Existem vários tipos de casamento: por interesse (verdadeiros negócios), hábito, neurose, medo de ficar só, por amor. Teríamos então que organizar vários kits diferenciados para cada um deles.

Cada um dos pares leva muito mais do que objetos de uso pessoal dentro de sua bagagem. Em uma caixa quase invisível, colocada bem no fundo estão: educação, personalidade, opiniões, maior ou menor quantidade de sentimentos, esquemas de vida, sonhos e objetivos. Como não existem duas pessoas iguais, é óbvio que quando estes aspectos surgirem, necessariamente, não irão coincidir.

Vamos falar aqui apenas do casamento por amor

Durante a lua-de-mel, só aparecem os elementos mais superficiais: as vestimentas. Com o decorrer do tempo, começarão a emergir os mais significativos, que são as qualidades e defeitos de cada um.

A partir deste momento, será fundamental que os partícipes lembrem-se da existência da outra bagagem escondida, mexendo na caixa fácil de destampar. Dela deverão retirar um conteúdo fundamental, embalado em frasco grande de comprimidos com o rótulo Respeito, que será usado quando surgirem os conflitos, que necessariamente vão ocorrer, mas que poderão impedir que resultem em brigas.

Outros senões acontecerão. É comum a divergência na escolha de um filme ou restaurante. Será a hora da ingestão de pastilhas denominadas Bom Senso, para combinarem as alternâncias de escolha.

Diversas vezes o homem deixará suas roupas e sapatos atirados pelo chão, desde a sala até o quarto, passando pela casa toda, provocando uma grande irritação na mulher. Também ela poderá ficar horas a fio, procurando roupa para vestir, atrasando um compromisso com horário marcado, que fará o marido ter vontade de explodir. Será a hora de pegar o xarope rotulado Paciência engolindo-o com sofreguidão, contendo a irritação de um e a explosão do outro.

Poderá acontecer aquela noite na qual o marido se atrasa, chegando mais tarde do trabalho, sem avisar. Surge na esposa um sentimento, até então não experimentado: ciúmes. Não estará o seu homem tendo um caso com a secretária bem fornida e sedutora? Chegou a hora de usar o frasco de gotas denominado Confiança, capaz de fazê-la raciocinar, afastando o nefasto sentimento.

Outro dia, voltará para casa o companheiro, chateado por terem faltado dois botões na camisa social. Pensa logo em culpar a consorte pelo desleixo, permitindo que tal fato ocorresse. Salta da caixa um medicamento com o nome Tolerância, que o fará pensar: "como exigir o cem por cento dela, se nem tenho certeza de cumprir os meus cinqüenta".

Vários problemas irão com certeza surgir num relacionamento a dois durante a vida de casado, mas inúmeros artifícios poderão ser usados para suavizá-los. Entretanto, convicção absoluta sobre o destino de um casamento, ninguém terá.

Existe ainda um sentimento chamado Amor, que pode ser a primeira ou a última alternativa para que a união se perpetue, apesar de seus altos e baixos. Esta confirmação poderá ser respondida baseada na pergunta de Nietzsche: "tem certeza que esta é a pessoa que queres para conversar, pelo resto da vida?"

No entanto como nada é infinito, se todas as tentativas forem em vão, duas hipóteses podem ser formuladas: houve um matrimonio com erro essencial de pessoa, o que é um grande azarão, ou a chama apagou, e chegou a hora de recuperar a caixa e partir para outra.

Themis