A culpa é do outro.

      Nesta semana circulou na internete uma crônica apócrifa, que trazia uma foto do nosso maior cronista, Érico Veríssimo – querendo com isso insinuar ser de sua (dele) autoria um protesto razoável e devido aos “escândalos” e “polêmicas”, causados pelo baixo nível do programa imposto pela TV Globo – denominado BBB, o qual cuida sim de fazer e praticar sem cerimonia, apologia ao sexo e outras avenças que a boa educação e o bom caráter, deveria repelir, porque deforma e, explicitamente, induz ao mais baixo nível de relacionamento humano, como se fosse realidade, que não é.

 Agora no dia 02 (dia de Iemanjá) vem o próprio em sua coluna de quarta-feira, na seção Opinião, do Jornal O Globo, falar sobre o assunto, assim como que firmando a sua posição ´murista` é bem verdade, nem contra nem a favor, mas jogando a culpa no ´outro`, aquele que, segundo sua visão, detém o livre arbítrio para “desligar” e/ou “mudar de canal”. Inclusive nos informa da precocidade da sua neta que começou manusear o controle remoto “antes de começar a andar”.

 Acredito mesmo que a menina faça isso com facilidade, o que não deve acontecer, é ter desenvoltura intelectual, apesar de neta de quem é, para discernir o que deve ou não assistir o que pode ou não ser ouvido, aliais como ocorre na maioria dos lares brasileiros, e, ouso até a afirmar, esse discernimento não é próprio até por quem já atingiu a maioridade. Os que tem a felicidade de chegar ao segundo grau constitui uma minoria de brasileiros.

 Fica patente a posição do cronista perfeitamente alinhado à ideologia da Globo, direcionada, apenas e tão somente, para obtenção de lucros, sejam eles carreados independentemente, da forma ou do processo de “emburrecimento” da sociedade. Isso representa o mesmo alinhamento que os Generais do “Führer” que, quase por unanimidade, alegaram, no julgamento em Nuremberg, que “apenas cumpriam ordens”, e por isso, estariam isentos de culpa, pelas atrocidades cometidas pelo sistema implantado por Hitler. Manda quem pode, obedece quem tem juízo ou é irresponsável.

 A isso entendo como uma forma pacífica de dizer à sociedade – cuidem de si, individualmente, pensem apenas no seu circulo e deixem a sociedade seguir ladeira abaixo, coletivamente. Daí se explica o porque o Brasil atinge economicamente a sexta posição e ao mesmo tempo fica estagnado como um dos piores índices de IDH do planeta. Porque a responsabilidade do ´malfeito` é sempre do outro, e não minha, também.

 Porque os conglomerados cuidam irresponsavelmente de enriquecer seus acionistas e desprezam, como vemos, a responsabilidade social, e pior, com a conivência de intelectuais do porte de Veríssimo, de Pedro Bial e outros tantos. A culpa é do outro, não minha. Dirão em coro: é assim mesmo. Até quando... até quando?

 É, uma forma intelectual de nos dizer: “comam brioches” e, ainda zombar dos pequeninos dizendo porque vocês escolhem isso e não aquilo, se tem o poder do livre arbítrio, quando sabemos nós, por vivência que não é bem assim. O povo segue os modismos, as formas e não tem senso crítico quando posto diante de fato consumado como o BBB. O que o Sistema Globo “vende” é diversão(?), duvidosa sabemos nós, mas, quem liga?. É para o povão – os cordeirinhos. Aí Bial – quarenta milhões de participantes por telefone? Nada mal, contanto que o subproduto em deseducação não venha à tona. “O amor é lindo.”, quando realmente represente amor e no devido contexto.

 E volto a questão: onde fica a “responsabilidade social” a “responsabilidade jornalistica”, É para isso que se reivindica a liberdade de imprensa?. Isso quer dizer apenas que: o povo também tem o direito de dançar conforme a música, se o BBB pode transgredir normas morais, com um fim pouco ético, também nós podemos sem cerimônias: fazer xixi na rua, avançar na faixa de pedestres, cheirar cocaína, fumar craque, praticar sexo em publico, roubar na feira e nos super mercados; contanto que possamos apenas e tão somente informar aos nossos pares, virem seu olhar para o outro lado, usem seu livre arbítrio, não olhem pra mim. Porque até minha neta já sabe virar a cabeça para o outro lado e apreciar a paisagem.

 É claro daqui a vinte cinco anos, a menina vai se formar, quiça tornar-se doutora e lembrar que seu avô famoso, por vias de subordinação financeira, se pôs a favor da máquina que se preocupa não com o bem estar coletivo, mas sim e somente, com seus ganhos gananciosos, e isso doa a quem doer, fira a quem ferir.

 As palavras se vão, mas os exemplos ficam... “todos os rabiscos são iguais, só ela vê a bailarina, o copo, o foguete...” mas um dia o significado real virá à tona, com outra consciência espero eu. Porque o tempo é o senhor da razão.

 Apolinario de Araujo Albuquerque ([email protected])

                                                                          Rio, 03 fevereiro 2012.