A demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobrás era previsível a partir do momento em que eclodiu a crise dos caminhoneiros. Sem dúvida alguma ele estava fazendo uma boa gestão na empresa, cortando custos, vendendo ativos desconectados com o negócio principal, pagando dívidas, negociando outras. A eficiência de sua gestão pode ser medida pela valorização da empresa no mercado e, também, a queda quando foi anunciado o seu desligamento.

O medo dos investidores é a possibilidade da empresa voltar a ser um instrumento de política econômica do governo, o que deveria ser proibido, pois se trata de uma companhia de economia mista e não puramente estatal. Como sociedade de economia mista a Petrobrás não pode ser utilizada pelo seu acionista principal para fazer controle de preços, pois isso gera prejuízos para todos os acionistas, individuais ou institucionais como seguradoras e fundos de pensão, nacionais ou estrangeiros.

Pedro Parente errou quando esqueceu que a empresa, mesmo sendo de economia mista, tem que ter uma política de Responsabilidade Social Corporativa e as decisões da empresa com relação aos preços praticados tem um impacto econômico e social explosivo. Os aumentos quase diários nos preços dos combustíveis gerados pela alta da cotação internacional do petróleo e a volatividade do dólar poderiam ser melhor administrados e com um mínimo de previsibilidade sem afetar os resultados da empresa. A utilização do custo médio para reajustes mensais poderia ter sido uma saída menos drástica, pois preservaria os interesses da empresa sem criar maiores dificuldades para os consumidores.

Como ele defendeu essa política com unhas e dentes, ficou difícil voltar atrás, o que demonstraria sua fragilidade como gestor todo poderoso da companhia. Como é um homem de formação cartesiana, não teve tempo de dar uma lida no Príncipe de Maquiavel. O pensador florentino diria que antes de tomar uma decisão que tem grande impacto na sociedade. Seria sensato ouvir bons conselhos, pois voltar atrás em uma decisão enfraquece o poder do príncipe, dando a impressão de que não tem autoridade ou competência.

A sua defesa intransigente da política de preços deixou o Presidente da República impotente diante das críticas dos presidentes do senado e da câmara dos deputados, bem como de alguns ministros. Sem apoio do Presidente e prevendo as dificuldades para mudar a política adotada, achou melhor montar no cavalo que já estava encilhado à sua porta e sair a galope, como diriam os gaúchos.

Enfim, é sempre bom lembrar que uma empresa com controle público, mesmo numa economia capitalista de livre mercado, tem suas limitações nos processos decisórios, pois deve satisfações aos seus vários stakeholders, como a sociedade, funcionários, congresso, sindicatos etc. Resta saber se existe um plano estratégico da empresa que prevê uma análise das suas políticas de Responsabilidades Sociais antes de decisões estratégicas impactantes.