A compreensão e o respeito pelas opções de vida, que as pessoas vão tomando ao longo das suas existências, são uma dificuldade que, principalmente, nas pequenas localidades, se manifesta, por vezes, com contornos humilhantes para quem sofre este tipo de interferências, e por parte de quem não tem qualquer argumento fundamentado e, ainda que o tivesse, seria inaceitável a violação de direitos essenciais, como é o da privacidade.

A cultura da maledicência, que por vezes se interioriza: seja por influência de terceiros; seja por deformação educativa, normalmente, mais tarde ou mais cedo, tem consequências imprevisíveis e/ou irreparáveis. Em vez de uma tal cultura “negativista”, intolerante, violadora de direitos naturais e inalienáveis, poder-se-á enveredar pelo aperfeiçoamento de um espírito de verdade, de aceitação das dificuldades de cada pessoa e ajuda na resolução das situações que afetam quem nelas está envolvida. Afinal uma educação/formação, obviamente, para o bem.

O relacionamento sincero, transparente e de entre-ajuda será, provavelmente, o que conduz à paz, à compreensão dos problemas e ao respeito, numa sociedade alargada, pequena comunidade, ou na família. Não haverá provas científicas que a maledicência conduza aos valores positivos, e mais nobres para a pessoa humana, justamente porque o que se verifica é que os conflitos nascem, e se agravam, quando não se respeitam os direitos e as opiniões das pessoas, que se expressam de forma diferente, embora com educação, e respeito pelas ideias contrárias.

A realidade, em certos domínios e níveis, aponta, ainda, para a intriga, para a intromissão indevida na vida alheia, para a mentira, com objetivos nem sempre transparentes, que provocam situações conflituosas entre pessoas, grupos e famílias. Preparar as pessoas que, frequentemente, utilizam tais métodos, com uma educação e formação que contrarie aquelas práticas, será uma das estratégias a seguir.

É possível que parte da sociedade tenda a valorizar aspetos negativos e a apontar erros, como se esse comportamento resolvesse os problemas reais ou inventados. Sabe-se que a crítica derrotista conduz os alvos delas a situações deprimentes, desumanas e, por vezes, suicidas. Na verdade: «Como resultante de heranças culturais talvez milenares, tende-se a prestigiar e a praticar mais a crítica, a condenação e o destaque das imperfeições. Se for feito um levantamento, em qualquer ambiente, de quantas vezes se critica pelos erros e quantas vezes se valoriza pelos acertos, a crítica vai ganhar de goleada.» (RESENDE, 2000:215).

Pretende-se, nesta reflexão, valorizar a crítica construtiva, fundamentada, com objetivos nobres, que sirvam ao bem-comum e à dignificação das pessoas criticadas, à correção de erros, sempre no respeito, com total tolerância e solidariedade. A crítica, a partir da mentira, da intriga, da falsidade e da traição, nem deveria ter cabimento numa sociedade de valores altruístas. Portanto, será a partir do erro, verdadeiro, assumido e respeitado pelos demais, que a ela, a crítica, poderá ter um valor construtivo, pedagógico.

Toda a pessoa comete erros ao longo da sua vida, e em diversos contextos. Equívocos que aqui se consideram involuntários, não premeditados, nem para atingir objetivos inconfessáveis. Elaborar uma crítica negativa, a este tipo de erros, constitui um engano ainda maior, cujo propósito é destruir, humilhar, até porque: «A expressão, errar é humano, poderá, entretanto, ser dispensável como frequente justificativa para as falhas, se cultivar a ideia de que errar faz parte do processo de aprendizagem e erro, que dura a vida inteira. O erro deve ser encarado com mais naturalidade. Especialmente por causa dos sentimentos negativos que se escondem por trás dele.» (Ibid.:214).

Naturalmente que o erro, para quem o pratica, de forma involuntária, comporta, em si mesmo, um sentimento de culpa, que provoca sofrimento, por vezes vergonha, obrigando a um pedido de desculpa, ou mesmo de perdão, em situações mais graves. Nestas circunstâncias, qualquer crítica negativista só vem agravar o sofrimento de quem errou. Pelo contrário, uma crítica construtiva, reveladora de compreensão, tolerância e solidariedade, proporciona conforto e dignidade para quem erra e para quem critica.

Estudar a crítica ao nível da sanção é uma outra abordagem muito interessante. Na verdade, as críticas negativas, ou positivas, talvez se possam equivaler à sanção negativa ou positiva, ou ainda ao elogio ou à reprovação, respetivamente. Claro que quem: voluntária, consciente e objetivamente comete um erro será sujeito a uma sanção, que pode ser de punição, simples ou agravada; então, na linha de tal raciocínio, a crítica é uma forma de punição (ou elogio), tanto mais acentuada quanto as circunstâncias que a envolvem – gravidade, local, objetivo, prejuízos a terceiros, premeditação e outras a considerar.

Mas, tal como num processo sancionatório, assente no direito positivo, a crítica também se poderá fundamentar no direito consuetudinário, sem outras consequências para além das sanções sociais que a comunidade, normalmente, utiliza. Estas sanções sociais, nos pequenos meios, por vezes, são mais marcantes e perduram para o resto da vida, do que a simples punição judicial por pequenos delitos.

