A convivẽncia entre adultos e crianças: Breve análise do romance A BOLSA AMARELA

Jaqueline de Andrade (Graduada em Pedagogia pela UNESP Presidente Prudente_ SP);

"Toda criança é artista, o problema é como permanecer artista quando crescer". (Pablo Picasso)

 Crianças e adultos apresentam características semelhantes, porém ambos têm necessidades e vontades diferentes. Quando somos crianças queremos ser adultos e quando somos adultos queremos voltar a ser criança.

Historicamente a criança não é reconhecida como um ser que tem vontades próprias, conforme Ariés (1981), durante a Idade Média, a criança não era reconhecida como um ser social; ela era considerada apenas como um ser humano ingênuo, inocente ou ainda incompleto. Porém deve-se considerar que estes pequenos seres são sujeitos capazes de expressar suas vontades.

Sendo um sujeito único em pleno e constante desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e emocional, a criança possui um caráter singular que a caracteriza como ser que sente e pensa o mundo de um jeito muito próprio, o jeito da infância. No processo de construção do conhecimento, utiliza as mais diferentes linguagens e exerce a capacidade que possui de ter ideias e hipóteses originais sobre aquilo que busca desvendar.

Sabe-se que as crianças são receptivas e sinceras, falam sem pensar, sem medo de serem censuradas.

Algumas vezes a relação entre adultos e crianças é conflituosa. Os adultos que passaram da fase da infância muitas vezes não compreendem e ignoram as atitudes infantis. As crianças no auge do descobrimento do mundo também não compreendem o comportamento dos adultos. E assim desta forma, inevitavelmente as crianças querem ser adultos e os adultos querem voltar ser crianças.

No romance A Bolsa Amarela escrito pela autora Lygia Bojunga retrata a vida de Raquel uma menina que tinha três irmãos já adultos, seus pais trabalhavam muito e ela pensava que sua família não gostava dela. Por sentir-se excluída da convivência familiar e ser uma criança Raquel tinha muita vontade de crescer, de ter nascido menino, além disso, ela também queria ser escritora. Essas vontades em que a própria personagem afirmava ser vontades gordas eram escondidas em uma bolsa amarela.

A menina sentia-se muito só e por isso escrevia cartas para amigos imaginários, inventava histórias para se distrair um pouco e assim transitava entre o mundo real e o imaginário.

Muitas crianças assim como personagem Raquel não são compreendidas pelos adultos e sofrem com isso.

Quando nos tornamos adultos nos esquecemos de cultivar em nosso interior a criança que carregamos, sufocamos nosso lado criança para cumprir, os as obrigações de adultos.

Reprimimos nossos impulsos infantis, temos vergonhas de ser mos comparados com crianças, não entendemos estes seres em fase de desenvolvimento que precisam ser estimulados para terem um desenvolvimento pleno e nem procuramos fazer esse exercício importante de reconhecimento.

Apesar de sermos adultos e termos nossos compromissos, devemos reservar um momento para deixarmos fluir a essência e a beleza de ser criança.

A bolsa amarela reforça a tese de que crianças merecem e querem o respeito e a atenção dos adultos e por não ter esse reconhecimento assim como a personagem Raquel, as crianças buscam superar sua solidão através da imaginação.

A imaginação é uma grande companheira da criança que passa por essa fase de conflito.

Às vezes nós adultos esquecemos ou fazemos questão de esquecer e ignorar a magia do universo infantil e talvez seja por isso que impedimos a magia desse fantástico universo bloqueando a capacidade criadora das crianças, assim como faziam os pais e os irmãos da menina Raquel em algumas passagens do romance de Bojunga.

 Referências

 

ARIÉS, Philippe. Os dois sentimentos da infância. In: História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. p. 156-164.


 BOJUNGA, Lygia. A bolsa Amarela. Ilustrações: Nery, LouiseMary.-34. ed. ,15ª reimp. _ Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2008.