A Cabala e a Era Messiânica 

Antes de nos aprofundarmos na metodologia e ensinamento da Cabala, vejamos com mais detalhes as sugestões que tem sido formuladas sobre a propriedade de seu ensinamento, nos tempos atuais. No caso, torna-se fundamental compreender a conexão existente entre o estudo da Cabala e a aproximação da Era Messiânica.

Conforme já tivemos oportunidade de observar, é crescente o interesse pelas doutrinas ocultas e pelo Zohar, o mesmo ocorrendo com o despertar da espiritualidade no interior do Judaísmo e das outras religiões. Uma interrogação inevitável surge então, sobre o porque do Zohar ter sido efetivamente ocultado às gerações precedentes, pois as mesmas tinham indubitavelmente um nível espiritual e de consciência mais elevado que o nosso próprio, estando então mais bem equipados para compreeeender a sabedoria profunda da Cabala.

Uma indicação para a solução deste problema é fornecida pelo Zohar, em uma passagem sobre a vinda do Messias:

O rabino Shimon levantou suas mãos e em lágrimas, disse: “Ai daquele que chegar a viver aquele período, louvada será a parte dele que encontrará e que terá a capacidade divina de ser selecionada neste tempo”. O rabino Shimon então explica esta parábola paradoxal, conforme segue: Ai daquele que se chegar aquele período, porque quando o Todo Poderoso relembrar a Shechina (a Presença Divina), se Ele dirigir seu olhar para os que se encontrarem fiéis à Ela, e dentre todos os que se encontram em seu meio, passando então a apurar as ações e atos de cada um, Ele não encontrará um dentre todos que seja virtuoso, conforme as escrituras advertem, e então dirá: “Eu olhei, e não havia um a ajudar”. Tormento agonizante e problemas aguardam por Israel. Louvados, no entanto, são todos aqueles que mereecerem a Luz brilhante do Senhor. Em referência aquele tempo, tem sido proclamado: “Eu os refinarei do mesmo modo que a prata é refinada, e devo purificá-los como sefaz com o ouro”.

O rabino Shimon confirmou que a Era Messiânica chegará com uma Luz e uma riqueza simbolizando a infusão da pureza divina, em todos os mundos. O amanhecer de um novo mundo surgirá, e com seu advento a Luz começará a liberar os homens de sua ignorância, oportunizando assim, um acordar espiritual e intelectual. O rico resíduo da latente inspiração moral e intelectual de nossa herança Judáica criará a necessidade de reorganização e reconstrução, e dirigirá nossas energias a canais que, em última instância, contribuirão para o enriquecimento da experiência judaica e de nossas relações para com o nosso próximo.

O Zohar também declara que, nos dias do Messias, “Não haverá mais necessidade do homem pedir ao seu próximo que lhe ensine a sabedoria, conforme está escrito: “Um dia não mais ensinará cada homem a seu próximo, nem cada homem a seu irmão, dizendo-lhes “Conheça o Senhor, pois todos eles já deverão estar Me conhecendo, desde o mais jovem até o mais idoso dentre eles”.

Nete ponto o Zohar expressa a idéia de que a Era Messiânica será introduzida em um período de iluminação sem precedentes: O Messianismo, que representa a essência da esperança e do otimismo, desenvolve-se a partir da crença indelével de que haverá um triunfo eventual da harmonia sobre a confusão no mundo, do amor sobre o ódio, e em última instância, uma vitória da justiça e bondade sobre a opressão e a cobiça. Esta vitória, declara o Zohar, está intimamente ligada à Chochmá (sabedoria), e depende da disseminação do verdadeiro conhecimento, a sabedoria da Cabala.

Embora sejam colocados todos juntos, estes fatos ainda não explicitam as razões profundas dos distúrbios e perplexidades Messiânicas, envolvendo a Luz do Messias, e a redenção final. Eles também não explicaram ou responderam a questão que está intimamente relacionada, e que indaga sobre o porque da Cabala não ter sido revelada em toda a sua magnitude, para as gerações mais antigas. Por que agora, então? Seria a nossa confusa geração mais apta a receber a abundância de Luz, para saborear a Beneficioência inefável que espera as almas em nossa era atual, o período Messiânico?

