RESUMO:

Perceber a natureza e a complexidade dos labirintos existenciais que o homem percorre não é uma tarefa fácil. Nos entrelaços compreensivos que a leitura a respeito do uso de entorpecentes, sejam elas quais forem, sugere o cerne dos conflitos existenciais oriundos de conceitos biológicos, psicológicos e sociais que explicitam o modo de ser no mundo,de um sujeito, dentre outros que propiciam uma reflexão significativa, e porque não dizer, perturbadora sobre a dependência química e sua influência tanto individual quanto coletiva nas relações humanas notadas de modos específicos na histria da humanidade desde os primórdios, principalmente após o período da revolução industrial lançando as sociedades modernas em uma nova realidade do paradigma social.

As análises que seguirão, abordará a partir de um sobrevôo histórico a respeito da dependência química, e de que modo a fenomenologia existencial interfere nessa prática com o propósito de procurar compreender e descrever  o que o individuo sente, pensa, percebe e vivencia seu contexto existencial na humilde corroboração da compreensão deste ser que a sociedade atual denomina adcto.

Deste modo, o cerne do trabalho que segue, é observar o conceito fenomenológico focado no existencial e de que modo há confluências na dependência química. Esta proposta de pesquisa está balizada na importância que há no compreender a personalidade do dependente químico no sentido de clarificar o hábito de se usar drogas.

 Tal investigação, portanto, partirá de revisões bibliográficas a respeito para que possibilite tanto quanto um olhar fenomenológico, o existencial, para que á partir daí seja possível alcançar um entendimento enquanto resultado conclusivo, a relação que há entre o problema da dependência química além de suas características neurológicas, também suas expressões que sugerem à busca do individuo por significados e ou por equilíbrio próprio.

Palavras Chave: Dependência química; Fenomenologia; Existencialismo.

INTRODUÇÃO

Podemos afirmar após debruçarmos em estudos referentes à fenomenologia e a dependência química no que dedilha principalmente ao existencialismo, que a busca do homem por si mesmo e a angústia que tal procura o remete, é base do manancial histórico na qualidade dos micros estudos do comportamento humano, que servem de contraponto existencial à ciência histórica.

No entanto, existem registros comoventes do conveniente de dessemelhantes obras, por decorrência de uma leitura clara, aquelas cristas impulsivas que delas subsistem involuntariamente do todo de que fazem parte, como por exemplo, a veracidade que o uso de entorpecentes abrolha desde tempos mais remotos.

Arrebatados em um mundo fantasioso, esses "períodos de veracidade", do bem estar ou fantasia que o dependente químico experimenta, ou diz experimentar; insinuam provocantes ponderações sobre a interferência fenomenológica existencial e a dependência química; sua subjetividade e sua interferência na vida humana são inegáveis, que traz em seu âmago, o quanto se faz necessário o propósito de buscar uma maneira ampla de compreensão à dependência química com o propósito de refletir sobre o individuo imerso a tal prática de uso; esmiuçando o olhar fenomenológico com suas incógnitas existenciais e elementos chave como: Liberdade ou subjetividade, caráter social e enfrentamento humano no que se refere à busca de prazer existencial, procurando para isso, o entorpecer-se, sem perceber uma possível inexistência de sua permanente existência.

       Ao nos reportarmos aos meandros históricos da humanidade, logo se percebe que o homem tem longa proximidade com psicotrópicos. Há milênios sua utilização é posta, desde festividades romanas até rituais religiosos e indígenas.

A partir de bases bibliográficas de pesquisas já concretizadas que confirmam a veracidade desta informação. Sugere, ou expõem a existência enquanto fator de angústia humana remetendo o indivíduo à busca de si mesmo a partir de substâncias que proporcionem bem estar e ou outra especificidade pontual para alguma finalidade, mesmo que incógnita do próprio ser.

Em todas as culturas, portanto, é reconhecido que o uso de entorpecentes, que faz parte da historicidade humana.

A partir desse raciocínio, logo se nota que o homem traz consigo, a necessidade de buscar meios em que favoreça seu bem estar.

