A CRIMINALÍSTICA E A CASUÍSTICA: MATÉRIAS REGIDAS PELAS MESMAS LEIS

Uma tentativa de tratar a fenomenologia jurídica e ufológica com uma balança justa, descobrindo que se a primeira merece prestígio quando alega ausência de provas, não haveria por que não dar o mesmo tratamento à segunda.

Quantas vezes não saímos da frente da TV ou a desligamos furibundos por ver um juiz de direito alegar que não prendeu um corrupto famoso "POR ABSOLUTA AUSÊNCIA DE PROVAS"?? Quem nunca viu uma cena dessas?? E como nos sentimos dentro de nós, confrontados e esbofeteados em nossa esperança de ver algum sinal de Justiça neste mundo?... É duro, não é?... E aqui, neste sentimento de total frustração, nos irmanamos todos numa corrente silenciosa de revolta, cujo fim ninguém poderá dizer como se fará ou quando, e se explodiremos solitários ou coletivamente, caminhando e cantando e seguindo a canção...

Foi uma introdução recordativa e até certo ponto dramática, pertinente com o nosso presente propósito neste artigo, cujo foco o leitor logo saberá quando raciocinarmos mais a respeito daquilo que poderíamos chamar de "a infra-estrutura da frustração", a qual atinge os mais diversos seguimentos da atuação humana no mundo, e não apenas o campo político-partidário dos poderes temporais.

Em que consiste a infra-estrutura da frustração? Ora, todos nós nos sentimos visceralmente enojados com a impunidade seletiva de nosso país (e quiçá do mundo), com a qual vemos todos os dias os ricos e donos do poder continuarem a dar as cartas livremente, enquanto os pobres e ladrões de galinha sofrem pesadas baixas em suas vidas e em seu direito de ir e vir, mesmo em situações onde a fome e a má remuneração justificam plenamente seus delitos. É aqui que se constrói a injustiça social mais gritante diante de nossos olhos, em termos gerais. E nem temos motivos para reclamar por não serem identificados os autores dos chamados crimes de colarinho branco, que são pegos facilmente e quase diariamente denunciados. O que revolta a todos nós é a repetição ad nauseam da desculpa esfarrapada (ou mais furada que tábua de pirulito) que sempre é dada por um juiz ou advogado cara-de-pau que diz, nos microfones da mídia: "Fulano foi solto ou será solto por absoluta falta de provas ou porque as provas adicionadas ao processo foram julgadas inconsistentes".

Então é preciso checar o que significa a "ausência de prova" ou "provas inconsistentes", já que a alegação se repete tanto. Qualquer bom detetive sabe que se alguém rouba o seu próximo, sobretudo quando rouba instituições, precisa ter uma inteligência bastante apurada e até superior à inteligência de quem vai ser roubado, sob pena de não ir muito longe, literalmente. Assim sendo, é lógico e até "natural" supor que a primeira coisa realizada pelo ladrão é "fabricar" uma situação, uma 'pseudo-ocorrência' favorável ao roubo, na qual o larápio possa entrar e sair sem ser percebido. O resultado de tal astúcia, invariável ou geralmente, é uma grande ajuda à sua defesa e um desserviço à Justiça.

O problema da injustiça persiste doloroso, mesmo quando o advogado de defesa é uma sumidade nacional ou mundial, pois nada que se diga vai calar o sentimento no coração do povo de que o acusado não tenha, de fato, desviado verba pública ou corrompido testemunhas. E isto também é compartilhado e identificado entre as matérias apontadas no título deste artigo.

Por isso, vamos voltar à ufologia. A mesma situação se repete, com os ufólogos céticos vindo à mídia para dizer que determinado depoimento não merece crédito "porque não foram achadas provas concretas da ocorrência". Quem alegar isso pode ser uma sumidade no meio ufológico nacional e até internacional, mas jamais vai conseguir calar no coração do povo (e principalmente de quem tenha vivido os fatos) o sentimento de que a tal 'sumidade famosa' sem dúvida "desqualificou" as provas, desrespeitou a dignidade das testemunhas, ou pior, pode estar mancomunada com o mega-esquema mundial de acobertamento desses fenômenos.

Resta saber por que os mesmos cidadãos revoltados com a "Justiça" venal que deixa impune um corrupto famoso, assumem a postura inarredável de acatar o contrário, isto é, de aferrar-se à certeza de que ambos estão mentindo e mancomunados a dinheiro, apesar da alegada ausência de provas!... Esta questão é muito importante por assentar-se sobre a mesma premissa fundamental, tanto na Criminalística quanto na Casuística ufológica. Assim sendo, veja bem que ela reabilita a pergunta óbvia: por que um ufólogo cético valoriza tanto a sua própria intuição (ou seu "sentimento profundo") na hora de não dar seu voto a um político corrupto de quem a "justiça" não encontrou prova, e não usa essa mesma intuição para aceitar o testemunho de um abduzido cuja única prova é seu depoimento via hipnose?... Ou se dará o caso de em ambas as situações alguém estará "silenciando" testemunhas e enterrando provas?... Logo, se a hipótese é válida e é alegada para o caso do político corrupto, por que não seria válida para o abduzido?... Eis que chegamos àquele beco sem saída da "incoerência seletiva" (i.e, mal-intencionada), a qual elege um dogma para crer e desqualifica os dogmas alheios, mesmo que isto implique em deslavada injustiça e flagrante burrice. Mas é bom reler este parágrafo.

Sim. A Justiça é vendida ou comprável, os advogados defendem quem pagar mais, os políticos só pensam no próprio benefício e o povão é enrolado em cada eleição. Estas são as premissas centrais do 'dogma' do eleitor consciente brasileiro. Agora prossiga no raciocínio e veja que, da mesma forma, a Ufologia é vendida ou comprável, os cientistas defendem a ciência que lhes pagar melhor, os ufólogos pós-modernos só pensam no próprio benefício e os abduzidos são enrolados em cada abdução!. Ficou claro a relação?... Ora, estas são as premissas centrais do 'dogma' do pesquisador consciente, que sabe que lida com um mistério terrível, tão terrível para a Ufologia provar quanto provar "o-além-da-morte" é para as religiões... Porque se nenhum morto voltar para contar a história, ninguém jamais acreditará. Aliás, nem se um morto ressuscitar, segundo o Único que morreu e ressuscitou.

Prof. João Valente.