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Na creche surgem mais que estímulos e mediações nas brincadeiras e nas interações, surgem relações afetivas importantes que marcam a vida das crianças.

Pois tão importante para nossos pequenos quanto saberem as cores, por exemplo, é a maneira como ela se apropriou disso, a caminhada, os sorrisos, as vivências! Pois antes de tudo, Creche é lugar de criança feliz. De liberdade e, especialmente de oportunidades.

É um lugar que apesar das práticas de rotina do cotidiano, nenhum dia é igual ao outro, pois todos os dias as crianças trazem vitalidade ao ambiente, trazem suas curiosidades, suas novidades, seus anseios, suas expectativas.

Os sentimentos tornam- se visíveis questões nas relações de aprendizagem, porém não se sobrepõem as mesmas, estão presentes nestas, e mais, fazem destes momentos de descobertas ricos e marcantes na infância dos pequenos, que de maneira lúdica e prazerosa se desenvolvem integralmente, tanto se apropriam de alguns conceitos como maior e menor, longe e perto, por exemplo, quanto a liderem com os seus sentimentos e anseios diante das adversidades.

Acreditamos no poder das relações humanas e seu significado para um ciclo na vida de qualquer ser humano, em qualquer fase da vida, e voltado à educação infantil então, é norte de proposta pedagógica, para a primeira infância é mediação de vivências. De trocas de experiências, é currículo, é alma de algo que vai muito além do que se deseja.

E quando essa creche está sem elas, o vazio é sobrenatural! O silêncio nunca incomodou tanto, o parque, a brinquedoteca, o refeitório, as salas, os gramados... Tudo tão parado e ao mesmo tempo tão inquieto de saudades!  E os brinquedos que chegaram tudo tão novinhos, me digam o que é de um brinquedo sem uma criança?

Nunca vi lugar falar... Mas em tempos de Pandemia a creche fala, chama e pede cuidemos de nossas crianças... Pois precisamos delas!

Os gritos de alegria dos balanços, nos escorregas, no pé de acerola... deram lugar há muitas preocupações e em meio às incertezas desse vírus tão repentino, Nos deixam com saudades das crianças, das famílias e do calor humano da nossa comunidade!

A educação está receosa, repensar condutas e práticas não é fácil, olhar no espelho da alma de uma instituição é olhar para além do que se pode ver. É desejar mais do que já se desejou, é sentir com o coração o que se pode fazer. É olhar para o seu próximo e desejar que juntos possam caminhar na mesma direção mesmo que não possa se tocar.  É pensar na afetividade mesmo em meio a tantas incertezas de algo que é tão invisível e tão forte.

E nossas crianças como receber, acolher? Enfim, como será após... Ainda não sabemos, mas é preciso movimentar-se, é preciso começar a pensar, pois nada mais será como antes, e talvez isso não seja de todos mal. Mas é preciso pensar que precisa ser bom o suficiente para ter qualidade e não quantidade em atendimento.

Sinto que muitos se preocupando com datas e calendários a cumprir, mas é preciso superar isso e voltar os olhares ao valor que esses momentos terão na formação das crianças. Pensemos nisso, e busquemos incansavelmente, como a inquietude que move a profissão da DOCÊNCIA, afinal o que vale não é a quantidade de informações, de experiências, planejamentos se estes não tiverem uma qualidade que toque as crianças, que não tenha significado para elas.

A educação não é apenas uma formadora de opiniões, ela é a liberdade da alma, é morada de sonhos, é onde se planta o melhor no ser humano, e precisamos perceber a primeira infância como um lugar de trocas, mediando desejos e curiosidades entre si, espantando com as coisas do cotidiano para despertar, estimulando, compreendendo e incentivando a compreensão, o mundo literalmente pertence a aqueles que acreditam na beleza de seus sonhos, e não há outra fase da educação básica que se proponha a isso como a educação infantil faz.

Não há como não se sentir aflito em meio ao novo, mas também não vejo como perceber que tudo está perdido, que este ano já foi, espera aí, nem sabemos o que há de vir! Mas por enquanto é preciso que as famílias saibam que MESMO DE LONGE NÓS ESTAMOS AQUI! Os filhos de vocês nos fazem muita falta, porém sabemos que logo tudo isso vai passar e nós com toda certeza estaremos aqui para recebê-los da melhor maneira possível, aproveitem o tempo que é tão veloz e que não volta mais, e quais lembranças teremos de 2020, será mesmo que é preciso que lembremos apenas que não era possível sair de casa, e que o contato com os espaços externos precisava ser evitado? Enfim... Aproveitem o tempo que vocês estão tendo a mais com as crianças... Façam dos lares não um distanciamento social, mas uma aproximação familiar!

(*)Clarice Rodrigues Santana, Débora Aparecida Santos França, Kédma Macêdo Mendonça e Sibele Silva Leal Rodrigues, pedagogas, são professoras da rede municipal em Rondonópolis-MT.