A crise de 2008 e a economia da depressão

Holland, Márcio e Brito, Igor Arantes. A crise de 2008 e a economia da depressão. Revista de Economia Política 30 (1), 2010.

A crise financeira de 2008 originou-se no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Resumidamente, havia uma facilitação na contratação de empréstimo para a casa própria e, deste modo, com essa facilitação, muitas pessoas, sem a devida precaução, contraíram empréstimos com parcelas superiores ao que conseguiriam pagar. Mesmo com os refinanciamentos, as pessoas não conseguiram adimplir suas hipotecas, até que foram obrigadas a deixarem suas casas e entregarem aos bancos.

Os bancos, por sua vez, ficaram com milhares de casas desocupadas, não receberam o dinheiro das hipotecas e ainda tiveram que pagar investidos        que apostaram contra o mercado mobiliário. O estouro se deu em agosto de 2007 com a crise do banco francês BNP Paribas. Houve uma queda na bolsa de valores e bancos fecharam as portas.

A crise no mercado imobiliário não era esperada pela maioria das pessoas, incluindo economistas consagrados com o Prêmio Nobel de Economia, exceto por alguns investidores que conseguiram ver com uma certa antecedência o que aconteceria em breve. Tanto é verdade que estes investidores apostaram contra o mercado imobiliário e ganharam muito dinheiro.

Para Paul Krugman a crise de 2008 não pertence a apenas um único modelo de crise, não é apenas simples crise bancária ou cambial, nem mesmo uma crise de falta de liquidez, ou crise de inadimplência. A crise de 2008 é resultado de uma combinação de fatores que provavelmente não se repetirá tão cedo, e que, por isso mesmo, nos alerta para a próxima crise financeira. A crise de 2008 é resultado de erros de política econômica em economias tidas como praticantes de boas políticas monetárias, erros dos mercados financeiras dificilmente eficientes, erros dos agentes econômicos que viveram sobre manias de títulos lastreados em hipotecas, ou seja, títulos garantidos por dívidas, ingenuamente confiantes em técnicas e métodos econométricos afinados para medir volatilidades e exposições a riscos.

Disso tudo, conclui-se que nem mesmo a maior economia do mundo está isenta de cair em colapso, levando consigo seus sistemas financeiros de modo rápido e devastador. Assim, não se pode dizer que um sistema financeiro é 100% seguro, porque gerido por seres humanos perceptíveis a falhas e enganos.

Erroneamente, muitos de nós nos acostumamos a acreditar fielmente no sistema, depositamos todas as nossas fixas em algum investimento, mas, sem perceber, sem tomar a devida precaução, por meio de estudos aprofundados, acostumados com o comodismo das notícias que chegam facilmente de todos os lugares, acabamos por acreditar naquilo. O ideal seria que nos acostumássemos a questionar tudo e qualquer coisa, pois estamos acostumados a acreditar na primeira informação que nos deparamos e muitas vezes não condiz com a realidade.

Por fim, nunca saberemos os verdadeiros causadores/culpados da crise de 2008 e nem exatamente como aconteceu e porquê, mas uma coisa é certo, temos sempre que tomar cuidados na hora de investir.