A contribuição do psicopedagogo no processo de ensino e aprendizagem de estudantes da Educação Infantil: breves reflexões
Por Irani Alves da Silva Ferreira | 28/11/2024 | Educação
A contribuição do psicopedagogo no processo de ensino e aprendizagem de estudantes da Educação Infantil: breves reflexões
Irani Alves da Silva Ferreira – Pedagogia/UNIP
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Educação Infantil/FAVENI
iranialvesferreira@hotmail.com
Amélia Ferreira da Silva – Pedagogia/Instituto Educacional de Várzea Grande
Pós Psicopedagogia e Educação infantil-Instituto Educacional Cuiabano
RESUMO
O artigo apresenta uma breve reflexão acerca da contribuição do psicopedagogo no processo de ensino e aprendizagem de estudantes da Educação Infantil, sobretudo, no que tange ao diagnóstico, prevenção e intervenção aos desafios e dificuldades encontradas nesse processo. O estudo tem como objetivo apresentar breves reflexões acerca da atuação desse profissional em comunhão com a equipe docente, na intenção de compreender melhor os pequenos estudantes e propor alternativas efetivas para o desenvolvimento de suas habilidades e a construção de conhecimentos. Trata-se, portanto, de uma atividade de cunho qualitativo, à luz do materialismo histórico dialético; realizada através da pesquisa bibliográfica, o que proporcionou leituras e análise crítica de obras e autores que abordam a temática de forma contundente e a descrevem num cenário de contradições e enfrentamentos políticos e ideológicos, marcados pelo ideário neoliberal, refletidos diretamente na ação docente. O estudo apontou que, embora ainda seja uma área nova, sua expansão no campo educacional tende a conquistar mais espaços, e que é na escola que o trabalho do psicopedagogo se efetiva quando do diagnóstico, prevenção e intervenção e que sua contribuição versa, não só da resolução de problemas, mas da interação com a equipe pedagógica, na busca por alternativas que atendam a todos os estudantes ao que tange ao desenvolvimento de suas potencialidades. O estudo aponta para a necessidade de superação de concepções, investimentos nas condições de trabalho dos profissionais, na formação, na carreira, na infraestrutura e demais fatores sociais, políticos e econômicos, inclusive no projeto de sociedade.
Palavras-chave: Educação Infantil. Psicopedagogia. Aprendizagem.
Introdução
A sociedade na qual vivemos é marcada pelo capitalismo onde a divisão de classes é evidente – dominantes e dominados, fato que compromete até a sobrevivência dos cidadãos (MARX, ENGELS, 2008).
Atualmente, diante de uma crise de saúde pública, a escola vem enfrentando momentos delicados e, sendo uma instituição social, tem se tornado “berço” de acolhimento às vítimas que sobreviveram e/ou perderam entes queridos para a COVID-19.
Vale ressaltar que a pandemia da COVID-19 é apenas um dos fatores sociais que repercutem no processo de aprendizagem das crianças. Há inúmeras situações que, de certa forma, vêm interferir no desenvolvimento dos pequenos estudantes. Dentre elas destaca-se a situação familiar, aspectos de natureza cognitiva, psicomotoras, e outras situações.
São situações desafiadoras que implicam a atuação de profissionais que se relacionam mutuamente para superar as barreiras e alcançar o objetivo principal da educação – a formação plena do cidadão.
É válido compreender que, a cada dia, a presença do psicopedagogo no contexto escolar tem se tornado fundamental, já que este auxilia no diagnóstico e tratamento de possíveis causas da não aprendizagem. Neste sentido, o assunto vem sendo pauta de muitos debates nas políticas públicas educacionais.
Assim, nós, professores atuantes em classes da Educação Infantil, sobretudo, com crianças bem pequenas temo-nos deparado com situações diversas no que diz respeito à interação dos pequenos estudantes com os conhecimentos que lhes são propostos. Conhecimentos estes que fazem parte de uma rotina diária e que, certamente, os acompanharão ao longo de suas vidas.
