A crise é de confiança
Por josé maria couto moreira | 03/03/2016 | CrônicasA crise é de confiança
José Maria Couto Moreira*
A Keyserling (Hermann Graf), aquele filósofo alemão que encheu o mundo de verdades, é que pertence a máxima de que todos nós temos duas pátrias : a nossa e a França.
Esta afirmação, por si, é uma verdade imensurável. O governante que lê a história francesa, os seus reveses, as suas aflições, suas amarguras, os seus fracassos, recolhem o suficiente para que nos ilustremos todos sobre o presente, sim, mas, muito mais, sobre o futuro, aquilo que se negará ou se confirmará. A França, território respeitável de homens e de ideias, prestou-se, em nome da civilização, a um laboratório social que haverá de proporcionar ensinamentos sobre todos os temas a todos os povos.
A propósito, temos visto e ouvido o ministro da Fazenda dissertar sobre o que está acontecendo, porque está acontecendo e o que vai acontecer, aventurando-se a anunciar o resultado de etapas temporais que nem o inconsútil Omar Cardoso, em sua apreciada verve de astrólogo e de sociólogo, seria capaz de prever. Mesmo o telespectador menos versado em economia percebe que seus comentários repetitivos não atingem a verdade técnica. São palavras carregadas de tatibitate, raciocínios pouco articulados, acompanhados de uma fala presa (seria araldite ?).
O que falta hoje ao país é o que faltou na França pré-revolucionária, e se resume em apenas um vocábulo: confiança. O brasileiro, depois de tantas tentativas e de tantas desistências, não confia mais nos homens e nas instituições. Não confia em que haverá segurança, não confia em que haverá saúde, não confia em que haverá educação, não confia em que haverá transportes, etc, etc. Experimentamos a mais grave crise de confiança de toda nossa história. E não há o mínimo sinal de que este mais precioso instrumento para governar uma nação possa surgir. Esta confiança não virá da base, mas do ápice da pirâmide. Há de começar do supremo magistrado, daquele de onde emanam as ordens e os regulamentos, daquele de onde partem os nomes para tutelar a população e a Nação. Suas biografias de sincera convicção cívica e ética, seus antecedentes ideológicos e práticos é que reconstruirão um clima propício aos negócios, à serenidade na administração pública e à tranquilidade social, vértices de uma economia . Medidas tópicas em qualquer setor não constituem remédio mortal para a crise. O governo se ilude e ilude a sociedade, esta, sempre inocente diante da incompetência e da corrupção, isto é, da própria realidade nacional. Enquanto o governo não inspirar confiança diante de seu povo, não haverá progresso em esforços alhures.
Em França, naqueles anos combalidos que antecederam a queda dos Bourbons e o país se conflagrou, a população toda entregue à mais triste e sofrida desesperança, vez ou outra surgia o nome salvador: chamem Necker, bramia o povo, certo de que o louvado representava os reais interesses do povo e da pátria. Mas o governo, receoso, cedia aos apelos da elite (clero e nobres), esta, como sempre, a grande vilã da história.
*Advogado