Vamos aproveitar que o termo “competitividade” está em alta e vamos tecer algumas considerações sobre isso.

A sociedade, os espaços educativos, os universos de cada um, estão cercados pela competitividade. É o filho que melhor se destaca na escola, no esporte, nos cultos religiosos... Então, significa dizer que desde a mais tenra idade somos instigados a competir e o mais grave, precisamos vencer. Há casos em que as crianças são cobradas na família por ter “apanhado” na escola, e advindo disso, o bullying, quem sofre a violência é fraco, é “mulherzinha”, e ainda pior, é maricas ou outro nome que deixe em dúvida a opção sexual dos meninos. Por outro lado, há a premiação, troféu no judô, na goleada, nas lutas de rua, medalhas para torneio da matemática, nas gincanas esportivas. E para quem perde? Para esses, na verdade a grande maioria, a vergonha, a execração, o descaso. Para a formação psicológica das crianças, perder significa “ter menor valor”, o que, se sabe, pode abalar nossas próprias crenças em nossas qualidades.

Há um culto à forma física, à musculatura desenvolvida, até mesmo fama e sucesso para glúteos desenvolvidos. Os mais gordinhos, os muito magros, os que necessitam de óculos, aqueles que não se exercitam, esses ficam à margem.

Há o outro lado: Em áreas como a da informática, dos jogos virtuais, salientam-se os mais ágeis no pensamento, e no próprio sistema educacional, alguns programas e projetos no intuito de desenvolver o ensino no país, prestigiam e premiam os que sobressaem na prova.

No século XVIII, surgiu o ensino tradicional na Europa, como um modelo em que os alunos são ensinados e avaliados de forma padronizada. Inspira-se na ideia de que a mente das crianças é uma tabula rasa, uma página em branco sobre a qual os diferentes conteúdos – línguas, gramática, matemática, ciências, história etc. - devem ser gravados segundo um método rigoroso de exposi­ção e avaliação. Valoriza o acúmulo de conheci­mento: quanto mais fatos e fórmulas o alu­no aprende, mais bem avaliado ele é, mais do que qualquer outra aptidão individual.

No Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que classifica as escolas públicas e particulares a partir das notas tiradas numa prova feita pelos alunos, é decisivo para a família na hora de escolher onde matricular seus filhos. Há anos, os colégios mais tradicio­nais e rígidos ocupam o topo da lista.

O que se verifica é um retrocesso à escola tradicional, e em cidades brasileiras vê-se escolas aplicando o chamado “vestibulinho”, que dá ingresso aos de melhor desempenho. Nelas há, inclusive, a volta ao tailleur para as meninas e professoras e os ternos para meninos e professores. Não podemos negar que essas práticas têm atraído muitos pais crentes de que o sistema atual não prepara o aluno para o futuro.

Contudo, os educadores do país têm visto com maior ceticis­mo o sucesso desse modelo de ensino. Há que se refletir sobre os vários problemas que decorrem da estratégia convencional, ba­seada na combinação de competitividade e pressão por notas. Essa política de seleção dos melhores- competição- traz problemas emocionais que vão interferir no desenvolvimento do sujeito ao longo da sua vida, em diferentes setores.

Educadores contemporâneos tentam reagir ao espírito competitivo, de incentivo à competição nas escolas desde os anos 1960, colocando em prática uma proposta pedagógica moderna, que valorize o ser pessoa. Ganharam relevância nos anos 70, quando essas novas teorias sobre como as crianças aprendem tiveram vulto nas escolas. Em geral, e priorizado o estímulo às possibilidades de cada um, as artes, o contato com a natureza e o lado emocional dos alunos. No Brasil, o método que mais se difundiu foi o construtivista, que se inspira nas ideias do psicólogo suíço Jean Piaget, segundo o qual as crianças aprendem em conjunto e sempre usando a realidade de cada um como referência. Nele a cooperação substitui a competição.

 "Vivemos numa sociedade competitiva. mas a escola não pode ser uma fábrica de pessoas em série. É preciso respei­tar as singularidades de cada um". (Jorge Harada)