A CONTRIBUIÇÃO DAS ARTES VISUAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA 

 

AMANDA HORTA VERAS¹

DAYSE ELLEN ANDRADE PAULINO²

INGRID MIKAELLE NASCIMENTO SANTOS³

 

RESUMO

A Arte é utilizada em vários lugares e avançou muito com o tempo até que chegasse às salas de aula como forma importante de linguagem e papel fundamental de transformação humana.  Este estudo, então, estende-se sobre uma pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfica que se baseia na revisão de literaturas acerca do assunto. O referencial teórico utilizado está fundamentado nos conceitos desenvolvidos por Arnheim (2011), Mognol (2007), Pillotto (2007), dentre outros. Mostra como uma aula de artes pode ser flexível ao se relacionar com outras disciplinas e influenciar na interação das crianças em atividades na sala de aula e a necessidade de se ter um professor qualificado na área. Este artigo aborda as mudanças que as artes trazem na vida dos alunos e professores e suas subdivisões, as quais contribuem para o desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo, além de possibilitar a expressão e a percepção de mundo.

Palavras – chave: Artes. Importante. Transformação. Professor. Aluno.   

ABSTRACT

Art is used in several places and has advanced a great deal over time until it reaches the classrooms as an important form of language and a fundamental role of human transformation. This study, then, extends on a qualitative research, of the bibliographic type that is based on the review of literatures on the subject. The theoretical framework used is based on the concepts developed by Arnheim (2011), Mognol (2007), Pillotto (2007), among others. It shows how an art class can be flexible in relating to other disciplines and influencing the interaction of children in classroom activities and the need to have a qualified teacher in the area. This article discusses the changes that the arts bring to students' lives and teachers and their subdivisions, which contribute to cognitive, motor and affective development, as well as to the expression and perception of the world.

Keywords: Arts. Important. Transformation. Teacher. Student 

1 INTRODUÇÃO 

A criança na educação infantil quando estimulada, pode exercer algumas atividades por meio da música, pintura, teatro, dança, desenho, entre outras linguagens. Dessa forma, enriquece suas experiências para que nessa fase sejam despertadas habilidades artísticas, o que traz muitas oportunidades para o seu desenvolvimento. A importância das artes visuais na educação infantil cria não somente uma conscientização, mas uma valorização das crianças, para formar não só um ser humano melhor, mas também fazer com que ele tenha uma visão de mundo diferenciada, a fim de valorizar sua existência e colocar ao seu alcance os mais diversos tipos de materiais para manipulação.

Tais estímulos produzem no ser humano o desenvolvimento da percepção e da imaginação, o que contribui na aprendizagem e na compreensão de outras áreas do conhecimento humano, com um papel fundamental que envolve aspectos cognitivos, sensíveis e culturais.

Nessa perspectiva, este trabalho pretende tratar sobre a importância das artes visuais para a educação infantil. Para isso, é preciso apresentar de que maneira essa linguagem artística contribui para a aprendizagem da criança, identificar as possíveis metodologias facilitadoras que podem ser trabalhadas e relacionar a interação da criança com o mundo que a cerca. Este estudo, então, trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfica que se baseia na revisão de literaturas acerca do assunto. O referencial teórico que serviu de base para a produção deste trabalho está fundamentado nos conceitos desenvolvidos por Arnheim (2011), Mognol (2007), Pillotto (2007), dentre outros.

Diante do constante descaso a respeito da educação, não apenas a secular, mas a formação humana, é necessário que se trabalhe diferentes métodos de ensino para auxiliar as crianças nos desafios que precisarão enfrentar durante a vida, até que se tornem cidadãos de respeito promovendo a boa conduta por uma sociedade melhor. 

2 CONTEXTO HISTÓRICO DAS ARTES VISUAIS 

O costume de expressar-se por meio da arte vem desde a pré-história. Paes apud Buoro (2003) afirma que no Paleolítico, os homens pintavam animais, enquanto no Neolítico eles utilizavam a arte para representar seu cotidiano.