A realização desse estudo tem nos proporcionado novas aprendizagens e uma visão mais crítica frente aos desafios enfrentados no cotidiano profissional. O estudo, portanto, resultou na busca pela compreensão da contribuição do psicopedagogo no desenvolvimento das aprendizagens dos pequenos estudantes, ao que tange à interação com o trabalho do professor de sala.
Pode-se dizer que a psicopedagogia é uma via de mão dupla, ao mesmo
tempo em que diagnostica também media a interação da criança com seus objetos de conhecimentos. Assim, ao contrário de rotular e/ou excluir a criança que não consegue aprender, faz-se necessária a intervenção do psicopedagogo no processo pedagógico escolar.
Nesse sentido, o estudo procurou buscar respostas à seguinte indagação: Como o psicopedagogo pode contribuir no processo de ensino e aprendizagem de crianças da Educação Infantil, sendo estas produtoras de cultura?
Buscamos Compreender a contribuição do psicopedagogo na relação com o professor de sala no tratamento das dificuldades e possíveis alternativas de superação frente ao processo de ensino e aprendizagem de estudantes.
A temática abordou um eixo principal, destacado no seguinte objetivo específico: I) Descrever, em breves palavras, a contribuição do psicopedagogo no processo de ensino e aprendizagem de crianças na Educação Infantil.
O estudo justifica-se por sua atualidade sobre as discussões centradas na questão de políticas públicas educacionais voltadas para a contribuição do psicopedagogo nas classes de ensino regular, no que tange à superação de dificuldades de aprendizagens e a propositura de meios para desenvolver as potencialidades dos estudantes.
Ante o exposto e, compreendendo que a escola é uma instituição social cuja práxis é fruto dessa sociedade dividida em classes, lançamos mão do materialismo histórico dialético para compreendermos e descrever cada passo do estudo, fato pelo qual foi possível obter uma visão aprofundada sobre a realidade objetiva.
O estudo caracteriza-se por sua natureza qualitativa, desenvolvido por meio da pesquisa bibliográfica – leituras de obras já existentes sobre o assunto – e da “indireta” observação participante nas classes das turmas nas quais atuamos.
A educação como práxis social
A educação é uma práxis social e, assim, é fruto das transformações ocorridas no cenário político, econômico e social, ao que tange à implementação de políticas públicas educacionais que deem conta de atender às demandas das classes sociais.
Nesse sentido, o estudo foi realizado à luz do materialismo histórico dialético que, estuda a sociedade partindo do princípio de que a prática social é o ponto de partida e de chegada do processo de produção do conhecimento. O movimento do conhecimento segue simultaneamente na transformação da realidade.
A preparação humana e a sua inserção na realidade em que vive, seja no aspecto pessoal, social ou profissional, requer a intervenção de insituições específicas como a escola que instrumentalize, de forma, humana, material e pedagogicamente a formação plena do estudante.
Essa formação, no entanto, deva contemplar a todos os estudantes em suas especificidades, sejam elas físicas, intelectuais, sociais, culturais e econômicas, tornando-os sujeitos capazes de conhecer a si próprios, o outro e intervir crítica e criativamente nesta realidade.
É possível afirmar que não se faz educação isoladamente e distante da realidade. Esta [educação] por vez acontece nos variados setores sociais. Assim, torna-se imprescindível a relação mútua entre os profissionais que nela atuam, de modo que se busquem alternativas para a superação dos desafios e o progresso das aprendizagens.
Em se tratando da vasta expansão de diversidades humanas – cor de pele, religiosidade, sexo, e outras – inseridas nas salas de aula, faz-se necessária também a inserção de profissionais qualificados nas diversas áreas no ambiente escolar para que se possam encontrar possíveis caminhos que oportunizem as aprendizagens a cada um e a todos os estudantes.
Dessa forma, a atuação do psicopedagogo está preconizada nos documentos normativos regidos pelos órgãos federativos que regulamentam o exercício dessa atividade em todo o território nacional, desde que observadas as disposições da Lei Nº 3.512-B, de 2008, de autoria da Deputada Professora Raquel Teixeira.
