ANTUNES, Ricardo. O que é Sindicalismo.  São Paulo: Brasiliense, 1994.

A DÉCADA DE 80: ANOS DE MUDANÇA NO SINDICALISMO BRASILEIRO – O NASCIMENTO DA CUT E DA CGT

      Os anos 80 são marcados por transformações no movimento sindical brasileiro; ressurge a ação sindical e grevista, retoma-se a velha aspiração operária, de caminhar para a criação de uma Central Única dos Trabalhadores, capaz de ser ferramenta na luta dos assalariados em seus embates contra o capital.

      Em 1978, segundo o DIEESE, havia meio milhão de trabalhadores em greve, em 1979 este contingente chegou a três milhões  e meio, mas em 1980 houve queda  para 800 mil grevistas. Era o capital tentando recuperar-se, após os avanços expressivos obtidos pelos trabalhadores nos anos anteriores.

            Tendências que marcaram os anos 80: expansão significativa das lutas dos assalariados médios e a constituição de inumeráveis associações sindicais e profissionais; ocorre um pipocar de greves de professores, funcionários públicos, médicos, bancários, trabalhadores em serviços, possibilitando fortalecimento da luta sindical. No mundo rural, o avanço foi muito expressivo, aumentando a organização e resistência dos trabalhadores, houve greves memoráveis dos trabalhadores agrícolas, chamados “bóias frias”, em várias  regiões do país.

      Nesse contexto, em 1981, ocorre a Primeira Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, depois de muita resistência dos trabalhadores à ditadura militar, reuniu mais de 5 mil delegados sindicais e de base, representantes dos assalariados urbanos e rurais (quase mil representavam o campo), operários e assalariados médios, funcionários públicos e sem terras. Foi um importante evento da historia sindical e do trabalho em nosso país; significativo pela representatividade, pela importância política (era o primeiro encontro nacional desde o golpe de 64 e o maior de toda a historia operária ate então).

     Neste encontro deu-se um passo efetivo para a criação da Central Única dos Trabalhadores. Mas, paralelamente a este avanço organizativo, acentuavam-se as diferenças no mundo sindical: de um lado encontravam-se tendências sindicais que desembocaram no chamado Novo Sindicalismo, que aglutinavam os setores mais importantes do sindicalismo mais combativo e, de outro, a então chamada Unidade Sindical, que aglutinava a esquerda tradicional, aliada ao setor do peleguismo.

      E foi dessa divergência que, em 1983, começaram a nascer as duas principais centrais sindicais hoje existentes em nosso país: Central Única dos Trabalhadores (CUT), nascida no Congresso de S. Bernardo  e a  Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), nascida no Congresso da Praia Grande e posteriormente denominada Confederação Geral dos Trabalhadores (sua denominação, ao final dos anos  80, tem oscilado entre “Confederação” e “Central”, em função dos grupos que a tem dominado).

     O que diferencia o sindicalismo praticado pela CUT, frente àquele realizado pela CGT?

      A CGT, que nasceu com o forte apoio da esquerda tradicional, representada pelos PCs, é, ao final dos anos 80 e início de 90, uma Central engolfada pela burocracia sindical que procurou modernizar-se  e para tanto associou-se ao chamado “sindicalismo se resultados”, tendência que defende enfaticamente o  capitalismo e insere-se na onda neo-liberal, em voga novamente no final dos anos80. ACGT é uma corrente sindical sem base expressiva (salvo pouquíssimas exceções) e que depende, para sua existência, do apoio de inúmeros sindicatos de “carimbo”, que ainda existentes em nosso país.

     A CGT, agora sem o apoio da esquerda tradicional, que se aproximou da CUT, tenta consolidar-se através do “sindicalismo de resultados”. Esquece que o capitalismo brasileiro é fundado na superexploração do trabalho. Sonha, portanto, com uma Suécia num país de imensos níveis de miserabilidade...Mas conta com o total e irrestrito apoio da mídia (TVs, rádios, jornais), ávida por divulgar líderes sindicais que defendem o capitalismo...

       A CUT, por sua vez, nasceu em torno do novo sindicalismo, do sindicalismo mais combativo que se constituiu a partir de meados da década de 70 e aglutinam sindicalistas independentes (isto é, sem militância anterior), setores da esquerda católica, tendências socialistas e comunistas desvinculadas dos partidos da esquerda tradicional, entre outras tendências.  Tendo como eixo de sua ação o apoio à luta econômica dos trabalhadores contra o arrocho salarial e a superexploração do trabalho, ampliou-se significativamente ao longo da década de 80. Canalizou também sua luta a favor da plena autonomia dos sindicatos frente ao estado e desde o seu terceiro  Congresso Nacional, realizado no Rio de Janeiro em 1986, assumiu,em seu Programa, um compromisso de combate ao capitalismo e de luta pela construção da sociedade socialista. Suas principais tendências são: a Articulação, grupamento majoritário, mais sindicalista e com menos ênfase político-ideológica, da qual participam vários dirigentes sindicais que têm significativa projeção nacional e a CUT pela Base, com uma presença menor, expressiva e que assume um perfil político e ideológico de esquerda, acentuado, de inspiração marcadamente socialista.

       Nos embates e nas disputas entre estas  e  outras tendências existentes ou que se vêm incorporando, a CUT tem avançado em sua trajetória, constituindo-se hojeem uma Centralcom forte apoio dos setores mais organizados da classe trabalhadora. Se é possível estimar a existência, em 1988, de aproximadamente 7426 sindicatos em nosso país, dos quais 4277 são urbanos e 3149 são rurais dados extraídos do IBGE, Ministério do Trabalho e da CUT), a Central Única dos Trabalhadores tem presença junto àqueles sindicatos mais expressivos, mais organizados, com maior tradição de lutas.

      A CGT é sustentada por ampla parcela da burocracia sindical antiga e subserviente, herança do sindicalismo atrelado da época getulista e daqueles que se proliferam durante a ditadura militar. E, também, daqueles que, por convicção ideológica, optaram pela defesa do capital, como fazem os lideres do “sindicalismo de resultados”. De modo que, ao final dos anos 80 e inicio de 90, o quadro sindical é bastante distinto daquele existente na década anterior: aqueles que de algum modo estão inseridos na defesa dos interesses dos trabalhadores, encontram seu leito natural na ação da CUT. Aqueles que, por sua vez, querem integrar e conciliar a luta entre capital e trabalho, encontra seu caminho tanto na “moderna” burocracia sindical, quanto na vertente denominado sindicalismo de resultados.

      A USI (União Sindical Independente) é inexpressiva em termos de bases sociais efetivas e controla a maioria das Confederações que ainda  praticam o peleguismo arcaico, contrário aos interesses  dos trabalhadores. Portanto, o sindicalismo do final dos anos 80 e início de 90, além de resistência que vêm desempenhando desde o nascimento do sindicalismo combativo, terá também caca vez mais nítida conformação política ideológica, entre os que defendem a ordem do capital e aqueles que, de algum modo, inserem sua luta no universo anticapitalista.