No Egito Antigo, país localizado na região nordeste da África, em aproximadamente 3000 a.C, a arte era usada para registrar a história dos egípcios. Ela era dedicada à morte, já que eles acreditavam que viveriam eternamente após esse estágio. A arte era utilizada também na construção de desenhos em baixo relevo nas pirâmides para contar a história desse povo. Os responsáveis por essa manifestação artística eram os artesãos e os escribas contratados pelos faraós. Os desenhos representados pelos egípcios na escrita recebem o nome de hieróglifos.

A partir da Idade Média, há três períodos marcantes para a arte: o Bizantino, o Romântico e o Gótico. Nesse período a arte apresenta uma rigorosidade diferente do que aconteceu na pré-história e as obras têm uma temática religiosa, devido à influência do Cristianismo na Europa.

Na Renascença, há um maior número de produções artísticas e um avanço quanto às técnicas utilizadas, como o uso de telas de algodão, cânhamo ou linho e a mistura de tinta com terebentina, um tipo de solvente, para prolongar o tempo de a tinta secar, possibilitando o artista fazer modificações. Há destaque para as pinturas e esculturas de Michelangelo (1475- 1564) que expressavam o humanismo da época.

A arte também foi usada na geometria e por Leonardo da Vinci (1452- 1519) na perspectiva da perfeição para a construção de materiais bélicos, para o vôo e ajudou na anatomia humana.

Com o surrealismo, as manifestações artísticas têm como enfoque imagens não controladas pela razão e há uma apreciação ao subconsciente. Um dos principais precursores do movimento é Salvador Dali.

Segundo Paes apud Buoro (2003), na contemporaneidade, há uma diversidade de estilo e uma valorização as artes relacionadas ao passado. Os artistas seguem utilizando a emoção para transmitir sua personalidade. O inconsciente, juntamente com a arte, encontra um meio de relacionar-se. 

A formação do professor de artes inicia-se em 1960 e, na época, qualquer profissional da educação poderia ensinar arte.

Após a chegada da Missão Artística Francesa ao Brasil, em 1816, as Artes Visuais passaram a ser conhecidas oficialmente. Depois, foi fundada a Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, quando o período que se destacava era o Barroco e o Neoclassicismo, incorporado a ele pelos franceses. O acesso à Arte na época era bastante limitado; apenas a elite podia participar dos eventos artísticos.

Entre 1920 e 1970, com a influência da escola nova, o ensino de arte é centrado no desenvolvimento da criança, suas aspirações e necessidades, dando ênfase a sua expressão e compreensão de mundo. Busca-se a espontaneidade e o crescimento da criança, valorizando sua capacidade de auto-expressão.

Começa a obter maior destaque nas primeiras décadas do século XX, em escolas primárias e secundárias. Na década de 1950, incluiu-se matérias musicais, como canto orfeônico (Canto Coletivo Amor, no qual seus alunos cantam todos em uma só linha melódica), escrita musical e trabalhos manuais, além de desenho. Em muitas aulas, as meninas eram separadas dos meninos e em outras somente um dos grupos assistia.

No ano de 1971, as artes foram inseridas no ensino secular pela Lei 5.692/71 como “Educação Artística”, responsável por abordar dança, música, teatro e artes plásticas. Entre 1970 e 1980, deixam-se de lado as especificidades das áreas artísticas, como desenho, artes plásticas, música, artes cênicas, entre outras para uma unificação delas em uma única disciplina.

Posteriormente, com a LDB n° 9.394, criada em 1996, o ensino de artes torna-se obrigatório em todos os níveis da educação básica, a fim de provocar o desenvolvimento cultural e artístico dos alunos.

Em 1998, foi feito o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Este documento continha três volumes e visava melhorias significativas para o ensino da arte e sua relação com outras áreas do conhecimento. Por fim, a partir de 2016 o ensino de teatro, artes visuais e dança passaram a fazer parte do ensino básico no Brasil.

 

2.1 A Importância Das Artes Visuais No Ensino

 

A arte coloca crianças e adolescentes em contato com suas emoções e também trabalha o lado racional; é o que afirma a especialista em Arte-educação Ana Mae Barbosa (2016) para a revista Época Globo.