Tais paradoxos, em relação ao mérito das primeiras e posteriores gerações, foram tratados pelos nossos sábios abençoados, no Talmud:

Rav Pappa disse a Abbaye: “Como é que os milagres foram realizados para as primeiras gerações, e nenhuma maravilha foi produzida para nós? Por certo que não pode ser devido à sua superioridade em termos de estudo, pois nos tempos de Rabí Yehuda (um sábio de uma geração precedente) a totalidade de seus estudos encontrava-se reduzida à ordem dos Nezikins (o quarto dentre os seis livros da Mishná), quando nós estudamos todos os seis: de fato, quando o Rabí Yehuda chegou ao Tratado do Uktzin, ele diria: “Aqui eu vejo todas as dificuldades levantadas por Rabí e Samuel” nós, por outro lado, possuímos treze versões deste mesmo tratado. E, novamente, quando Rabí Yehuda retirou um de seus calçados (mesmo antes dele jejuar e orar pela chuva), a chuva começou a cair imediatamente, e embora nos atormentemos e gritemos, nenhum reconhecimento nos é dirigido. Ante tal situação, o Abbaye respondeu: “As gerações anteriores estavam preparadas para sacrificar suas vidas em nome da santificação do nome do Senhor”.

Para Rav Pappa e Abbaye era óbvio que as gerações precedentes eram infinitamente superiores a eles, considerando o ponto de vista da alma interna imortal; no entanto, quando se refere às revelações da Torá, as quais são identificadas como o conhecimento e a sabedoria, Rav Pappa e Abbaye foram os maiores beneficiários deste vasto reservatório da literatura divina, em comparação com as gerações que lhes precederam.

As discussões presentes no Talmud antecipam em muito aquelas colocadas pela atual geração. Esta tem estado preocupada com a natureza da espiritualidade, e com os seus desenvolvimentos ao longo do tempo. Em seus debates os sábios demonstram que eles estão completamente cientes da existência de um paradoxo, no centro da questão. As antigas gerações, por terem uma natureza mais espiritual, necessitavam menos ao que se refere a conhecimentos contidos em livros, e mesmo assim elas alcançaram muito mais no âmbito da produção de maravilhas e milagres. Então nós encontramos uma situação em que um maior conhecimento, e um estudo mais intenso, parecem ser menos recompensados. A solução para tal paradoxo reside no nível espiritual alcançado em gerações distintas. As gerações mais antigas estão, simplesmente, mais próximas das fontes da espiritualidade do que aquelas mais recentes; e como elas exigem muito menos do mundo físico, tanto espiritual como físicamente, elas se encontram em um plano mais alto da existência. Sendo então menos dependente das vasilhas mundanas do mundo físico, elas podem manter sua posição elevada, e de fato, exercer controle sobre o direcionamento do mundo, utilizando-se para tal de sua espiritualidade. A expressão deste controle fazia-se através dos milagres, significando o exercício de seu poder sobre a ordem natural do universo.

As gerações mais recentes tem que depender muito mais do conhecimento transmitido via fontes secundárias, como os textos, por exemplo. Ao mesmo tempo, ante a sua maior dependência em relação ao mundo, o Desejo de Receber, torna-as mais capazes de receber a Luz a qual é da mais alta natureza. As vasilhas existentes para receber a Luz a qual é da mais alta natureza. As vasilhas existentes para receber a Luz, são feitas com um material grosseiro, enquanto que uma vez expandida, a Luz torna-se presente de uma forma muito mais explícita, em comparação ao que ocorria nas gerações precedentes. Ao invés de um livro, seis livros. Em lugar de apenas a Mishná, também o Talmud. E, ao invés de apenas o Talmud, também o Zohar.