A CLAUSTROFOBIA E O ELEVADOR

Por Romão Miranda Vidal | 26/10/2012 | Contos

 A CLAUSTROFOBIA E O ELEVADOR

O prédio inaugurado há poucos meses pertencia há um conjunto de  cinco torres, com 40 andares. Uma obra de total desafio ao que havia de mais moderno, design, criatividade, arquitetura, mas não possuía um ferramental, relacionado com o item: imprevisto.

O elevador parou no 31º andar e uma senhora muito bem vestida, loira, elegante que transmitia um segurança incrível. Alta, discreta, de olhar firme e penetrante. Consultou o relógio, que indicava precisamente 14,30 horas. Restavam ainda trinta minutos para a próxima reunião com a diretoria do banco, que financiaria a aquisição de mais uma indústria do ramo de cosméticos.

Uma pequena desaceleração indicava a parada no 28º andar. Um senhor alto, elegante na forma de cumprimentar e se postar, trajando uma calça jeans, camisa pólo branca, um pulôver amarelo de cashemere e sapatos mocassim. 

O elevador era o que havia de mais moderno. Última geração em termos tecnológicos. Todo espelhado e com telas dispostas que o usuário poderia interagir. Os painéis indicavam a temperatura, parada programadas, número de pessoas a serem transportadas com segurança, sistema de comunicação viva-voz, câmaras de segurança. Afora todo o sistema de segurança, como saída de emergência.

A velocidade destes elevadores era algo fantástico. Acelerava de tal maneira, que mal se podia perceber.

De repente ele desacelerou e parou. No painel não indicava nenhuma parada programada.

Uma gravação: Senhoras e senhores usuários. Identificamos um defeito mecânico. Por favor, mantenham-se calmos e façam uso do sistema de comunicação. A iluminação interna será reduzida.  Dentro de duas horas de trinta minutos, solucionaremos o problema.

A senhora demonstrou um desconforto considerável e pronunciou, quase que em estado de pânico: Eu sofro de claustrofobia. Por favor, me ajude. Era uma situação delicada. Ele por sua vez ao notar a situação, procurou manter a calma. Senhora. Senhora respire fundo e segure o ar, contando mentalmente até 10 e depois expire pela boca, bem devagar. Repita comigo esses exercícios, pausadamente. E então? Está sentindo-se melhor? A luz no interior da cabine era tênue, mal refletia nos espelhos. Agora a senhora deverá fazer o seguinte. Nesta situação é importante fazer uma ligação com algum elemento que possa descarregar a energia negativa que se acumula. A senhora, por favor, descalce seus sapatos para ficar com os seus pés em contato com o piso de granito. Assim o fez. Ah! A senhora está de meias? Sim. Então as tire. São meias calça. Não tem importância, o ideal é ficar descalça. Pronto. A sua respiração está ofegante. Vamos afrouxar tudo o que possa comprimir seu tórax. Por favor, desabotoe o sutien. Mas antes vou ter que tirar o casaco. Sim o casaco, a echarpe e o sutien. A blusa também? Se a senhora sentir-se melhor...Tirou. Agora sim. Sente-se melhor? Estou mais aliviada. Vou fazer uma massagem relaxante e a senhora vai sentir melhorar o seu estado de tensão. Com licença. Iniciou massageando os músculos dos ombros, aos poucos foi para a nuca e sentiu que a senhora aos poucos respirava mais aliviada e a tensão foi diminuindo. Ao chegar próximo as orelhas, notou que estava arrepiada. Foi descendo pela coluna como movimentos circulares com as duas mãos. Descia e subia. Repetia nos ombros, na nuca, nas orelhas e descia até o cocix. E então como está se sentindo? Aliviada e confusa. Não se preocupe. Ninguém nos vê e nem verá. Pelo interfone um aviso. Dentro de uma hora de cinqüenta minutos restabeleceremos todos os serviços. Preciso agora que a senhora fique de frente, para que eu possa fazer um tipo de massagem, mais relaxante ainda. Novamente iniciou pelos músculos dos ombros, depois pela articulação escapulo – umeral e foi até as pontas dos dedos. Massageou o abdômem e... A senhora não vai ficar constrangida comigo, mas preciso que a senhora tire as calcinhas. As calcinhas??? O senhor não está exigindo demais? Acontece que este tipo de drenagem necessita que se faça massagem nas nádegas e que se inicie no cocix, percorra o nervo ciático e vá até aos calcanhares.  Pronto, mas por favor não abuse. E então a sessão de massagem continuou. Ora frontal, ora costal. À medida que massageava as coxas, vinha muito próximo a virilha e podia notar que havia uma formação de pelos pubianos abundantes e que ao passar de forma disfarçada junto a genitália, sentia que estava úmida. Demorava-se na parte costal, em especial nas nádegas e quase que na mesma intensidade nas coxas e nas pernas. E então? Esta mais relaxada? Muito. A comunicação informava. Dentro de dez minutos os elevadores estariam funcionando normalmente.  Desculpem pelo desconforto e pelo transtorno. Ela saiu com a mesma elegância que entrou. Sequer se despediu do cavalheiro que a ajudou naquele momento de tanta tensão.

