Joacir Soares d'Abadia

Tanto a pobreza evangélica como a caridade cristã estão intimamente relacionadas com a realidade social. Fala-se muito da pobreza espiritual inspirada no Sermão da Montanha onde Jesus diz que são felizes os pobres em espírito. Mas, além dessa pobreza, a qual são "bem aventurados" aqueles que a possuem, tem-se aquela relacionada ao social: a pobreza material. Essa, leva muitos pobres mendigar por um pedaço de pão, uma moradia e até mesmo por vestes. Eles esperam, infatigavelmente, que, pela caridade cristã os homens de boa vontade se movam de compaixão deles e lhes façam uma caridade material – tirando-os da indigência e dando-lhes humanidade.

A caridade cristã tem como dever a promoção da vida e dignidade do ser humano em todas as suas esferas, seja no campo espiritual como também no material. Deste modo, este trabalho tem como objetivo olhar o homem na sua totalidade, baseando, claro, na Doutrina Social da Igreja, nos documentos da Igreja e nos pensadores e teólogos.

Partindo de uma abordagem social da pobreza e da caridade, deter-se-á na questão "periferia". Aliás, o tema é apresentado como campo de atualização da caridade no intuito de superação da pobreza que tanto assola os miseráveis que vivem nas periferias das grandes cidades. Para tanto, faz-se necessário trilhar um caminho, o qual analisa a caridade e o problema da pobreza, por um lado, e a periferia, de outro.

Em síntese, a caridade será enxergada a partir do trabalho, o qual dignifica qualquer pobre que luta com o drama da pobreza, visceralmente, na periferia, onde o problema da pobreza torna-se o problema do próprio homem.

1. A CARIDADE E O PROBLEMA DA POBREZA

A caridade cristã, enquanto virtude teologal, está pautada sobre o amor pelo menos favorecido, o qual se encontra impossibilitado de condições mínimas para a sua própria sobrevivência. Faltando o mínimo necessário para abonar a sobrevivência, a pessoa é despejada, quase sem se dar conta, a uma pobreza que, quando não é miséria, beira-a. O reflexo maior de tudo isso se dará nas periferias, onde os homens são tratados, na maioria das vezes, pelos políticos, como um delinquente que está ali, à margem da sociedade, para nada mais que aprender o caminho da criminalidade.

1. 1 A caridade a partir do trabalho

A caridade deve ser exercida sem levar em conta a classe social a qual o indivíduo se encontra. Ela não contempla classe, senão que visa o próprio indivíduo, ser humano que carrega em si a imagem e semelhança do seu Criador. Por outro lado, a caridade abarca toda pessoa. Isso contudo, seja observada às pessoas que mais necessita de recebê-la. Tendo em vista o pobre que na maioria das vezes é desprovido das coisas mais elementares para si viver com dignidade.

Entretanto, a dignidade do pobre não se retomará somente pelo fato dele receber o ato caritativo, senão quando ele próprio se coloca na dinâmica do trabalho digno. Isso é refletido em um poema que fiz no dia três de fevereiro de dois mil e cinco em Divinópolis Goiás cujo nome é "Trabalho". Eis-o:

Trabalho

Trabalho ao invés de pão

Trabalho dá dignidade

Trabalho faz crescer...

Vamos trabalhar

Vamos crescer

Vamos ser livres

Vamos "fazer" ao invés de ganhar...

Trabalho faz crescer

Vamos a revolução

Trabalho ao invés de pão

Vamos procurar a libertação.

O trabalho faz com que o pobre tenha um reconhecimento contínuo de sua dignidade frente ao seu próprio serviço. Com o trabalho, o fato caritativo se torna mais visível à conduta do indivíduo, porque o homem poderá prestar seu próprio gesto de caridade: exercendo bem o seu labor diário.