            Nessa perspectiva, as estaturas da existência de acordo com os fundamentos fenomenológico a esse respeito, é possível notar uma deficiência vinda da sociedade no que se refere à necessitada prudência quanto a exterioridades basilares que  abarcam  o entendimento da sociedade tais quais, culturais, políticas e econômicas,  importantes ao entendimento do consumo de drogas.

Entretanto, vale ressaltar a precisão de não se ater simplesmente apenas á determinados pontos de vista já posta, más a respeito da singularidade do olhar existencial sobre a dependência química, é que certamente convém considerar enquanto profundamente importante em se tratando da confluência entre fenomenologia e dependência para uma análise mais  intensa  a respeito da característica do existir de muitas pessoas em específico, a adicção.      

         Todo o conjunto desses conceitos vai de encontro não somente com o entendimento da sua importância fenomenológica existencial cotidiana apresentado a olho nu nas mais diversas situações do indivíduo dependente, más fundamentalmente na relevância que há na gravidade de seu uso, de uma possível perda da liberdade existencial, devido ao perigo que a droga apresenta com suas intrínsecas características, sem que o próprio usuário o perceba.

         Esse movimento fenomenológico é de um dos mais importante e intrigante considerando sua complexidade, pois estamos tratando de uma síntese heterogênica que aproxima a narrativa de grandes estudiosos como Hurssel (1859) e Heidegguer (1889) percussores da fenomenologia os quais pautaram em seus pensamentos a pluralidade da psicopatologia.

            Partindo do desígnio do trajeto histórico do consumo de entorpecentes com vistas para as mais diversas finalidades, notamos um atestamento da perda da riqueza cumulativa das denotações caracterizado e correspondente que se constelaram no marco grego pathos, do qual se abrolhou, filosoficamente, o ajuizamento do julgamento concernente à passividade do sujeito, conhecimento conferido, suportado, dominante, bruto, por oposição, isso tudo em obstinação ao logos ou aphronesis, que trazem consigo o significado do raciocínio inteligente e comportamento claro, o que propicia um posicionamento ploblematizador dos estudiosos a respeito do tema em epígrafe por se tratar de questão existencial que remete ao patológico e ou ao paradoxal.

A consideração explanada neste sobrevôo indicada sobre essa conjuntura, é que se pensam os porquês da perda de controle pessoal desde a era arcaica, segundo a origem de diversos relatos históricos, nem sucessivamente por findo dominante e nem continuamente inteiramente antagônico ao indivíduo. O motivo integralmente irreprimível, aceitada ainda na fase da civilização grega obsoleta, é a insanidade divinal (até), agitadora da consciência natural e que se conferiu "a um causador diabólico externo”. Ethos anthropoi daimom (o demônio do homem é o seu caráter), onde pode ser visto estilhaços semânticos de reflexões aprofundadas para o consumo de entorpecentes, como contra-golpe à culturas incivilizadas bem como a interiorização do componente passional.

Desta feita, o trabalho se seguirá destrinchando o fenômeno de maneira existencialista no humano, que observa que nas mais distintas esferas do Ser, do vazio e da angústia, é que se torna possível ver o mundo e as coisas e principalmente os outros de maneira profundamente semelhante, e que, certamente de acordo com estudos específicos, poderão avançar na pesquisa proposta com vistas no valor que a mente humana abarca, objetivando o reconhecimento da importância do conhecimento dos efeitos existenciais para a vida.

2 - O Olhar Existencial e a Dependência Química

Mais freqüentemente iniciada já na fase da adolescência e puberdade, a dependência química é um dos transtornos mais comuns na modernidade. Por se tratar de uma pratica universal e milenar, esse tipo de hábito se apresenta nas mais diversas culturas de modo que certamente não há quem não tenha conhecimento a respeito de algum tipo de droga, bem como seus intuitos. Por se tratar de uma ação distinta humana, a dependência química está sempre em volta ao cuidado em saber tanto qual o sentido em utilizá-la quanto a causa que provoca esse uso (OLIEVENSTEIN,C 1984)

Como se trata de conceitos inexplicáveis, pode tão somente ser apenas abrangido graças à singularidade que sua especificidade abarca. Segundo as analises de Dilthey, este exorta quanto ao estilo mutilador da explicação, isso porque, esta submerge nos fenômenos humanos o que exige sua definição. (DILTHEY, 1924)

