A escravidão foi encerrada oficialmente no dia 13 de maio de 1888, mas foi só no decreto imperial, pois a visão escravocrata continuou firme e forte na mente daqueles que não se conformaram em ver pessoas negras livres circulando pelas ruas, usando sapatos, frequentando os mesmos lugares dos brancos.

Mas em 1910, um fato histórico mostrou que a escravidão ainda não havia terminado, pois marinheiros negros foram açoitados pelos oficiais da Marinha brasileira gerando a famosa Revolta da Armada que chegou a ameaçar disparar canhões contra a sede do governo no Rio de Janeiro. Os amotinados, liderados por João Candido Felisberto, se renderam com a promessa de que seria o fim das chibatadas e seriam anistiados. Mas o governo do Marechal Hermes da Fonseca não cumpriu a promessa e todos foram presos e muitos mortos nas prisões. A história foi imortalizada em 1975 por João Bosco e Aldir Blanc no famoso samba enredo “O mestre sala dos mares”, que foi censurado pela ditadura, com a proibição de vários termos da letra original.

Nos anos 1960, o sociólogo norte-americano Warren Dean (The industrialization of São Paulo, 1969), em pesquisa sobre a industrialização em São Paulo, descobriu que em 1920, os menores aprendizes eram açoitados quando cometiam algum erro ou desobedeciam às ordens dos seus superiores no Cotonifício Crespi, na Mooca. O proprietário era o Conde italiano Rodolfo Crespi. No caso, não se tem registro se os meninos eram brancos ou negros.

A chegada dos italianos para substituírem os escravos nas lavouras de café em São Paulo, mostrou que os barões das antigas oligarquias paulistas, tratavam os imigrantes como escravos, gerando conflitos diplomáticos com o governo italiano que chegou a suspender a vinda de novos imigrantes caso o governo brasileiro não tomasse providencias.

Vários casos de agressões contra os imigrantes italianos foram registrados por historiadores. Um  que ficou famoso, foi o do filho de um grande fazendeiro que violentou uma menina italiana, sendo o caso acobertado pelas autoridades, pois ele era parente próximo do Presidente da República,  Campos Salles.

Agora, em pleno século XXI, um jovem negro de 17 anos foi espancado nu durante quarenta minutos pelos seguranças de um supermercado em São Paulo porque roubou uma barra de chocolate. O caso foi registrado em um celular e tudo indica pelos próprios algozes ou capatazes do estabelecimento.

A gerência da loja alegou que não coaduna com ações fora da lei e que dará toda a assistência para a família do jovem. Alguma coisa está fora da ordem. Ou os seguranças foram treinados para agirem dessa forma pela empresa de segurança ou são apenas marginais racistas e irresponsáveis que agiram fora da lei? O delegado prometeu ouvir os dois até o final de semana e decidirá se recomendará a prisão por maus tratos e cárcere privado de um menor por motivos fúteis. Vamos ver como ficará essa história. Talvez fique como os versos da canção de João Bosco e Aldir Blanc. “Salve o almirante negro que tem por monumento, as pedras pisadas do cais”.