A CHEGADA DO CANTOR BELCHIOR NO CÉU

Autor: Wilamy Carneiro

1

O céu estava triste

Precisando de animação

Os anjos reclamavam

A São Pedro da situação

Pois precisava fazer algo

Como Deus fez a Abraão

Marcaram uma audiência

E fizeram a votação.

2

No dia e hora marcada

Foi aquela animação

Muitos estavam eufóricos

Na visita do novo anfitrião,

Uns pegando seus pertences

E o mais velhos em aclamação.

Três querubins eufóricos

Flagelado com a intercessão.

3

O caso foi unânime

Assentado com urgência

Um cantor latino americano

Queria um cearense de preferência

Procuraram a criatura

Um compositor com sapiência 

Lembraram de Belchior

Pois essa era sua exigência

4

No céu houve um plebiscito

Vanuza era a presidente

Abriu a sessão com “Paralelas”

Daí chegou muita gente

Elis Regina na coordenação

E Maestro Acácio como regente

Convidaram Jair Rodrigues

Para ocupar a cadeira de suplente.

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Então foram falar com Deus

Fizeram um alto relato

Deus então pediu

Que fizessem um tal contrato

Se eles desobedecessem

Todos iam parar no internato

Vou mandar para o purgatório

E todos pagarão o pato

4

No dia seguinte

Eless estavam lá

Ouviram muito zum-zum-zum

E alguns queriam falar

Pois a missão foi dada

Para visitar o Ceará

A procura de um cantor

Que quisesse vir pra cá.

5

Deus fez uma pesquisa

E procurou a localização

Pegou a caneta e riscou

No mapa avistou a região

Deu seu recado ao mensageiro

Procure um cantor do sertão

Vá a "Palma" e venha depressa

O Ceará é seu torrão.

6

Um anjo chegou ao Ceará

Escolheu a cidade de Sobral

Sentiu um tremendo calorzão

Viu uma coisa anormal

Pernoitou na capela de Santo Antônio

Assistiu a missa na Cadedral

Triste com os boatos e comentários

Belchior partiu pra Portugal.

7

O anjo se desesperou

Foi procurar Sr. Milton - O sacristão

Era um homem alto e franzino

Estava organizando a procissão

A igreja lotada com a Festa

Da Padroeira de Nossa Senhora da Conceição

Saiu perambulando pelas ruas de Sobral

Até esbarrar no Teatro São João.

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Enfurecido o anjo passa um telegrama

Para o mensageiro de São Pedro

Disse o anjo na carta:

Pergunte quem chegar primeiro

De algum sobralense no céu

Encontraram o Maestro José Pedro.

Pressionaram se conhecia Belchior

O maestro confirmou ligeiro.

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Se tu conhece o cantor

Diga logo onde posso encontrar

Pois fui escolhido numa missão

E para céu “Belchior” levar

Soube que foi embora

Partiu do seu Ceará

Andas pra bandas da Região Sul

Numa turnê foi cantar.

10

Quando o anjo mal esperava

Saiu aqui uma noticia no jornal

Belchior, o cantor sobralense

Estava numa turnê internacional

Preparando um novo álbum

De repercussão colossal

Andava um pouco recluso

E com saudade de Sobral.

11

O anjo ficou invocado

Soltou aquele palavrão

Procurou na música de Belchior

O que significava “Alucinação”

Seu tempo estava esgotando

Achou aquilo uma armação

Não viu nenhuma teoria

Nas estrofes fez confusão.

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Então no céu Deus convocou

A urbe da “Nação Nordestina”

Com seus cantores representantes

Apareceu a MPB feminina

Gal Costa com seu vozeirão

De práxis a amiga Elis Regina.

Raul Seixas maluco beleza que fascina.