O Catecismo da Igreja Católica diz que "O amor aos pobres é também um dos motivos do dever de trabalhar, 'para se ter o que partilhar com quem tiver necessidade'" (Ef 4, 28)[1]. Isso, claro, quando consegue emprego e não é descriminado por sua classe social porque

"... um jovem pobre que em ritmo gradual se insere no mercado de trabalho pela exclusão, a chamada informalidade da economia. Suponhamos que esse jovem trabalhe como camelô e, ao tentar se inserir no mercado de trabalho formal sofra preconceitos por ser morador de favela".[2]

A consequência imediata do trabalho como caridade é a expressão do amor entre os homens: aquele que oferece o trabalho manifesta a caridade para o outro pelo próprio fato de conceder-lhe trabalho e aquele que tem a possibilidade de exercer alguma atividade também faz sua caridade porque deve ser submisso à quem lhe ofereceu o trabalho, pela gratuidade do próprio trabalho. Ou seja, tanto quem oferece o trabalho como quem recebe-o são beneficiário.

Assim, "a caridade é amor recebido e dado; é graça (cháris)... A esta dinâmica de caridade recebida e dada... propõe-se... a proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade; é serviço de caridade, mas na verdade" (Caritas in Veritate, 5).

1. 1. 1 A caridade iluminada por Deus

A caridade precisa formar no homem a grandeza de Deus na sua vida. Quando isso acontece o sentido caritativo não será simplesmente para aliviar o outro de suas necessidades naturais, mas dá-lhe a possibilidade em reconhecer que além de suas fadigas cotidianas existe, na sua vida, a presença de um outro que é totalmente Outro, o qual o criou para lhe dar glória em sua vida laboriosa. Isaias, contudo, vê o pobre como aquele quem deve recepcionar a caridade quando diz que

"Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos,em lugar de desviar-se de seu semelhante" (cf. 58, 6-7).

O reconhecimento do outro em sua necessidade faz com que a pessoa se move em sua direção tentando amenizar a sua dor. Deste modo, diz o Papa João XXIII que "sob o impulso da solidariedade fraterna e da caridade cristã, se empenham em eliminar a dor"[3] de quem sofre. E isso se faz de forma gratuita porque a caridade é gratuita como nos ensina são Lucas na parábola do Bom Samaritano:

"Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o[4] e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei." (cf. 10, 33-35).

1. 2 O drama da pobreza

A pobreza está ligada a diversos fatores. Fatores esses, os quais permeiam o atuar humano. Tais como: falta de emprego, moradia, educação, política acessível que vise o social, o religioso e a cultura etc.

No aspecto religioso a pobreza toma uma forma diferente de todas es outra esferas, ao passo que ela se contrapõe a riqueza, como diz José Miguel Ibáñez Langlois:

As vantagens do pobre em relação ao rico é que tem maior facilidade para abrir seu coração à mensagem evangélica. A conversão do rico é possível sempre e quando viva desprendido do material... O que rechaça Jesus da riqueza é a atitude de confiança que o homem põe nela e a maneira em que se usa (Lc 12, 16-21)[5].

De outro modo, a pobreza implica a falta de oportunidades, de uns, e o acúmulo de riquezas, de outros, como nos ensina São João Crisótomo "Não é o acaso que faz ricos e pobres, mas a rapina e a acumulação de riquezas"[6]. Porém, os grandes responsáveis em moderar o drama da pobreza na vida das pessoas são a política e o Estado, enquanto levantam a faixa do "bem comum". Mas o que se vê é que "Por trás das grandes fachadas escondia-se [ou, esconde?] muita pobreza"[7].

O cardeal de Tegucigalpa, Honduras, Dom Oscar Andrés R. Marandiaga persiste em afirmar que "A opção pela justiça e a superação da pobreza pressupõem uma revisão das ações do Estado e da política... essas necessidades são o fundamento da justiça e a perspectiva por onde se começa a vencer a pobreza"[8].

A superação da pobreza não está meramente no fato de dar esmola. Ela passa, antes, por uma moderação das riquezas por parte de quem tem o poder, visto que essa está em detrimento da pobreza. Todavia, "O amor aos pobres é incompatível com o amor imoderado das riquezas ou o uso egoísta delas" (CEC, 2445). O nosso cardeal ressalta esta lacuna que existe entre a pobreza e a riqueza: os

"Seres humanos 'de segunda classe' nos observam: estamos satisfeitos com a nossa vida, mas com medo e inseguros diante da 'subversão da pobreza' que surge a partir daqueles que não aceitam morrer sem antes lutar pela sobrevivência numa sociedade globalizada que, antes de gerar empregos, não aceita a evidência que cada emprego sacrificado significa uma família condenada à morte"[9].

