A dicotomia entre a vaidade e o medo do galo Chantecler configurando-se pela bajulação recebida no conto do padre e da freira.

Ana Damares Mendes*

         Ao analisar “ o conto do padre e da freira” (dos contos de Cantuária) de Geoffrey Chautecler são enfatizados características ao galo Chantecler que podem ser compreendidas por aspectos que são notáveis, principalmente pela posição que Chantecler ocupava e os privilégios do mesmo.

        Ao longo do ensaio serão abordadas quais são esse privilégios que Chantecler tem, que o faz tão vaidoso, e até que ponto essa bajulação recebida pelas galinhas pode ser positivo. Já que quando Chantecler precisa agir com firmeza e coragem, ele teme o perigo, e é esse medo que enfatizaremos como algo resultado da bajulação.

         Vale ressaltar que Chantecler tinha motivos suficientes para sentir-se vaidoso.

 (...) cantava melhor que qualquer outro da região.Sua voz era mais alegre que os órgãos nos dias de missa; e seu canto merecia mais confiança que os relógios ou os sinos da abadia.(...) Sua crista era mais rubra que o coral mais fino, e com meias como os muros de um castelo; preto era o bico,luzente como o breu; e nos pés e nas prnas tinha o azul celeste; as unhas eram brancas como a flor do lírio; e as penas cintilavam como puro ouro polido. Esse galo cortês era senhor de sete galinhas,todas ali para servi-lo.( CHAUCER,Geoffrey.O conto do Padre e da Freira.p.127).

        È importante destacar como é caracterizado esses privilégios que Chantecler tem, porque apesar de ser considerado pelas galinhas como o mais belo, o canta melhor, ele precisa de um refúgio. A questão abordada é se esse

refúgio surge justamente pelos privilégios que possui,porque Chantecler tem acima de qualquer coisa,seja vaidade,beleza, privilégios, ele tem um certo compromisso com todos ( a responsabilidade de levar alegria a todos e encantar com sua voz e beleza).

         È notório afirmar que o refúgio que Chantecler encontra é na galinha Pertelote ( a mais querida e formosura) , é nele que Chantecler confia seus medos e suas falhas e o fato de Pertelote não aceitar e compreender tais características de Chantecler, o deixa de certa forma angustiado com a situação enfrentada. (...) Por Deus,sonhei ser vítima de tal desventura que ainda agora meu coração sente pavor. Queira Deus salvar-me desse pesadelo e livrar-me da cruel escravidão! (O conto do Padre e da Freira.p.128)

“ Vai-te”, exclamou ela, “vai-te daqui,oh covarde!” Pelo senhor do céu, acabaste de perder meu coração e meu afeto! Ai, por minha fé, como poderei amar um poltrão? Como dizem as mulheres, nós todas anelamos, sempre que possível, desposar homens bravos, inteligentes, generosos e discretos, não mesquinhos e tolos, que tremem á vista de uma lâmina....e muito menos fanfarrões, por Deus do Céu” ( O conto do Padre e da Freira.p.128)

         Cabe ainda destacar aqui como Chantecler sente-se,pelo fato de sua adorada Pertelote e não somente ela mas todos do poleiro,sempre admiraram e de repente ele perceber que justamente Pertelote pensa diferente dele, ao questioná-lo dos seus próprios medos. Não vos importeis com os sonhos? Pois bem, senhor que nós descermos do poleiro, toma um laxante, pelo amor de Deus. (O conto do padre e da freira.p.128)

         Logo ele o galo Chantecler que sempre fora acostumado com elogios, respeitado e ouvido por todos. È válido enfatizar aqui o papel de Pertelote, porque mesmo sendo inferior a Chantecler( já que ele além dela tinha  seis esposas) ela fora sempre sincera e o o fato da opinião dela ser diferente da dele, ele ainda considera-a da mesma forma. È tanto que Chantecler ouve o que Pertelote diz, até tenta convencê-la do sentido real dos sonhos e do medo que ele está emfrentando mas Pertelote não muda de opinião.

          Outro fator que merece um enfoque maior é o fato de Chantecler sentir medo da raposa, tentar fugir mas ao mesmo tempo recuar quando recebe elogios da raposa, este fato demonstra-nos o quanto ele é dependente dessa bajulação, e aqui conclui-se como algo negativo, já que Chantecler é enganado e quase morto.

            Em suma,todo o medo que o galo Chantecler enfrenta é relevantemente fruto da vaidade resultando na bajulação que recebe. Através dos fatores discutidos conclui-se que toda bajulação recebida não pode ser compreendida como algo positivo. Chantecler sempre fora acostumada com elogios e isso fazia-o tão vaidoso a ponto de não reconhecer quando o perigo aproximava (o fato de estar cantando com os olhos fechados fora do poleiro, quando a raposa ataca-o), ao perceber ela ao invés de defender-se fugindo, inicialmente é induzido justamente por uma bajulação da raposa que aproveita-se da oportunidade para atacá-lo.

“ Ai,onde pensava ir, senhor gentil? Temeis a mim, que sou amiga vossa? Sem dúvida eu seria pior do que um demônio, se cometesse contra vós qualquer maldade ou vileza. Não vim espionar vossos segredos; na verdade, a razão de minha vinda foi para ouvir-vos cantar, pois tendes uma voz maravilhosa, como a dos anjos nos corais do céu. Que sensibilidade musical! ( O  Conto do Padre e da Freira.p.133)

Nunca mais a bajulação vai me induzir a cantar de olhos fechados. Quem fecha os olhos quando tem que ver, jamais merece a proteção de Deus.( O Conto do Padre e da Freira.p.135)(...)Eis aí o que acontece aos descuidados e aos negligentes, que pões fé na adulação. ( O Conto do Padre e da Freira.p.135)

Bibliografia

 

CHAUCER, Geoffrey. Os contos de Cantuária .T. A. Queiroz,editor. O conto do Padre e da Freira.p.126-135)