Quando a professora Maria Lúcia no segundo ano primário deu sua aula de história do Brasil, fiquei impressionado. Ela contou em detalhes quando as caravelas portuguesas partiram do Porto em direção à costa africana. Mas algo estranho aconteceu. Uma forte calmaria fez com que as naus fossem desviadas para oeste, bem longe do contorno do continente africano que era o caminho em direção às Índias.

Depois de dias e mais dias, o comandante da expedição Pedro Alvares Cabral começou a observar pedaços de madeira no mar. Depois pássaros e finalmente, terra a vista. Primeiro pensaram se tratar de uma ilha que deram o nome de Vera Cruz, depois perceberam que era uma grande extensão de terra e deram o nome de Terra de Santa Cruz.

E sempre que ela fala no navegador lusitano, Pedro Alvares Cabral, todos olhavam para  um colega que se chamava Nelson Cabral, como se ele tivesse alguma relação com o descobrimento. Muito esperto ele falou orgulhoso: “Foi meu avô”. Todos riram e a professora explicou que avô não era, mas poderia ter sido um parente muito, muito distante do Nelson.

Mas uma coisa sempre me intrigou. Por que no Tratado de Tordesilhas, em 1494, Portugal e Espanha, com o beneplácito do Papa, dividiram as terras à Oeste  entre os dois países?  Por que oito anos depois Cabral desembarcaria por aqui? Somente no ginásio o professor de história, Josué Augusto da Silva Leite tocou no assunto, dizendo que havia duas correntes, uma que dizia que o descobrimento foi ao acaso e a outra, foi intencional, pois já se tinha conhecimento de que havia terras a oeste.

Mas foi o professor jesuíta, Mario Ghislandi que foi mais categórico. Além de dizer que não foi por acaso que o Brasil foi descoberto, mas um plano bem planejado de conquista ultramarina antes que outros países europeus por aqui chegassem. Não foi uma descoberta, mas uma invasão de conquista do império português, continuou ele. Uma conquista porque havia milhões de habitantes espalhados por Pindorama, o nome que os nativos denominavam essas terras. Ao longo do tempo várias guerras foram travadas com os nativos, que desorganizados em tribos  isoladas, não se organizaram adequadamente para enfrentar os invasores. Armados com arcabuzes assustavam os pobres índios que nunca tinham visto uma arma de fogo. Além do armamento e organização militar os portugueses ainda contavam com os vírus e bactérias com as quais os nativos nunca tiveram contato. Resultado: gripe e outras infecções mataram mais nativos do que as armas.

Mas nas aulas do primário só pensava nas caravelas navegando durante semanas entre a costa africana e a costa brasileira, sem uma viva alma por perto. Os pobres marinheiros, cheios de superstições, pois na época se supunha que depois do oceano surgiria um grande abismo, sem contar com monstros perigosíssimos.

E assim, um minúsculo país europeu com uma população de cerca de 400 mil habitantes conquistou um imenso território