Para tanto, o profissional deve estar enquadrado nas disposições que a Lei prevê, assim como:
Art. 1º É livre, em todo o território nacional, o exercício da atividade de Psicopedagogia, observadas as disposições desta Lei. Art. 2º Poderão exercer a atividade de Psicopedagogia no País: I - os portadores de diploma em curso de graduação em Psicopedagogia expedido por escolas ou instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação pertinente; II - os portadores de diploma em Psicologia,
Pedagogia ou Licenciatura que tenham concluído curso de especialização em Psicopedagogia, com duração mínima de 600 horas e carga horária de 80% na especialidade. III - os portadores de diploma de curso superior que já venham exercendo ou tenham exercido, comprovadamente, atividades profissionais de Psicopedagogia em entidade pública ou privada, até a data de publicação desta Lei. Art. 3º É assegurado aos atuais ocupantes de cargos ou funções de Psicopedagogo, em órgãos ou instituições públicas, o direito de continuar no exercício de suas respectivas atividades, desde que credenciados pelos órgãos competentes. (Lei Nº 3512-B, 2008).
Antes disso, porém, a Psicopedagogia já vinha sendo inserida na família 2394-5 – Programadores, Avaliadores e Orientadores de Ensino da grande área Educação -, desde 2002, pela Classificação Brasileira de ocupações-CBO do Ministério do Trabalho e Emprego-MTE. Ou seja, entendendo os processos educativos como práxis social, compreende-se que esta “ocupação profissional” deva ser parte integrante desses processos, na tentativa de contribuir com o desenvolvimento dos sujeitos.
Isso revela que, mesmo que as atividades dos psicopedagogos sejam exercidas por profissionais da Saúde e da Educação, é nos processos educativos que essas atividades se entrecruzam. Observa-se uma interseção entre a docência e a Psicopedagogia compartilhada com a Pedagogia e áreas do conhecimento afins refletida nas dificuldades desta – Psicopedagogia – em ser assumida como profissão.
Outro aspecto observado na relação entre a Psicopedagogia e a Educação é que embora as duas profissões sejam distintas e específicas, elas apresentam semelhanças e articulam entre si, como é o caso da prática no que tange à aprendizagem.
Ambas refletem na ação educativa buscando facilitar o desenvolvimento humano. Ambas exigem uma base de conhecimentos teóricos e práticos apropriada, bem como a capacidade de os profissionais se apropriarem desses conhecimentos para o exercício de seus fazeres.
Isso nos mostra que o exercício pedagógico requer a compreensão e a reflexão de diversos fatores – sociais, pessoais, intelectuais, socioeconômicos e outros – que permeiam a formação humana; fatores estes refletidos no ambiente escolar e que devem ser mediados de forma subjetiva e objetiva.
Em outras palavras, pode-se dizer que a atuação do psicopedagogo surgiu da necessidade de se buscar a compreensão sobre os problemas de aprendizagens e sua relação com o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo (Fagali e Vale, 2009).
Para Barbosa (2001), a Psicopedagogia visa à compreensão do ser que aprende, do processo de ensino e aprendizagem e das dificuldades e transtornos que emergem desse processo.
Portilho (2003, p. 125) revela que a
Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem do ser humano que na sua essência é social, emocional e cognitivo- o ser cognoscente, um sujeito que para aprender pensa, sente e age em uma atmosfera, que ao mesmo tempo é objetiva e subjetiva, individual e coletiva, de sensações e de conhecimentos, de ser e vir a ser, de não saber e de saber. Essa ciência estuda o sujeito na sua singularidade, a partir do seu contexto social e de todas as redes relacionais a que ele consegue pertencer [...]
Ante o exposto, a formação plena do cidadão aqui apresentada reside no processo de humanização de si e das pessoas que nos cercam, enquanto sujeitos históricos e dotados de capacidade de produção e apropriação do conhecimento. Pode-se dizer que o direito à aprendizagem conota a ideia de valor prioritário para o desempenho da ação profissional.
Ou seja, Ujiie (2016, p. 13) destaca que
A Psicopedagogia é uma área de estudo que tem como objetivo a aprendizagem humana, que em sua natureza sistemática é ação social, cognitiva e emocional. Por esta via, a Psicopedagogia é uma ciência abrangente com duplo enfoque: clínico e institucional, ou seja, o atendimento individual e/ou coletivo de sujeitos aprendentes.