O drama da pobreza está não no pobre, porque Jesus nos ensina no "discurso evangélico" dizendo: "Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino de Deus" (cf. Mt 5, 3). Na Carta Encíclica Rerum Novarum o Papa Leão XIII diz: "Ele, Jesus, que 'embora sendo rico, se tornou pobre' (2Cor 8, 9) para a salvação dos homens... chegando até a consumir uma grande parte da sua vida em trabalho mercenário: 'Não é ele o carpinteiro, filho de Maria?'" (RN, 15). Então, onde está o drama da pobreza?

O seu drama, todavia, se esbarra na riqueza que nem sempre é bem distribuída aos infelizes "de segunda classe", como disse Marandiaga acima. "Contudo, diz o padre Bernard Lestienne, a riqueza dos ricos se constrói a partir da pobreza dos empobrecidos[10]". Assim, a Rerum Novarum nos diz que"Já nade na abundância, já careça de riquezas e de todo o resto que chamamos bens, nada importa isso para a felicidade eterna; o verdadeiramente importante é o modo como se usa deles" (RN, 15).

1. 3 A caridade e a pobreza

A caridade e, igualmente, a pobreza estão ligadas ao dever de justiça humana. Dar aos pobres o supérfluo é um dever bíblico: "Do supérfluo dai esmolas" (Lc 11,41). "É um dever, não de estrita justiça, exceto nos casos de extrema necessidade, mas de caridade cristã, um dever, por consequência, cujo cumprimento não pode conseguir pelas vias da justiça humana" (RN, 14).

Porém, "A 'caridade do homem' não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão"[11] (CV, 6). Com isso afirma o "Pontifício Conselho 'Cor Unum'": "Numa palavra e em termos realistas: a caridade não é um luxo, é uma condição de sobrevivência para um elevadíssimo número de seres humanos" (A fome no mundo, 11).

A caridade é um comprometer-se constantemente com o outro. Esse que sofre as mazelas da vida e também é uma forma de reconhecer que no outro se encontra uma parcela do meu ser enquanto humanidade. A caridade, entretanto, fará seu papel em ser uma elevadora de valores entre as pessoas, ao passo que se esforça para ver no sofrimento do próximo seu próprio "eu" refletido. Porque "a caridade constrói" (1Cor 8,1).

Deste modo, a caridade leva os homens a olhar a pobreza e tenta lhe dar uma dignidade de conselho evangélico. Pois,

"A pobreza evangélica é por vezes objeto de comentários cínicos da parte tanto de indigentes como de pessoas ricas. Acusam-se os cristãos de querer perpetuar a pobreza. Tal desprezo pela pobreza seria deveras diabólico. A característica do demônio (cf. Mt 4) consiste em opor-se à vontade de Deus fazendo referência à Sua Palavra" (A fome no mundo, 62).

A caridade, portanto, sempre será uma das características sublimes que os homens de todas as épocas deverão cultivar frente à realidade da pobreza, sem tirar de ambas suas cômodas peculiaridades, as quais estão inscritas em cada uma. Com efeito, "A liberação interior produzido pelo espírito da pobreza evangélica nos faz mais sensíveis e mais idôneos, (...) já para dar à riqueza... a justa e com frequência severo avaliação que lhe convém" (Ecclesiam Suam, 51).

Deste modo, a caridade e a pobreza devem andarem juntas, principalmente onde a pobreza se faz notar com mais força como nas periferias das grades cidade.