Ele simplesmente, a ignorou como se nada tivesse acontecido. Parou em uma casa de carnes, comprou dois coelhos e pediu para que desossassem as partes traseiras e os lombos. Na verduraria comprou ceboletes, hortelã, alho poró, folhas verdes de louro, tomilho, cebolas vermelhas e alecrim.Bouquet de Garnim ideal. Duas endívias chamaram sua atenção.  Na loja especializada em vinhos, comprou um espumante nacional de reconhecimento internacional  -Gran Legado Brut Champenois-, um vinho branco francês - Las Perdices Viognier 2010-,dois vinhos tintos franceses - Château Giscours Safra 1998- e um champagne- Champagne La Grande Damev. Na rotisserie  comprou torradas de pão integral e um patê de jabuticaba com lascas de aliche e alcaparras. Na floricultura aquela orquídea branca. Compras feitas restava então preparar o jantar. Mãos a obra, coelho marinado com os temperos verdes que comprara e com vinho tinto.. Entrada preparada. Mesa posta. Velas aromatizadas avelã e gengibre suave.

Forno pré-aquecido, temperatura ideal para este tipo de carne. Bebidas na adega climatizada. Sobrava tempo para um banho relaxante e perfumado. Camisa de linho branco, calça amarela em tecido Oxford e sapatos marrom.

Oi amor. Cheguei. Estou doida por um banho. Que cheiro gostoso. Um beijo tipo selinho. Enquanto ela tomava o seu banho relaxante, ele organizou a mesa. Preparou o aperitivo com o patê inédito de jabuticaba. Desceu as escadarias como uma rainha. Vestida com uma túnica branca, de seda indiana, transparente. Por baixo só os dotes naturais e tentadores. Descalça era mais tentadora ainda. Bebida gelada ao ponto.  O espumante na realidade condizia com a sua fama. Torradas e patê de jabuticaba. Uma mistura inédita e exótica. Mesa posta. Não sem antes aquele beijo molhado e demorado, com carícias preliminares ousadas. Despertaram os apetites. Vinho tinto despejado com cuidado no “decanter” com uns cinco minutos antes de servir. Um brinde, olhares apaixonados. Coelho “au vin”, purê maçã com farinha de amêndoas e regado com mel de erva-cidreira. Arroz branco. Endívias ao molho de morangos esmagados ao azeite de oliva e sal. Jantar magnífico. O vinho branco acompanhou o exótico pavê de rapadura. O diálogo resumiu-se em trocar informações a respeito do dia a dia. Mas...aconteceu algo que me deixou quase apavaroda. O que de tão sério aconteceu? Fiquei presa no elevador.  E como reagiu?  No inicio fiquei com medo da síndrome claustrofóbica, mas no elevador encontrava-se um homem, que ao notar a minha angustia, foi me acalmando aos poucos e praticamente, ou melhor, durante duas horas e trinta minutos em que fiquei presa no elevador, ele me acalmou de tal forma que fiquei totalmente relaxada e nem senti o tempo passar. Foi a melhor terapia que já experimentei em todas as minhas crises de claustrofobia.  Mais uma taça de vinho? Sim. E aos poucos a conversa foi fluindo, agradável e leve.

Mas até agora fui eu quem falou. E você? Como foi o seu dia? Acredito que encontrei a direção certa para a minha tese de Doutorado a respeito da Claustrofobia... E assim a noite terminou com uma série de massagens, agora não tão técnicas, mas eróticas e muito mais interessantes.Subiram as escadas, entre beijos, carícias e duas garrafas de champanhe para o final ou início da noite.