A música de Chico Science e Nação Zumbi “A cidade”, aborda as contradições da urbanidade, sendo que o processo de urbanização influencia diretamente na qualidade de vida das pessoas, isso inclui a influencia das questões ambientais nesse contexto, além de ser de suma importância analisar como os indivíduos estão lidando com os desafios da vida urbana.
A letra da música faz crítica aos problemas urbanos desencadeados devido ao crescimento populacional das cidades e traz uma reflexão acerca de como esse espaço, no âmbito social econômico e político, está lhe dando com essa realidade. Esse novo modelo possui algumas contradições, pois ao mesmo tempo em que possibilita uma vida mais confortável para alguns que tenham mais acesso a alguns recursos como: água encanada, luz e rede de esgoto, traz uma visibilidade as cidades de “melhor lugar pra se viver”. Isso induz ao inchamento populacional que acarreta na construção de residências em lugares inapropriados devido à falta de infraestrutura, dado origem às periferias.
Outra contradição presente na vida urbana refere-se as áreas de proteção ambiental, através das reservas ambientais, esses objetos da política de preservação estão sendo usados para uso e apropriação privada, pois estão tornando-se raros, e lugares que contemplem esse “pedacinho verde” tem alto valor comercial. Essa diferenciação ocasiona desigualdades e deturpa a função da preservação ambiental que é algo para um bem comum da sociedade e passa a ser um bem de consumo para alguns. O resultado dessa transformação tem como resultado uma “urbanização desurbanizante e desurbanizada” (Lefecvre, 1969),ou seja, o que deveria ocorrer de forma positiva para o desenvolvimento das cidades está tendo como resultado uma segregação que privilegia a classe dominante.
As cidades estão cada vez mais “cheias”, cheias de carros que emitem poluentes, de indústrias que precisam acompanhar o desenvolvimento dos centros urbanos e para isso poluem mais, de uma degradação maior de áreas verdes para construção de casas entre outros problemas ambientais. Esses problemas representam perigos ao planeta e ameaça a vida humana, tornando-se urgente a busca de soluções para eles.
A urbanização sem controle é um ponto negativo para os centros urbanos, pois as cidades, muitas vezes, não acompanham esse crescimento o que acarreta na falta de infraestrutura, coleta e destinação do lixo adequadamente, saneamento básico, serviços de saúde, empregos e segurança. Boa parte da população - geralmente a mais pobre -, que reside nas periferias das cidades que estão em desenvolvimento e crescimento, vive em condições inadequadas de moradia, pois não possuem acesso a serviços básicos de saúde e saneamento, por exemplo, são expostos a contaminação ambiental, além da poluição. Essa realidade é o que Nelson Gouveia define como “enfrentar o pior dos dois mundos: os problemas ambientais associados ao desenvolvimento econômico e os, ainda não resolvidos, problemas sanitários típicos do desenvolvimento”.
No que tange questões ambientais a água é muito importante para relacionar as influencias das questões ambientais na urbanidade, pois diante a poluição de rios e mananciais que são de fundamental importância para a manutenção da vida na terra, alguns destes encontram-se poluídos, tornando necessária a preservação dos que ainda não foram e um processo de “despoluição” dos que estão poluídos. Nesse contexto a cidade de Santo Antônio de Jesus- BA é sede de um programa muito interessante que objetiva recuperar nascentes, Projeto Brotar Nascentes feita pela ONG, GANA (Grupo Ambientalista Nascentes) envolvida com diversas ações de preservação e qualidade ambiental na cidade. Diante problemáticas como esta, o GANA visa realizar palestras e discussões de conscientização, além de ações para recuperar nascentes e corpos d’água da região, promovendo a qualidade ambiental.
Segundo Nelson Gouveia “Hoje, com os grandes tormentos da poluição, da violência e da pobreza, as cidades deixaram de assegurar uma boa qualidade de vida e tornaram-se insalubres”, tal citação expressa como o modo de vida na urbanidade está influenciando as questões ambientais, acarretando o baixo nível de qualidade de vida das pessoas, que inicialmente vão para os centros urbanos atrás de melhorias de vida.
Tais desafios ambientais relacionado a urbanidade, para serem resolvidos é necessário uma reformulação das questões do meio ambiente nas políticas de saúde pública e os objetivos a serem alcançados. Isso ocorre através de um desenvolvimento sustentável aliado a saúde ambiental, que a OMS (Organização Mundial da Saúde) define como “as consequências na saúde da interação entre população humana e o meio ambiente físico-natural e o transformado pelo homem - e o social”. Sendo assim, é necessário que cada individuo faça sua parte com simples ações, como por exemplo reciclar o lixo, fazer coleta seletiva e utilizar transporte coletivo, são ações que em conjunto possibilitam melhorias. É necessário que a saúde ambiental seja pauta para as discussões acerca não somente desses problemas, mas também das desigualdades sociais presentes na atual sociedade. Entretanto, a urbanização não significa que certamente vão ser crescente os problemas ambientais, é possível crescer e desenvolver através de bons planejamentos com uma atenção especial a água e saneamento, moradia, lixo e poluição do ar, pois estes temas podem influenciar positivamente na melhoria da população que busca esses lugares . Devido os problemas dos centros urbanos e da vida moderna os seres humanos pertencentes a uma metrópole, geralmente, lutam constantemente para preservar seu intelecto e sua personalidade. Nesse contexto Georg Simmel afirma que “a intelectualidade, assim, se destina a preservar a vida subjetiva contra o poder avassalador da vida metropolitana”, o que significa dizer que a racionalidade das ações em função da pressão exercida ao individuo na metrópole. Para o autor esse “modo de vida na metrópole” ocasiona um amortecimento nos sentidos do indivíduo. A partir da análise dos textos, da visita ao GANA, dos debates e toda exposição acima é possível inferir que a urbanização possui algumas contradições no modo de vida e que isso é negativo tanto para a população quanto para o meio ambiente. Todas as influências nos centros urbanos levantam questões ambientais, pois meio ambiente e seres humanos fazem parte de um corpo indivisível, sendo que o desequilíbrio de um afeta o outro. Sendo assim, é de crucial importância a conscientização da população acerca dos problemas enfrentados, isso pode ocorrer com a educação ambiental, e a promoção de ações individuais e coletivas que promovam o equilíbrio ambiental, ocasionando um aumento na qualidade de vida que é justamente o que as pessoas que vão para os centros urbanos buscam.