2. A PERIFERIA

Quando se fala em periferia logo vem nos à mente pobreza, fome, miséria, tráficos de drogas, criminalidades, prostituições, educação precária, falta de religião, pessoas vivendo como animais irracionais em casinhas sobre o morro construídas com restos de materiais e ect. Como também é possível pensar em homens e mulheres que estão continuamente precisando da caridade de outrem para amenizar a sua pobreza. Mas aqui vem uma pergunta: a caridade, portanto, não poderá ser exercitada entre os homens da periferia porque eles são, na maioria das vezes, pobres?

2. 1 A caridade na periferia

A caridade, como foi exposto anteriormente, deve ser exercida sem levar em conta a classe social a qual o indivíduo se encontra. Ela deve se fazer presente sempre que houver um ser humano necessitado. Ela, portanto, é um mandato que "alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho[12]".

Mas se tratando da caridade na periferia, é preciso, antes de tudo, levar em consideração o meio que envolve o cidadão, pois ele está inserido "Nessa multidão de pobres e miseráveis... de antigas e novas pobrezas... não se trata simplesmente de pobreza, mas de algo novo: da exclusão social[13]". "Com ela a pertença à sociedade na qual se vive fica afetada na raiz, pois já não está abaixo, na periferia ou sem poder, mas está fora. Os excluídos não são somente 'explorados', mas 'supérfluos' e 'descartáveis'"[14].

"As periferias urbanas são reservatórios de muita violência, que atinge também todos os setores da sociedade. É o conjunto da qualidade de vida e a nossa 'humanidade' mesma, como seres humanos, que são atacadas e ameaçadas de destruição progressiva[15]".

É por estes motivos que se precisa realizar uma caridade que parte do próprio meio sabendo de tudo que implica a "questão periferia", visando a superação das barreiras que impedem o homem de ser caridoso para com quem precise dele. Desta maneira, o Papa João XXIII leva o homem perceber que

"Inflame Cristo a vontade de todos os seres humanos para abaterem barreiras que dividem, para corroborarem os vínculos da caridade mútua, para compreenderem os outros, para perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias. Sob a inspiração da sua graça, tornem-se todos os povos irmãos e floresça neles e reine para sempre essa tão suspirada paz[16]".

A caridade que se pratica ao pobre é aquela que enxerga nele o Cristo. Por isso, na periferia também se deve praticar a caridade, pois lá, em cada rosto sofrido, se estampa o olhar de Jesus. Esse, que "Declara bem aventurados os pobres não por olhar a pobreza como virtude mas porque, sendo ela fruto de relações injustas entre os homens, provoca a intervenção do Rei cuja primeira função é fazer justiça ao pobre e defender o fraco em seu direito"[17].

Assim, "quando somos animados pela caridade de Cristo, nós conhecemos os laços que nos unem aos outros, e sentimos como próprias as necessidades, os sofrimentos e as alegrias alheias"[18].

2. 2 A pobreza na periferia

O padre Bernard Lestienne diz que "passando pelos campos e periferia urbanas, nós nos espantamos diante de tamanha pobreza, miséria, fome, destruição da natureza, poluição dos rios e do ar, violência, consumo de drogas, prostituição etc. O povo sofre, passa mal, perde a confiança e a esperança.[19]".

A pobreza que emerge da periferia é uma pobreza que vai além do simples fato de não ter recursos materiais, pois abarca o indivíduo no seu todo. Ela, todavia, "Pelo fato de ser produzida... na periferia... não se torna nem melhor nem pior" o homem que ali se encontra"[20].

Contudo, a ocorrência de não ter o necessário para a sobrevivência e necessitar sempre da caridade do outro, o homem da periferia fica à margem dela própria. Pois, dentro da periferia mesma existem homens influentes que portam como dominadores dos pobres. Tornando-os como mercadorias: "Porque vendem o justo por dinheiro, e o pobre por um par de sandálias,porque esmagam no pó da terra a cabeça do pobre, e transviam os pequenos" (Am 2,6-7).

A esse respeito o filósofo Eli Carlos Dal'Pupo[21] diz que "a relação de dominação do 'Eu' do centro sobre o 'Outro' da periferia pode ser transformada a partir da atitude crítica do dominado desde a não aceitação das imposições do sistema. Um povo só consegue perceber-se oprimido se souber ver-se livre[22]".