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O anjo contratou mais mensageiro

Para cumprir a obrigação

Pois o tempo estava se esgotando

Não aguentava aquele calorzão

Tinha que procurar mundo afora

Vou achar Belchior nem que seja no Japão

A pau e pedra queria ver o compositor

Essa era a sua salvação

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Soube que o cantor perambulava

Talvez fosse só boato

Os jornais já suspeitavam

Se era mentira ou fato

Andava por terras gaúchas

Belchior vivia no anonimato

Espalhou a notícia na televisão

Um amigo fez seu auto retrato.

15

Belchior estava preparando

Um novo e grande espetáculo

Mas, mal sabia ele

Que Deus lhe fazia um oráculo

Cumprir a promessa para o céu

Que estavam isolados em vácuo

 São Pedro estava triste

Belchior era o sustentáculo.

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Um dia Belchior dormiu

Ouvindo uma bela canção

Estava tudo programado

Cochilava no seu colchão

A noite fria acalentava

Deus programava sua Ressurreição

Mandou do céu um mensageiro

Com um dia cumprir sua missão.

17

Quando Belchior acordou

Avistou um clarão no céu

Achava que era sonho

Perguntou ao porteiro menestrel

Moço aqui faz muito frio!

Está numa altura de arranha céu

Quero compor uma música

Por acaso você tem papel?

18

Dominguinhos saiu lá de dentro

Conheceu o vozeirão

Tim Maia soltou o verbo

Ele voltou com sua canção

Para fazer parte dos imortais

Com Luiz Gonzaga: Rei do Baião

Chico Anísio veio receber

Belchior naquela linda mansão.

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Coronel Ludugero e Sivuca recebem a notícia

Da inesperada chegada de Belchior

Maestro Acácio com a banda de música

Pedro Sertanejo recepciona o cantor

Belchior ainda atordoado

Na porta do céu estagnou

Achava que era uma pegadinha

No linguajar cearês na portaria indagou

20

Olha aqui cabra da Peste

Disse Belchior ao porteiro

Chama logo seu patrão

Não converso com mensageiro

Tenho shows a fazer

Vá logo e volte ligeiro

Se não mando você pastar

Para o Rio de Janeiro.

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Amigos do Ceará e Sobral foram apaziguar

Na portaria Patativa viu a confusão

Padre Ibiapina avistou Belchior enfurecido

Domíngos Olímpio tomou satisfação

Calma ó latino americano

Você recebeu “A Ressureição”.

Agora faz parte do novo grupo

No coral do Maestro Wilson Brasil para sua nova canção

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Belchior caiu em pranto

Resmungou a São Pedro

Meus projetos não terminaram

Tenho uma turnê primeiro

Se enganaram com minha pessoa

Eu não queria morrer ligeiro

Já marquei com empresários

Pra cantar no estrangeiro.

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Então ele cantou em voz alta

“Saia do meu caminho

Eu prefiro andar sozinho

Deixe que eu decida  a minha vida”...

E num clarão Jesus aparece

Filho você nos ensina

A cantar no céu daqui de cima

Agora é sua morada eterna.

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E abriram “As Portas do Céu”

Belchior em aclamação

São Pedro dizendo

Foi por “Medo de Avião”

Que segurei pela primeira

Vez no céu a tua mão

Belchior com a “Divina Comédia Humana”

Aqui é meu lugar e cantava – “Alucinação”.

 

 

 

 

 

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Wilamy Carneiro é professor - Escritor, poeta, cronista, memorialista. Bacharel em Direito pela flf - (Faculdade Luciano feijão). Membro da ALMECE – Academia de Letras dos Municípios do Ceará. Patrono da Cadeira 97, do Município de Forquilha no Ceará. Autor do Livro “Tempo de Sol”. Em 2019 publicou na Casa da Cultura de Sobral “Os Estados Unidos de Sobral”. Participou com Literatura de Cordéis e poesias na Primeira Feira de Livro – Domingos Olímpio. Autor do Projeto de Resgate Histórico Cultural da Residência do escritor Domingos Olímpio e do Projeto – “Largo dos Poetas” -  Corredor Cultural na Princesa do Norte.