A Chuva
Quando ela chega
Não pede licença
Vai se formando a vista de todos
Mas está tão acima de nós
Que não vemos seus ingredientes
Não sentimos o aroma de suas cores
Estamos saciando nossa sede em fontes vãs
Tentando amenizar o calor artificialmente
...Mas ele sempre volta a consumir-nos nas noites cálidas de solidão
Chega repentinamente
Dissipa o ardor de uma tórrida tarde de setembro
Sem nenhuma palavra
Sem nenhuma pergunta
Sem respostas prontas
Indubitavelmente ela molha o terreno ressequido de incompreensão
Sem pedir licença vai apropriando-se
Penetra nas entranhas sólidas
Que já não são tão firmes
Encharcadas de vida, deixam-se inebriar pelo frescor das águas puras
A suavidade do seu som
A profundeza de seus braços
A sua luz que é única
Dominam sem poder algum
Mas com toda a força capaz de dilacerar montanhas de incerteza
...e ela passa...
Deixa apenas um doce rastro
No qual as crianças vêem singrar seus frágeis barcos de papel
Que vão não sei para onde
Que encomendas levam
Que tesouros escondem
Que corações ficaram sangrando no porto...
Chega outubro!... As chuvas chegam mais rápido
Tornam esverdeantes os jardins
Florescem os campos
Em novembro ela vem com mais impetuosidade
Lava a vida e os amores
Leva a vida e os amores
E se espera na janela...
Mais um dia de sol.

Por Celia Regina Lopes Feitoza