Isto revela a relevância de, ao estudar o ato de aprender, o psicopedagogo deva considerar os condicionantes internos e externos que repercutem diretamente na construção dos conhecimentos.
Partindo desses princípios, a Lei Nº 3512-B, de 2008 vem respaldar a regulamentação da profissão do psicopedagogo a partir da “urgente revisão do projeto educacional brasileiro, de modo a melhorar a qualidade do que se ensina e de como se ensina, do que se aprende e de como se aprende”. (NOFFIS, 2016).
Tal pressuposto reside na atuação desse profissional não somente para reparar problemas e dificuldades de aprendizagens, mas como possibilidades de aumentar as potencialidades dos estudantes.
Entende-se, portanto, que a atuação do psicopedagogo nas instituições escolares demanda a formação inicial e permanente e que este possa subsidiar o fazer docente, conclamando esse fazer a partir de uma perspectiva interdisciplinar.
Compreende-se que a atuação do psicopedagogo nas escolas demanda do entendimento que o ser humano tem acerca do processo de construção e
apropriação do conhecimento.
Nesse sentido, a atuação desse profissional está na atividade de investigar, por meio da escuta e da observação, as dificuldades e limitações inerentes a esse processo, no sentido de conhecer sua origem, sejam elas, sociais, físicas, emocionais e estabelecer estratégias de prevenção e intervenção para o tratamento destas, numa constante comunhão com o professor de sala.
Entende-se, portanto, que cada estudante é único e aprende de forma singular; este, conta com habilidades e potencialidades diferenciadas, o que requer, por parte do profissional, o conhecimento de cada ser, avaliar, orientar e propor atividades e estratégias de aprendizagens diversificadas que atendam às necessidades formativas de cada um (CRUZ, 2014).
É possível afirmar ainda que o psicopedagogo é um profissional designado a assumir a função de assessorar e atuar de forma preventiva e interventiva. Isto é, “[...] analisar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição.” (NASCIMENTO, 2013, p.1)
Na Educação Infantil, não é diferente. Esse profissional atua não apenas no tratamento de problemas já existentes, mas na prevenção dos mesmos para que a aprendizagem se torne efetiva e significativa. Nessa etapa da Educação Básica, esse trabalho é realizado por meio de brincadeiras e atividades dinâmicas, facilitando o ensino e a aprendizagem de conhecimentos.
Pontes (2010, p. 418) sinaliza que “a atuação psicopedagógica na escola implica num trabalho de caráter preventivo e de assessoramento no contexto educacional.” Aponta que além de assessorar no atendimento aos estudantes com dificuldades, o psicopedagogo deva apresentar condições/suporte pedagógico para os profissionais docentes no exercício de suas atividades.
Nesse ínterim,
O trabalho na instituição escolar apresenta duas naturezas: O primeiro diz respeito a uma psicopedagogia voltada para o grupo de alunos que apresentam dificuldades na escola. O seu objetivo é reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando o respeito às necessidades e ritmos. Tendo como meta desenvolver as funções cognitivas integradas ao afetivo, desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a aprendizagem dos conceitos conforme os objetivos da aprendizagem formal. O segundo tipo de trabalho refere-se à assessoria junto a pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos e as diferentes áreas do conhecimento. (SANTOS, 2016, p. 02)
Para tanto, a necessidade de superar as práticas tradicionais vem emergindo de um contexto que requer alternativas diversificadas para um trabalho mais colaborativo e inclusivo. Brincadeiras e atividades dinâmicas são necessárias para que as aprendizagens se tornem significativas e o desenvolvimento dos pequenos seja efetivo.
Pode-se assim dizer, que o atendimento psicopedagógico proporciona, no espaço da sala de aula, possibilidades efetivas de desenvolvimento psicomotor, cognitivo, social. Assim, o psicopedagogo atua na prevenção de problemas relacionados ao desenvolvimento infantil, como também na interação escola-família, na tentativa de buscar possíveis soluções frente aos problemas levantados.