Essa concepção mostra que a arte ajuda no desenvolvimento do aluno. Ela envolve interpretação, inteligência racional e capacidade de percepção. Por isso, a arte é a linguagem presentacional que indica não apenas ligação com a educação, mas como valor inerente à construção humana, uma vez que articula a vida emocional do ser humano. Tudo isso auxilia na resolução de conflitos encontrados ao longo da vida.

O melhor modo de relacionar-se com o mundo e expressar seus sentimentos é por meio da arte. Além de contribuir para o crescimento emocional, cognitivo e perceptivo. Afinal, somos participantes na cultura de nossa época.

As artes visuais envolvem desenho, pintura, colagem, gravura, escultura, fotografia, desenho no computador, vídeo, cinema, televisão e outros.     

Segundo Pilloto e Mognoll (2007, p. 220-223) a arquitetura se faz presente através do espaço onde a criança está inserida. Como sabemos o visual é muito atrativo na infância e ele representa como o aluno e o professor sentem-se, se comportam e pensam. Há uma carga significativa em como o espaço é organizado, como, por exemplo, as cadeiras em sala de aula estarem distribuídas em círculo ou fileiras, as cores utilizadas no ambiente, decoração, enfim tudo que nele contém transmite uma mensagem à criança.

Segundo Arnheim (2011, p. 153-160), para falar sobre desenho, é preciso ter em mente que o desenvolvimento mental acontece por meio da arte infantil e que é complicado entender a natureza da representação visual. A criança, por exemplo, não possui controle motor completo, por isso sugere-se que ela não consegue desenhar o que percebe. A partir disso, a Teoria Intelectualista afirma que a criança desenha o que ela conhece e não o que vê e mais, os estímulos procedem de uma fonte não visual. Outra teoria é que as crianças desenham o que veem, porém veem muito mais do que desenham. Desenhar é um tipo de comportamento que se desenvolve por meio de características expressivas e descritivas. A primeira está relacionada ao comportamento motor, enquanto a segunda à espontaneidade da criança em imitar.

Segundo Medeiros (2010, p. 285-287), a leitura de imagens ocorre com análises, normalmente diversificadas e variáveis de pessoa por pessoa, e as observações são contextualizadas de acordo com as vivências e experiências de cada leitor. Acrescenta que ler uma imagem é apreciá-la e refletir sobre os possíveis temas que ela pode abordar e que essa prática ajuda a criança a ver o mundo criticamente. As imagens trazem ensinamentos e auxilia na compreensão deles, mesmo que a criança não perceba isso.

A partir da afirmação de Arnheim (2011, p. 321- 325) que as crianças, inicialmente, se apegam a cor e à medida que são expostas aos fatores culturais começam a dar importância à forma, vemos que há uma relação entre cor e percepção indissolúvel. Antes de tudo, é necessário destacar que a forma como uma cor é vista por uma pessoa é diferente da maneira que é vista por outra. As cores são estruturadas com base em primárias e suas combinações. Suas denominações segundo Arnheim apud Berlin e Kay (1969) não ocorrem de forma arbitrária, pois é baseada na dicotomia da obscuridade e claridade. Acrescenta-se que é mais difícil identificar os graus correspondentes às nuances das cores do que o tipo delas e que isso está relacionado a nossa memória. As cores que facilmente identificamos são vermelho, azul, amarelo e cinza. Seguindo essa mesma vertente, pode-se dizer que a forma é um meio de identificação melhor que a cor, pois oferece tipos de diferenças qualitativas e características distintivas mais resistentes às variações ambientais.

 

2.1.1 Formação do professor de Artes Visuais

 

O professor é um agente importante para a aprendizagem e necessita ter capacitação na área. O professor de arte, em especial, precisa trabalhar juntamente com os outros profissionais das outras disciplinas que preenchem o currículo escolar. De fato, a eficiência do ensino de arte depende da integração da tríade professor- criança- família e da criatividade desse profissional.

Quando o professor aborda métodos em projetos que incentivam manifestações expressivas, ele contribui para a construção humana de seus alunos e está demonstrando interesse pelo que fazem. O que permite a participação da família nesse processo e traz resultados mais eficazes.

