Acordar ao meio da noite, não ter tempo hábil para pegar suas roupas, brinquedos ou seu livro com aquela dedicatória especial. Deixar para trás sua gente, seus amigos, familiares, sua identidade. Sair sem tempo de dar um último abraço ou aquele último beijo. Essa é a realidade de inúmeras pessoas que adentraram o século XXI diante de uma das mais intensas crises humanitárias já ocorridas. São pessoas que, fugindo de conflitos internos, perseguições políticas ou religiosas, de guerras ou de violações de direitos humanos procuram em terras distantes o alívio para as suas ansiedades. A chamada Crise de Refugiados pela qual o mundo passa coloca em cheque pregações e atitudes há muito ouvidas em nossos púlpitos e defendidas pelos entusiastas do amor ao próximo.

          Embora dramática, a situação dos refugiados atuais não é novidade. De quando em quando, a história nos relata um determinado período de crise que interfere no curso mundial, provocando a saída de grande parte da população de uma região para outra em busca de soluções. Assim como os tempos atuais vivenciam a crise provocada pela guerra civil, na Síria; a intensa crise política, agravada pelo grande terremoto, no Haiti ou mesmo os profundos problemas político-econômicos da América Latina, tivemos também na antiguidade momentos de fortes crises, sobretudo a de fome. O livro de Êxodo, em seus capítulos 1 a 3, trata de um desses momentos. Ao perceber a escassez de alimentos e tendo notícia de que no Egito havia mantimentos, Jacó não hesitou em enviar seus filhos para que buscassem, em terra estranha, provisão. E, como se sabe, todo o seu povo, o povo de Israel, seguiu para se estabelecer naquela terra. O povo de Deus se refugiou da fome em terra estrangeira. 

         É exatamente isso que a esta geração assiste hoje. Basta pegar um coletivo para que se ouça diversas línguas e se veja os mais variados rostos e olhos ansiosos em busca de acolhimento. Nas feiras, nas calçadas, é possível ver que o estrangeiro está aqui. Hoje a sociedade testemunha em seu vizinho ou nas inúmeras reportagens o fato de que o mundo se mexeu e é colocada na berlinda das discussões sobre como reagir diante da realidade que se apresenta. Agir como o Faraó que recebeu e instalou a família de José ou como o que temeu o crescimento do povo e tentou proteger a soberania nacional? É nesse momento, que os valores cristãos são postos à prova. O amor ao próximo deve sobrepor-se a interesses meramente humanos e seculares, pois, conforme lemos em Romanos 12:13, devemos seguir a philoxenia, amar estranhos ou imigrantes como se fossem o seu próprio amigo ou irmão.

 

Marilaine Guadalajara