Autoras como Blaszko, Portillho e Ujiie (2016, p. 146) destacam que, no exercício de sua ação
O psicopedagogo necessita conhecer e valorizar as diferentes aprendizagens construídas ao longo da história de vida da pessoa, considerando que estas podem contribuir para enaltecer a aprendizagem ou favorecer o aparecimento de dificuldades. O olhar e a escuta para aquele que aprende, considerando suas experiências, conhecimentos, sentimentos, valores, habilidades, dificuldades e potencialidades é a atitude que se espera do psicopedagogo que trabalha considerando a totalidade da pessoa.
É importante considerar as relações existentes entre a produção do conhecimento escolar e as implicações sociais, refletidas diretamente no contexto educativo, já que a educação é fruto da práxis social. Essas implicações precisam ser trabalhadas de forma dinâmica e significativa para que os pequenos estudantes conheçam e se apropriem desses conhecimentos, buscando neles a autonomia no processo de transformação dessa sociedade que aí está posta.
Esse trabalho dinâmico e diversificado se faz relevante com o uso de estratégias que encantem professor e estudantes. Com isso, é possível contar com a interação do psicopedagogo que, com sua especificidade e em comunhão com a equipe pedagógica da escola, saberá conduzir da melhor maneira possível.
Evidencia-se que o psicopedagogo trabalha de maneira multidisciplinar, o qual se efetiva na interação com os outros profissionais de outras áreas especificas que realizam atendimentos aos alunos: psicóloga, fonoaudióloga, assistente social, especialista da área da medicina entre outros profissionais de acordo com as necessidades do educando. (Blaszko, Portilho e Ujiie, 2016, p. 150).
A realização desse estudo vem ao encontro de nossas expectativas, como
forma de ampliar nossos conhecimentos e aprendizagens acerca da atuação do psicopedagogo em classes de Educação Infantil; mais especificamente ao que tange às possibilidades na propositura de atividades e brincadeiras que sejam capazes de conduzir o processo ensino e aprendizagem de forma prazerosa e significativa.
Então, estudar um fenômeno é uma atividade de ação-reflexão-ação da prática social, que permite compreender e desvelar as máscaras ideológicas e as intencionalidades das classes sociais inseridas na sociedade a qual fazemos parte.
Agir-refletir-agir tem sido uma atividade constante em nossa ação cotidiana, uma vez que buscamos compreender as nossas ações e o modo como os estudantes se apropriam dos conhecimentos que lhes são oportunizados. Isso também revela a avaliação que fazemos da nossa ação humana, o modo pelo qual percebemos e concebemos a Educação Infantil e a relação do psicopedagogo nessa etapa da Educação Básica.
Estudar e ao mesmo tempo vivenciar as aprendizagens na prática cotidiana tem sido muito importante para nós, uma vez que o sujeito “tem de apoderar-se da matéria, em seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e de perquirir a conexão que há entre elas” (MARX, 1968, p. 16).
Entende-se, portanto, que o conhecimento está preconizado nos pressupostos do materialismo histórico dialético como uma forma de se conhecer a sociedade em sua totalidade – representada por suas relações econômicas, históricas, políticas e ideológicas.
No método de Marx, todas as mediações se desenvolvem num processo da totalidade em movimento: ele não está “recortando” um ou outro elemento do real; o real tem que ser captado em seu sentido, em seu movimento que é o que vai permitir entender cada parte. É muito mais, portanto, do que apenas “ter contato” com a realidade. Trata-se, por exemplo, de entender o trabalho humano como demiurgo da sociedade, como gênese e estrutura da realidade social. (DANTAS; TONELO, 2016, p. 17, grifos dos autores).
Por conseguinte, buscamos compreender a atuação do psicopedagogo nas classes de Educação Infantil a partir de discussões emergentes tangentes aos rumos
das políticas públicas educacionais que tratam a temática.
Ainda que de forma sutil, observamos o nosso objeto de estudo sob a ótica da abordagem materialista histórica, realizando leituras de obras já existentes sobre o assunto – pesquisa bibliográfica – que,
[...] é elaborada a partir da análise e interpretação do conteúdo de materiais como livros, artigos de periódicos e textos da Internet, levando ao pesquisador buscar ideias relevantes ao estudo, com registro confiável de fontes. (GIL, 2008, p. 50-55).
