A CONTRADIÇÃO DA INDÚSTRIA CULTURAL.

Para que a Indústria Cultural se torne algo fixo na sociedade, para que os indivíduos usem-na e se inspire nela para “ser alguém” ou ter algo, é de extrema importância que ela vença ininterruptamente uma impugnação primordial.

Da mesma forma que ela tende a produzir materiais, conteúdos e ideais padronizados para a sociedade, ela entende que esses mesmos precisam apresentar particularidades essenciais para induzir a obtenção deles por parte da massa. Essas peculiaridades são a criatividade ou seja algo que seja novo, para que desperte o querer das pessoas e a individualidade ou unanimidade, para que o individuo ao ter tal produto se sinta único, assim como o bem adquirido.

E por que tais regras juntas num mesmo processo de produção, são caracterizadas como uma contradição? Com outras palavras, a pergunta a ser respondida é: Como é possível padronizar algo que ao mesmo tempo tende a ser único?

A Indústria Cultural não somente responde a esse questionamento, mas também, como foi dito inicialmente, ela o supera todos os dias, sendo desta maneira a forma de alienação, indução e manipulação mais eficiente que existe. A maneira como ela excede esse obstáculo é muito simples: transformando arquétipos em estereótipos, isto é, os arquétipos comandaram o querer das pessoas, induzindo-os a achar que tal produto o torna único, mas na verdade, há milhares de pessoas iguaizinhas.

A Indústria padroniza seus produtos, tornando-os modelos, impondo estruturas externas, ao mesmo tempo que, peripécias e/ou personagens dão ao produto estruturas internas, para chegar a um protótipo, adere modelos com os quais cria uma identificação produto-sociedade, e deste modo é criado um padrão único ou que pelo menos aparente ser único aos olhos da massa.

Um exemplo desse trabalho desempenhado pela Indústria Cultural, são os filmes de comédia romântica, todos tem a mesma estrutura narrativa ou seja um padrão – o mocinho se apaixona pela mocinha e vice-versa, eles ficam juntos, algo acontece impedindo-os de permanecerem juntos, eles se separam, sofrem e depois vencem o obstáculo que os separavam, ficando juntos novamente e sendo felizes para sempre ao final da trama. O que torna cada filme único aos olhos dos espectadores, são as mudanças de atores na representação das personagens, assim como a situação ou o contexto do filme, também é modificado.

Podemos confirmar isto com essas duas estruturas narrativas de filmes, começando por “10 coisas que eu odeio em você” onde os atores principais são Julia Stiles e Heath Ledger. A história é sobre a família Stratford, que é composta pelo patriarca e suas duas filhas, Bianca e Katharina (a mocinha). Bianca não via a hora de começar a namorar, tinha até pretendente, Cameron, mas o pai não a deixava sair com os garotos, depois de muito insistir, ele determinou que a filha mais nova, Bianca, só poderia namorar se sua irmã namorasse também, o problema é que Katharina era insuportável e não tinha nem amigos, quanto mais namorado.

Então Cameron, apaixonado pela menina e querendo resolver a situação, contrata o badboy Patrick Verona (o mocinho) para seduzir a Katharina. Ao decorrer do filme eles se apaixonam e ficam juntos, mas Katharina descobre a armação por trás do romance (obstáculo) e com isso eles se separam. Depois de várias formas de pedidos de desculpa ela o perdoa (superação do obstáculo) e eles voltam a ficar juntos (desfecho feliz para o casal).

A segunda estrutura narrativa é do filme “E se fosse verdade” estrelado por Mark Ruffalo e Reese Witherspoon, que basicamente conta a história de David (o mocinho) e Elizabeth (a mocinha), ele alugou um apartamento e a última coisa que queria era dividi-lo com alguém, mas logo surge Elizabeth, insistindo que o apartamento é seu. David imagina que houve um grande mal entendido, até que a moça simplesmente desaparece. Ele muda a fechadura do ap. mas isto não impede que Elizabeth ressurja, sempre aparecendo e sumindo como em um passe de mágica. David fica então convencido de que Elizabeth é um fantasma e passa a tentar ajudá-la a passar para o "outro lado" do pós-vida, mas com essa convivência os dois acabam se apaixonando, um tempo depois ele descobre que ela está viva, mas respirando através de aparelhos em um hospital, ele bola um plano e consegue levar o espírito de Elizabeth de novo para o corpo dela, ela acorda no hospital, mas não se lembra do que viveu com ele (obstáculo). David sofre e se afasta dela, mas depois de algumas vivencias, ela acaba se lembrando de tudo (superação do obstáculo) e os dois voltam a ficar juntos (desfecho feliz para o casal).

A estrutura narrativa de ambos os filmes permanecem intactas, padronizadas, a mudança ocorre no contexto dos filmes e no seus atores principais, dando um ar de novidade ou individualidade.