2. 2. 1 A pobreza é um problema?

O pesquisador social Albert Tèvoèdjrè diz que o conceito de pobreza adquire uma relevância particular no contexto religioso, que constitui uma realidade para a maior parte dos homens – crentes ou não crentes[23]. Deste modo, faz-se necessário falar de dois tipos de pobrezas – sem querer reduzir muito o tema –:

a)a pobreza espiritual e

b)a pobreza material

Ao olhar para a pobreza espiritual ninguém pode negar o que Jesus ensinou: "Bem aventurados os pobres em espírito" (Mt 5,3). No entanto, "A pobreza evangélica é por vezes objeto de comentários cínicos da parte tanto de indigentes como de pessoas ricas" (Fome no mundo, 62). Por outro lado, a pobreza material é, por sua vez, um drama na vida de tantas pessoas "ainda que a prática da caridade não se reduz à esmola, mas implique a atenção à dimensão social e política do problema da pobreza" (CDSI, 184).

O problema da miséria [e da pobreza], segundo Tèvoèdjrè, se resolverá graças a quadros profissionais próximos à população, conscientes de seu papel e dos sacrifícios a serem assumidos[24]. Porém, que todos os cidadãos "Impunha-se efetuar um discurso, um diálogo, uma 'aliança' – no sentido espiritual e político – entre os teólogos militando na periferia, diretamente entre eles mesmos, sem ser divididos pela presença, problemática, interesses..."[25] pessoas para tratarem a questão. Isso porque "O Brasil é um país dotado de muitos recursos naturais e quantidades humanas. Mas grande parte da população vive na pobreza ou miséria, vítima da armadilha da dívida[26]".

CONCLUSÃO

O homem por ser um ser social está sempre superando suas próprias necessidades. Ele faz isso a partir de vários focos, os quais estão estritamente relacionados ao seu agir frente às necessidades materiais mesmas dos outro. Através do agir o homem procura superar a grande desigualdade que ainda existe entre os moradores dos grandes centros urbanos com aqueles que vivem nas periferias mendigando a sua própria sobrevivência, isso ele o faz quando exerce a caridade para com aquele que "mais precisa", aliviando, assim, a pobreza do infeliz.

A caridade que se tratou neste trabalho foi aquela que se faz pelo que "mais precisa". É uma caridade que tanto quem a exerce e tanto quem a recebe entram na dinâmica caritativa.

Quem dá esmola faz sua caridade no próprio ato em dar a esmola; e quem a recebe também exerce um ato de caridade por dois fatos: o primeiro porque deixa o outro fazer sua caridade, na medida que é o recepto, e, o segundo ponto porque deixa vencer pela própria necessidade tendo que aceitar o ato misericordioso.

Contudo, a caridade sendo enxergada deste modo não privilegia classe, senão que privilegia os necessitados; os pobres que sofres as consequências dos acúmulos de riquezas da parte dos ricos. Ela, com efeito, é gratuita e torna-se uma categoria de sobrevivência para uma elevadíssima quantidade de seres humanos que vivem na mais alta miséria nas periferias do nosso país.

Assim, a caridade e o problema da pobreza na periferia estão ligadas à falta, também, de recursos que possibilitam a sobrevivência, mas que não exclui a grande responsabilidade que o homem, no geral, e o religioso, em particular, tem para com quem sofre. Isso porque quando se ajuda alguém é o próprio Cristo que, na pessoa do sofredor, está sendo ajudado como diz, convenientemente, Jesus no Evangelho de São Mateus: "todas as vezes que deixastes de fazer isso (saciar a fome, a sede, dar moradia ao peregrino, vestir o nu, cuidar do enfermo) a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer". Igualmente, diz a Beata Madre Teresa de Calcutá, no L'Osservatore Romano, que quem "servem os mais pobres entre os pobres, servem Cristo".

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[1] Cf. CEC, 2444.

[2] RAMOS, Vanessa e CONSTANTINO, Jonathan. È preciso se -posicionar frente às escolhas da vida. Missões: a missão no plural. Ano XXXVI, julho/agosto, 2009, n. 06, p. 19.