Nessa perspectiva, as análises pertinentes ao dependente químico de modo existencial não objetiva explicar o porquê do uso das drogas, más procurar entender o porquê que o sujeito faz uso destas substancias com olhos voltados ao modo e ou modelo de sua própria existência, isso porque, para esclarecer, teria que necessariamente partir de onde veio a necessidade de alguns sujeitos a entorpecer- se. (KRÜGER.H 1994)

A noção de causalidade e a relação entre um evento e outro seria o efeito, ou seja, um modo de como se relaciona e surgem os eventos. Logo, aprender a causalidade é aprender sua inteligibilidade. Esse conceito de causa surge em Aristóteles quando se pretende responder a questão “ Porque as coisas são como são?” A causa eficiente em Aristóteles  deu espaço a busca da relação de causalidade entre fenômenos.

( HEGEL, 1988)

Ao tratar da causalidade, o processo investigativo deste conceito concernente a dependência química, deve considerar o histórico emocional, natureza genética, meio em que vive, precedentes psicopatológico, dentre outros preceitos que valorizem questões existenciais como um todo. (HEGUEL, 1988). A luz do existencialismo colocado por Sartre, de modo didático como recomenda muito bem o existencialismo, o sujeito não deve ser culpado pelo que o acaso fez com ele, embora seja completamente responsável pelo que fará com aquilo que o acaso fez com ele.

 

"Que significa aqui dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialismo, se não é defensível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é não apenas como ele se concebe mas: como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele se faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade [...]. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem antes de mais nada é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar num futuro. O homem é antes de mais nada um projeto que se vive subjetivamente em vez de ser um creme, qualquer coisa podre ou uma couve-flor; nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu inteligível e homem será antes do mais o que tiver projetado ser. Não o que ele quiser ser. Porque o que entendemos vulgarmente por querer, é uma decisão consciente, e que, para a maior parte de nós, é posterior àquilo, que ele próprio se fez. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me; tudo isso não é mais do que a manifestação de uma escolha mais original, mais espontânea do que o que se chama vontade. Mas, se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. (SARTRE, O existencialismo é um Humanismo, p.p. 182-184)

 

Nessa linha de raciocínio existencialista, é de fundamental importância observar a corroboração de Hegel onde seus pensamentos se apresentam enquanto sustentáculo no que se refere ao conceito de reconhecimento, que decorre da duplicação da consciência-de-si em sua unidade. (SARTRE, 1987)

Logo, o existencialismo apresenta confluência com a dependência química, já que, disposições como paternalismo, piedade, indulgência, materialismo dentre outros tantos sentimentos emocionais são desacorçoados ao entender que cada sujeito traz consigo seu jeito próprio de ser, tem o seu próprio tempo e caminho. E ainda, não é possível que nenhuma pessoa seja arquétipo existencial para ninguém.

O uso de drogas mesmo com todo aparato de liberdade e subjetividade que tal ação sugere, ainda assim o indivíduo tem que considerar a veemência social, desta maneira, na medida em que este hábito suscita inconsideração social, este tipo de conduta deixa de ser uma ação de responsabilidade exclusivamente individual. (OLIEVENSTEIN,C 1984)

         São esses extremos apontados por Sartre que fundamenta seus pensamentos, pois de um lado, defende os direitos individuais, e por outro, observa as cobranças da Coletividade[1].

Destarte, nota-se que o aforismo do autor está voltado a uma ética muito expressiva. O que se chama de liberdade incondicional Sartre trás consigo antes de qualquer coisa uma interpretação estrutural conveniente da consciência, ou seja, baseada na competência de circular os acontecimentos da negativa, ou ainda, colocar-se à frente, separados delas. Contrário a isso, seria como o que ocorre entre os animais, que passam sua existência condicionada a essas coisas. (Sartre,1987)

O sujeito mesmo drogadicto, ainda assim traz consigo o encargo de ponderar e repensar suas opções. Freqüentemente avalia-se o dependente químico como sendo alguém sem a capacidade necessária de ponderar, recriminar suas preferências e se responsabilizar por cada uma delas. Mesmo enquanto escravo das drogas e de si mesmo, o ver-se no outro é que o fará repensar esse tipo de ação. (OLIEVENSTEIN,C 1984). [...]