No confronto de ideias, opiniões, factos e quaisquer outras situações, a crítica é sempre bem-vinda, desde que não ofenda os direitos daqueles que são criticados. Em democracia, a crítica construtiva é salutar, quando feita em liberdade e com responsabilidade, e no respeito pela dignidade dos adversários.

A crítica deve trazer algo de novo àquilo que se critica, seja uma solução, seja o evitar de novos erros, seja o aplaudir dos sucessos, porém, em caso algum, deve humilhar quem quer que seja, até porque é no confronto de ideias, e no conflito de opiniões que se obtêm, quantas vezes, excelentes resultados.

Numa sociedade democrática, que se pretende livre, aberta e praticante dos valores que lhe são tradicionais, estes, desde que se compatibilizem com outros que, entretanto, as novas gerações vêm criando e defendendo, sem ignorar os que lhes foram transmitidos, a crítica pode ser um elo de ligação entre sucessivas gerações e, para isso: «Devemos ter a oportunidade de escolher. Para o efeito é necessário salvaguardar a democracia que permite à população exprimir-se e participar nas decisões mais importantes que orientam a sociedade.» (ANGERS, 2003:179).

É nesta linha de orientação que aqui se defende a crítica, isto é, criticar uma pessoa, um grupo ou uma sociedade deverá implicar apresentar alternativas construtivas, e a partir destas encontrar as melhores soluções que, finalmente, conduzam à tomada de decisões, e competente implementação das mesmas.

Quantas vezes: se critica, sem conhecimento verdadeiro do que se critica; quantas vezes se critica porque não se gosta; não se simpatiza com a pessoa, o grupo ou a solução, entretanto encontrada por outros, porém, com a agravante de que quem critica, nestas condições, nem sequer passou pelas situações que critica, que nunca deu a cara por nada, que nunca contribuiu para a construção de uma ideia positiva. Esta crítica ofensiva e destrutiva não tem qualquer interesse para uma sociedade democrática, e muito menos para o bem-comum.

Compreender a vida pela crítica positiva e solucionadora dos imensos problemas que atingem a sociedade, será, seguramente, um bom percurso para se alcançar a felicidade, no seu sentido mais geral. A preparação mental para um tal percurso é fundamental e ela consegue-se, em parte, pela educação e formação permanentes, ao longo da vida. O valor a que se poderá chegar, provavelmente nas idades mais provectas, pode designar-se por “sabedoria”, esta no seu sentido de Saber-estar e Saber-ser na vida ou, se se preferir, como virtude: “Prudência”.

De facto, nem sempre será pela força física da vida que se obtêm soluções para a estabilidade social. A voz serena, assente na experiência da vida vivida, será um contributo a ter em conta, pelas gerações mais novas tendo, inclusivamente, em atenção que: «A sabedoria é luz e não fogo; ilumina o caminho, mas não aquece o coração; não propele a alma à acção. (…). A mocidade triunfou, mas não a luz; a velhice, dona da luz, tirita por falta de fogo. (…) Não podemos ser a um tempo jovens e sábios» (DURANT, 1988:456).

Algumas sociedades atuais, um pouco por todo o mundo, em diversos setores de atividade, têm ignorado, preconceituosamente, aqueles que, durante um determinado período das suas vidas, contribuiriam com o seu trabalho para construírem um mundo melhor e, quando chegados à idade em que poderiam transmitir toda a sua sabedoria, às novas gerações, são humilhados e afastados, quantas vezes, pelas gerações que aqueles ajudaram a criar, estudar e prepararem-se para a vida ativa, então, a ingratidão é uma forma de crítica negativa, que ofende e magoa, aqueles que, na verdade, possuem soluções para uma sociedade mais justa e digna para todos: crianças, jovens, adultos e idosos.

Criticar: quem quer continuar a trabalhar, por exemplo; quem, involuntariamente, cometeu um erro; quem tem ideias diferentes; quem tem empregos mais humildes, entre outras situações, revelará alguma falta de bom-senso, de Sabedoria e de Prudência se, entretanto, não apresentar soluções plausíveis e dignificadoras para as pessoas que critica, podendo, também, demonstrar falta de ética, e até mesmo de deontologia, quando no domínio profissional.

É por isso que se deve explorar muito mais certas áreas do conhecimento. A par da dimensão tecnocrata, a pessoa humana poderá desenvolver a sua formação integral, nesta se incluindo disciplinas axiológicas, de ordem ético-moral, filosofia e cidadania, religião e política, psicologia e sociologia, história e direito, entre tantas outras.

O conhecimento acumulado ao longo dos anos, o comportamento que ele vai determinar, leva à sabedoria, que é necessário possuir para atenuar certo tipo de críticas destrutivas, para ajudar a resolver problemas que afetam, cada vez mais, a sociedade, enfim, para serem tomadas boas decisões.

Afastar aqueles que ao longo de uma vida acumularam saberes, é o primeiro erro que, seguramente, vai contribuir para o alastramento das críticas negativistas, e para o aumento de um certo número de crises.

 

Bibliografia

 

ANGERS, Maurice, (2003). A Sociologia e o Conhecimento de Si. Uma outra maneira de nos conhecermos graças à Sociologia. Trad. Maria Carvalho. Lisboa: Instituo Piaget

DURANT, Will, (1988). Filosofia da Vida. Os Problemas Filosóficos da Existência Humana, Trad. Monteiro Lobato, Lisboa: Livros do Brasil.

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

 

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