[3] JOÃO XXIII, Papa. Carta Encíclica PACEM IN TERRIS: a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade, n. 107, 11 de abril de 1963.

[4] Um homem que caíra nas mãos de ladrões.

[5] LANGLOIS, José M. Ibáñez. Doutrina social da Igreja. Pamplona, Virtual, 2 ed. 1990, p. 9.

[6] CRISÓTOMO, João. Homilias sobre São Mateus, p. 83, (BAC).

[7] RATZINGER, J. Lembranças da minha vida. Tradução de Frederico Stein. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 11.

[8] MARANDIAGA, Oscar Andrés. Direitos e deveres para um destino comum. Mundo e missão. Ano 16, n. 135, p. 23, setembro de 2009.

[9] Id. Ibid.

[10] LESTIENNE, Bernard. Transformação e reformas – À luz do Ensino Social da Igreja. Temas da Doutrina Social da Igreja. Caderno 1. São Paulo: Paulinas-Paulus. Cap. VIII. PNE-QVJ-CVV n. 14, p. 110, CNBB. 2004.

[11] BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Caritas in Veritate. São Paulo: Paulinas. 29 de junho de 2009, n. 6.

[12] Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Tradução de: Luiz Alexandre Solano Rossi. São Paulo: Paulus. 13-31 de maio de 2007, n. 380.

[13] Cf. DGAE, 25.

[14] Cf. DA, n. 65.

[15] LESTIENNE, Bernard. Transformação e reformas - Brasil: casa grande e senzala; de onde vem, aonde vai? Temas da Doutrina Social da Igreja. Caderno 1. São Paulo: Paulinas-Paulus. Cap. VIII. PNE-QVJ-CVV n. 14, p. 109, CNBB. 2004).

[16] JOÃO XXIII, Papa. Carta Encíclica PACEM IN TERRIS: a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade, 11 de abril de 1963, n. 170.

[17] (BOFF, L. A fé na periferia do mundo. Rio de Janeiro: Vozes, 1978, p. 30).

[18] JOÃO XXIII, Papa. Carta Encíclica Mater Et Magistra: evolução da questão social à luz da doutrina cristã. 15 de maio de 1961, n. 255.

[19] LESTIENNE, Bernard. Transformação e reformas – Um país rico com muitos pobres. Temas da Doutrina Social da Igreja. Caderno 1. São Paulo: Paulinas-Paulus. Cap. VIII. PNE-QVJ-CVV n. 14, p. 106, CNBB. 2004.

[20] BOFF, L. A fé na periferia do mundo. Rio de Janeiro: Vozes, 1978, p. 17.

[21] È: Graduação em Filosofia pela PUCPR, especialista em ética pela PUCPR e Mestre em Filosofia das Ciências Humanas pela PUCSP. Professor de Teoria do conhecimento, Coordenador da Tabulae – Revista de Philosophia, coordenador do portal e membro do Conselho Acadêmico da Faculdade Vicentina. Professor de Filosofia Geral nos cursos de Direito, Ciências Contábeis e administração; Metodologia Científica no curso de direito, bacharelado em sistemas de informação e administração e ética no curso de Ciências contábeis da Faculdade Metropolitana de Curitiba.

[22] Cf. http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=6881184.

[23] TÈVOÈDJRÈ, A. A pobreza, riqueza dos povos: a transformação pela solidariedade. Tradução de: Reinaldo Matias Fleuri. 2. ed. São Paulo: Cidade Nova., 1982, p. 105.

[24] Idi. 124.

[25] DUSSEL, E. Teologia da "periferia" e do "centro": encontro ou confronto? CONCILIUM - Teologia: unidade ou pluralidade, babel ou pentecostes? Rio de Janeiro: Vozes. N.191, 1984, p. 122.

[26] LESTIENNE, Bernard. A dívida paga com a vida dos pobres. Temas da Doutrina Social da Igreja. Caderno 3. São Paulo: Paulinas-Paulus. Cap. VIII. PNE-QVJ-CVV n. 34. p. 177, CNBB. 2006.