM, única rádio oficial da cidade de Mauá, que por sua vez é a maior colaboradora do projeto e também montaram curtas para exibição num sistema de TV interno para toda a escola e, posteriormente, fora da escola, através de DVDS.

Além disso, o Conselho de Escola e a APM são bem atuantes e as datas das reuniões são sempre informadas com antecedência para os seus membros.

Nesta escola, os alunos se sentem bem e há uma grande concorrência por vagas, embora a escola seja estadual, devido à excelente qualidade administrativa e pedagógica, algo que leva vários professores a permanecerem lá por anos e anos.

A direção e sua equipe zelam pelo patrimônio da escola, que fornece um kit mensal de material básico, como folhas de sulfite, para que os professores possam realizar o seu trabalho, sem que seja necessário solicitar material aos alunos. Além disso, a escola possui salas de vídeo e informática, caixas de som em todas as salas, bem como televisores e ventiladores, provando que é possível termos uma escola pública de qualidade.


CONCLUSÃO

Mudar é sempre algo complexo, porém, é preciso que as mudanças ocorram, procurando intervir desde a base para que se alcance melhores resultados, promovendo interações entre indivíduos e organizações.

Diante disso, podemos observar que devemos buscar as mudanças de dentro para fora e não de fora para dentro, conforme THURLER (2001), buscando soluções que possamos por em prática, ao invés de culparmos outros atores envolvidos no processo.

Observamos o cenário de duas escolas em comunidades distintas, porém, a primeira teria tudo para ter se desenvolvido, uma vez que era considerada uma excelente escola, apesar das adversidades e não se desenvolveu como deveria, se preocupando somente em acusar a comunidade pelos seus constantes insucessos, tendo a escola, antes procurado por muitos, a ser uma escola em que, raras exceções, só são matriculados os alunos que não conseguem vaga em outras escolas, tamanha a desorganização da mesma que faz com que os pais fiquem ressabiados ao matricularem os seus filhos, porém, ressalto, que graças ao trabalho de professores comprometidos com o que fazem, têm se lutado muito para que o nível educacional da escola não caia drasticamente, algo que exige muito sacrifício e amor.

Na segunda escola, observamos que colocando a mão na massa e procurando mostrar a importância da participação da comunidade nas decisões da escola, a diretora conseguiu mudar não só a cara da escola, como também, da comunidade, o que hoje faz com que todos da comunidade queiram ter os filhos ali matriculados, observamos que o trabalho foi árduo, mas que valeu a pena, pois conquistou professores, funcionários, pais, alunos e comunidade, provando que é possível administrar bem uma escola pública, tornando-a de qualidade.

Para finalizar, quero citar que as duas escolas se consideram democráticas, porém, na primeira, tendo por base o que diz GARETH, não é aberto um espaço eficiente para diálogo com a comunidade e com os próprios funcionários, sejam ou não docentes, provando que há uma falsa democracia, pois com a troca de favores, o que a direção da escola falar, deve ser feito sem questionamentos, havendo assim, como nos diz SCHVARSTEIN, uma gestão verticalizada, onde há na prática uma hierarquização, enquanto na segunda, por mais coisas que se observe e por mais rigorosa que pareça ser, há um espaço democrático para a participação de todos, o que, aliado com a dedicação e com a garra da diretora e da sua equipe, tem contribuído a cada dia para que a escola vá se tornando mais acolhedora e fornecedora de um ensino de crescente qualidade.


BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Lei Federal n°. 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

DICIONÁRIO AURÉLIO. Disponível em: WWW.dicionariodoaurelio.com – Acesso em 23/03/2010

DIRETORA MUDA ESCOLA E SEU ENTORNO. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/noticia.php?it=9270 – Acesso em 23/03/2010

GARETH. Imágenes de La Organización. La Revelación de la Lógica del Cambio

JARDIM ZAÍRA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_Za%C3%ADra – Acesso em 23/03/2010

KLIKSBERG. Bernard. Hasta una gerencia social eficiente

LA IMAGINACIÓN. Una dirección para el futuro.

SCHVARSTEIN. Psicología Social de las Organizaciones. Nuevos Aportes

_____________. La paradoja del cambio en las organizaciones.

SILVA JÚNIOR. João B. Cenas do Cotidiano Escolar. Disponível em: http://www.webartigosos.com/articles/22983/1/Cenas-do-Cotidiano-Escolar/pagina1.html - Acesso em

23/03/2010

THURLER. Monica Gather. Inovar no Interior da Escola. Porto Alegre: Artmed, 2001.