Lançamos mão ainda da observação participante que é
[...] uma concepção de pesquisa em que se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas, buscando permitir à comunidade análise de sua realidade para benefício próprio. (GIL, 2008, p. 54).
As leituras realizadas permitiram a compreensão de que o trabalho de prevenção e intervenção do psicopedagogo no desenvolvimento das crianças é imprescindível, o que facilita o diagnóstico de possíveis limitações e a interação direta de propostas que possam dar conta dos avanços de suas potencialidades.
Nesse sentido, brotou o desejo de prosseguir o estudo como forma de conhecer melhor o assunto e poder contribuir na propositura de alternativas que atendam às necessidades formativas dos pequenos. Torna-se, assim, possível compreender que a educação escolar é uma forma de construção de significados à pessoa humana.
O estudo buscou compreender a contribuição do psicopedagogo em classes de Educação Infantil, o que requereu a interação com a história da Educação Infantil brasileira, bem como com a contextualização do fazer psicopedagógico.
As leituras permitiram realizar breves considerações acerca dessas duas frentes pedagógicas, fazendo com que a compreensão da proposta se tornasse mais efetiva.
Assim como a Educação brasileira, a Educação Infantil também vem escrevendo sua trajetória ao longo dos anos e, somente com a Constituição de 1988, em seu Artigo 208, incisos I e IV, foi reconhecida como dever do Estado e direito da criança. Reconhecimento esse marcado por lutas, mobilizações sociais e estudos.
Por longo tempo a Educação Infantil esteve aos cuidados da Assistência Social e Educação sob o caráter assistencialista. Após a conquista de se tornar um direito da criança passou a ser realizada sob a perspectiva do cuidar aliado ao educar.
Fundamentado nos pressupostos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9394/96 foi criado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil que prevê parâmetros para uma prática que supere o assistencialismo, visando à valorização da criança como um todo, em suas especificidades afetivas,
sociais, emocionais e cognitivas.
Este documento constitui-se em um conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam a contribuir com a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras. Sua função é contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais. (REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL /MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL, 1998 p. 13).
Nessa direção, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil foram instituídas pela Resolução Nº 5, de 17 de dezembro de 2009 – Conselho Nacional de Educação-CNE e consideram a criança enquanto sujeito de direitos, e que, historicamente, produz conhecimento e cultura a partir de brincadeiras, fantasias, observações, posicionando-se, experimentando com sentido e significado tudo que está à sua volta.
Acredita-se, então, que não basta apenas garantir a matrícula das crianças nas escolas, é necessário criar condições para que elas permaneçam no ambiente escolar e que os seus direitos sejam efetivamente garantidos, conforme preconiza a Constituição Federal de 1988, no Artigo 205 “a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho”. Ainda em seu artigo 206, inciso I estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”.
Para tanto, é necessário superar as concepções neoliberais, tradicionais e excludentes que se tem acerca da Educação, ainda mais quando se trata da Educação Infantil – primeira etapa da escolarização.
As contradições evidenciadas no estudo decorrem sobre as atividades descontextualizadas que ainda permeiam os espaços de aprendizagens, como repetições que vão além das habilidades e contexto dos pequenos estudantes.
Daí a importante contribuição do psicopedagogo quando da compreensão e intervenção no processo de aprendizagem. Este profissional, em sua ação busca desenvolver um olhar aguçado e criterioso acerca do que de fato é relevante trabalhar com os pequenos, entendendo o desenvolvimento destes como um processo contínuo, associado aos aspectos emocionais e sociais.
O trabalho do psicopedagogo na Educação Infantil, conforme preconiza os documentos normativos, prevê a propositura de interações e brincadeiras nas
aulas diárias, bem como a orientação à formação das equipes de trabalho.
Melhor dizendo, é preciso conhecer para romper com padrões homogeneizados de participação e aprendizagem, na intenção de reformular novas práticas (BRASIL, 2008).