Outro fator importante no campo das Artes Visuais permite ao professor maior flexibilidade, uma vez que pode se analisar e refletir as atividades trabalhadas durante a aula e modificá-las quando necessário. É possível realizar projetos interdisciplinares a fim de organizar um espaço de cultura para a criança.

O papel do profissional em arte que atua no contexto da educação infantil [...] está centrado na valorização das múltiplas maneiras de aprender, pois acreditamos que cada criança tem sua forma própria de interação com as pessoas e o mundo, assim como necessidades diferenciadas nos processos de aprendizagem. Nessa perspectiva, a criança é compreendida como sujeito capaz de organizar seu próprio conhecimento. (PILLOTTO; MOGNOL, 2007, p. 225)

 

Ao considerar esse quesito, de fato, as atividades passadas pelo educador de artes envolvem aprendizados de todos os tipos. A preparação de professores no ensino das artes requer processos fundamentais que seriam desenvolver o saber de maneira inventiva e perceptiva ao se fazer arte, ser capaz de ler imagens - como rótulos de produtos, com o objetivo de entender o sentido e a essência dessas imagens, e localizar o contexto que essas imagens podem ser inseridas, apropriando-se de atividades com outras disciplinas.

Deve-se incitar a imaginação das crianças, para que façam mudanças significativas em nossa sociedade, porque uma criança sem imaginação é um futuro adulto de limitada capacidade de atuação. (PILLOTTO; MAGNOL, 2007, p. 227)

O professor deve optar, também, por métodos que façam com que seus alunos sintam liberdade para se expressar, como lecionar uma aula em espaços abertos e quadras.

Rocha (2010, p. 248-257) apresenta propostas de formação continuada dentre elas:

  • Disponibilizar aos professores elementos necessários à análise, reflexão e formulação de propostas para resolver problemas existentes no ensino da arte;
  • Colocar o professor em constante atualização, sem que necessite se deslocar do lugar onde habita;
  • Entender a arte situada no campo da estética contemporânea;
  • Contextualizar o entendimento da arte como área do conhecimento e sistema comunicativo;
  • Entender a arte como representação cultural;
  • Iniciar um processo teórico-prático do professor nas linguagens artísticas.

A partir disso, a autora tem como objetivo mostrar que o professor tem que observar a realidade de maneira crítica e com isso criar novas formas de produzir e conhecer. Ela garante que o principal problema no ensino da arte é a sua qualidade e como ela é conduzida enquanto disciplina pelo professor e acredita que a formação continuada seria a solução para esse problema. Ela diz que a arte precisa ser trabalhada de maneira mais lúdica e afetiva, somando com o coletivo, pois se pelo menos 80% dos professores da escola, não somente da área de artes, se envolverem nesse processo tende a obter melhores resultados.

Por isso, é preciso que professores qualificados sejam contratados para apropriar-se da imaginação da criança a fim de contribuir no desenvolvimento de habilidades físicas, psicológicas, intelectuais e sociais. Cabe ao professor analisar e estabelecer atividades diferentes para cada idade, porque com o passar do tempo a criança se interessa por diferentes áreas. Por fim, a preocupação e a atenção voltada ao aluno despertarão o interesse do indivíduo e as artes continuarão como componente curricular. 

3 CONCLUSÃO

 De acordo com o presente trabalho, ao levarmos em conta a devida importância das artes, fugiremos do conservadorismo que é trabalhar apenas métodos convencionais, e muitas vezes arcaicos, impostos aos alunos para adentrarmos no mundo deles, nos seus pensamentos, sentimentos e emoções. Afinal, para que o professor cumpra seu papel de educador é necessário auxiliá-los em suas relações interpessoais. É preciso também que se tenha conhecimento cultural sobre seu país, região, cidade para que possa valorizar a própria cultura e a do outro. Portanto, apenas o capacitado na área pode aproximar as artes visuais dos alunos e despertar o interesse para que o ensino da mesma se torne um atrativo na sua maneira de ver.

REFERÊNCIAS 

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BITTENCOURT, Cândida Alayde de.Resgatando a história da história recente do ensino de Artes no Brasil.In:_______. Arte & Educação: Da Razão Instrumental à Racionalidade Emancipatória. 1. ed. Curitiba: Juruá Editora, 2010. p. 31-33.

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