Sou otimista de nascença, daquelas de carteirinha. Às vezes, confundo otimismo com ser Pollyanna ou Alice no País das Maravilhas.
Minha mãe tinha uma teoria que ao longo da minha vida comprovei que era sábia: notícia ruim corre rápido. Ela dizia ? Se alguém passa de ano na escola, ninguém conta. Mas se alguém repete o ano, todo mundo liga, conta, conta o conto e aumenta muito o ponto.
Isso não se limita mais ao ambiente em que vivemos. Ultrapassou e muito a nossa cerca. Basta assistir aos noticiários na TV ou ler os jornais.
Meu pai tinha o hábito de assinar um jornal. Todo santo dia o danado chegava logo nas primeiras horas. Era impressionante como aquele veículo de comunicação tinha o poder mórbido de acabar com o meu dia logo pela manhã ? era um bom dia direto do inferno. Não havia uma só edição que não estivessem estampadas na primeira capa, as piores desgraças do mundo.
As revistas semanais também. Lembro-me de um caso escabroso de um casal de jovens que foi morto de maneira extremamente cruel nos arredores da Grande São Paulo. Meu pai, que era uma pessoa espiritualizada, leu aquilo e ficou tão impressionado que entrou em depressão. Ele fez de tudo para eu ler o relato detalhado de tamanha barbárie. Eu me recusando e ele esfregando no meu focinho a matéria, com fotos dos jovens, o retrato falado do assassino que praticou a carnificina, o depoimento comovente dos pais.
Como jornalista, preciso ficar atualizada sobre tudo o que acontece, mas este tipo de notícia não quero saber, muito menos espalhar. Alienação? Não, preservação.
O ser humano tem uma sede para ficar por dentro de todo tipo de desgraça. Nas ruas, quando há um acidente no trânsito, todo mundo pára pra ver, no melhor esquema urubu de ser. Raros são os que param para ajudar.
Temos um rei da divulgação do horror que me faz ter vergonha de ser jornalista. Ele entra no ar praguejando e comentando as maiores atrocidades. É um urubu em busca frenética da carniça. O jornal que apresenta jorra sangue pela tela. Se exalta, grita, instiga a violência. Para piorar, ele criou filhotes que se espalham por outros canais.
Este tipo de jornalismo (para mim está longe de ser jornalismo) dá um IBOPE absurdo. Eu já vi o canal ligado em padarias, lojas de conveniência, consultórios médicos, laboratórios, cabeleireiros. É uma praga! Muito pior que a gripe suína.
Isso não significa que não aconteçam coisas boas. Arrisco-me a dizer que há muito mais fatos do bem do que do mal. Mas não dão IBOPE.
É uma pena. A vibe que se espalha é tão tenebrosa que as pessoas só comentam sobre isso.
Há muita coisa boa rolando. Muita gente do bem fazendo coisas maravilhosas, no mundo inteiro. Depende de nós, mudar o canal, mudar o assunto, mudar o esquema.
Que tal espalhar uma notícia boa hoje só para variar?

Marot Gandolfi