Em suma, a ação docente deva ser uma opção política, no sentido de impregnar sentido e significado sobre a concepção de sociedade, educação e homem a que se pretende formar. Logo, faz-se necessário compreender os fatores e condicionantes sociais imbricados nessa ação.
Partindo dessas breves considerações, foi possível apreender o nosso objeto de estudo a partir da totalidade histórica, aqui entendida como a construção e apropriação do conhecimento, pressupondo a submissão a si de todos os elementos da sociedade (KOSIK, 1976).
Konder (2008, p. 35) aponta que “o conhecimento é totalizante e a atividade humana, em geral, é um processo de totalização, que nunca alcança uma etapa definitiva e acabada”. Não estamos prontos e acabados, estamos à busca do ser mais. A partir de inquietudes, estamos sempre na procura de novos conhecimentos, visando nosso enriquecimento pessoal e profissional.
Então ...
O assunto discorrido na tessitura desse estudo tem se tornado objeto de nossa curiosidade, talvez, preocupação, proporcionando-nos a busca de novas aprendizagens por meio de cursos e estudos que deem conta de nos auxiliar na atuação cotidiana. Eis o motivo pela busca desse estudo que, ainda que realizado em um breve espaço de tempo, tem sido de fundamental orientação à nossa carreira.
As atividades realizadas, bem como as leituras complementares foram bem sugestivas e nos levaram a ampliar as aprendizagens que nos seguirão ao longo da vida.
Sob a perspectiva das transformações sociais tangentes às reformas educacionais, a atuação do psicopedagogo tem adquirido centralidade nas discussões inerentes ao cenário educacional.
Assim, a realização das atividades à luz do materialismo histótico dialético, oportunizou o conhecimento de um pouco mais sobre a Educação Infantil e a atuação
do psicopedagogo nessa etapa da Educação Básica. Isto posto, permitindo- nos a superação do senso comum a partir de elementos teórico-metodológicos
presentes na escrita desse texto.
Embora tenha conseguido ler um bom número de escritos acerca da temática, nem todas as inquietudes e/ou dúvidas foram sanadas, mesmo pelo curto espaço de tempo e também às dificuldades pessoais.
Inserido em uma realidade concreta e em constante movimento, o nosso objeto de estudo traz consigo resquícios dela, alinhando concepções e políticas ainda tradicionais, contraditórias e excludentes, repercutidas no ambiente escolar.
Logo, não basta apenas matricular os estudantes nas escolas, é preciso garantir a permanência e o acesso destes, desde que respeitadas as suas individualidades, peculiaridades, seus contextos, tempos e espaços de aprendizagens.
É preciso uma comunhão mútua entre profissionais habilitados e capacitados para tornar as aprendizagens significativas e que seus direitos, enquanto seres produtores de conhecimentos e culturas sejam garantidos.
Durante o percurso, os dados foram produzidos por meio da pesquisa bibliográfica – leituras de obras já existentes sobre o assunto, como documentos oficiais, normativas, leis e diretrizes, e outras.
A compreensão do objeto partiu da interação com o contexto histórico no qual estamos inseridas, o que nos permitiu validar o estudo a partir da esperança de uma sociedade mais justa, democrática e para todos.
Compreensão esta que permitiu perceber se as proposituras discutidas no cenário educacional estão, de fato, atendendo a uma educação humanística e emancipatória.
A realização do estudo apontaram a significativa importância da contribuição do psicopedagogo no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. Embora seja uma área ainda nova, sua expansão no campo educacional vem desabrochando e tende a conquistar ainda mais espaços.
O estudo apontou ainda que é na escola que o trabalho do psicopedagogo se efetiva quando do diagnóstico, prevenção e intervenção aos desafios enfrentados diariamente e que sua contribuição versa, não só da resolução de problemas, mas da interação com a equipe pedagógica, na busca por alternativas diversificadas para o atendimento a todos os estudantes ao que tange ao desenvolvimento de suas potencialidades.
Outro aspecto apontado pelo estudo é a necessidade de superar concepções,
investir nas condições de trabalho dos profissionais, na formação, na carreira, na infraestrutura, nas condições de vida dos estudantes e demais fatores sociais, políticos e econômicos, inclusive no projeto de sociedade.
Referências
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