A BUSCA DE UMA ÉTICA CRISTÃ

Nunca foi tão necessário falar de ética como nos dias atuais, isso porque os valores morais estão sendo sufocados por uma ideia de “politicamente correto”, pela corrupção política, por pensamentos que relativiza o caráter, por uma filosofia pragmática que não se importa com a verdade. Viver de forma ética hoje é um grande desafio que implica o simples ato de não cortar fila em um banco até os pagamentos de impostos pelos empresários que são fortemente tentados a sonega-los para obter um maior lucro. Mas quando surge as reflexões éticas as quais se discute hoje? E para o cristão, o que seria viver de forma ética? Será que está relacionado a obedecer a Deus? O que a Bíblia ensina sobre o caráter ético do cristão?

A ética começou a desenvolver-se na antiga Grécia no século V a.C., quando os pensadores começaram a questionar os pensamentos míticos. Até então, o comportamento humano era sempre regido por crenças religiosas em deuses que punia ou abençoava as atitudes. Todo o comportamento moral do homem e toda a vida em sociedade, para o pensamento daquela época, era influência de algum deus. Por exemplo, havia um deus chamado Baco (Dioniso), conhecido como o deus do vinho. Segundo a mitologia ele era responsável pelas influências sociais, como diz muito bem o Thomas Bulfinch (2015, p.19), “Não representava apenas o poder embriagador do vinho, mas também suas influências benéficas e sociais, de maneira que era tido como promotor da civilização, legislador e amante da paz”.

Depois do desligamento do pensamento mítico, veio os sofistas rejeitando a religião como fundamento norteador do comportamento e apoia sua teoria nas convenções sociais. Sócrates rejeita essa ideia sofista buscando a resposta na própria natureza humana. Até que os tempos modernos faz a separação da ligação de religião e moral. Afirma-se que, os valores morais estão no próprio homem e não em Deus.

Mas o que vem ser ética? E o que vem a ser moral? São elas a mesma coisa ou a distinção? Precisa-se fazer essa distinção. O filósofo Mario Sergio Cortella define e distingue muito bem.

A ética é um conjunto dos seus princípios e valores. Portanto, é muito mais do campo teórico. A moral é a prática, é o exercício das suas condutas. Eu tenho uma conduta no dia a dia, chama-se conduta moral. A ética são os princípios que orientam a minha conduta. Do ponto de vista teórico, ética e moral não são a mesma coisa. Estão conexas. Eu posso dizer que algo é imoral, mas não posso dizer que é aético. É imoral quando colide com determinados princípios que uma sociedade tem. (Cortella, 2015, p.110).

No campo de estudo da ética, os eticistas dividem em três dimensões principais, são elas: empírica, normativa e analítica. É de suma importância entender o significado destas três dimensões, pois, elas ajudam no processo cognitivo do pensamento ético-cristão.

Segundo o Stanley Grenz (2006, p.28), a ética empírica “envolve a observação do processo moral da tomada de decisões com o objetivo de descrever e explicar os fenômenos”. Para o cristão, a ética empírica os levam a entender como as pessoas tomam suas decisões. Já a ética normativa, para o Grenz (2006, p.28), “está vinculada à formulação de padrões ou princípios de vida”. A ética normativa se torna muito importante para o cristão por que ele baseia seu comportamento nos princípios e normas estabelecidas por Deus. E por fim, a ética analítica que segundo o Grenz (2006, p.30), ela “tenta desenvolver uma teoria acerca do significado dos juízos de valor e de sua possível justificação”. Ela vai focar na investigação de como uma pessoa se baseia para justificar o comportamento moral.

Os estudiosos da ética ainda falam de ética teleológica e ética deontológica. A primeira diz respeito as consequências de uma determinada ação. O Grenz (2006, p.32), falando sobre a ética teleológica, diz ele que, “nosso dever é praticar a ação que acarreta maior soma de bem e menor soma de mal, ou, seja, que resulta em saldo favorável ao bem”. Ou seja, o objetivo, o propósito da ação praticada tem que acarretar mais bem do que mal. Pensando nesta abordagem teleológica, e no caso da eutanásia, pode-se pensar que, se alguém escolhe desligar os aparelhos que sustenta uma vida em fase terminal, esta ação pode causar um maior número de benefício se for pensado que a vaga deste leito poderia ser cedida a uma pessoa que possui chances de vida. Porém, tirar uma vida em benefício de outra seria correto? Para tentar responder essa questão, é importante que se entenda a abordagem deontológica. Esta fala daquilo que é devido, para o Grenz (2006, p.32), a ética deontológica “preocupa-se apenas o que é intrinsecamente certo ou errado na ação. Deste modo, se tirar a vida é errado, certamente é errado até mesmo que possa beneficiar a outros. Assim, necessário seria esperar que a pessoa falecesse.

Diante de uma sociedade tomada pela relativização da moral e das normas estabelecidas para a sociedade, como saber o que seria viver de forma ética? Para alguns a resposta é respeitar, é viver na laicidade que exclui aqueles que querem “doutrinar” as pessoas com sua moralidade religiosa. Com fatos como esse é que se torna de muitíssima importância a elaboração de uma ética cristã.

 Por ética cristã, o teólogo Emil Brunner diz: “a ética cristã é a ciência da conduta humana que se determina pela conduta divina”. Ou seja, o que vai determinar as ações dos cristãos são o que Deus estabeleceu em sua palavra, ou o que pode-se chamar de deontologismo normativo, como diz o Grenz (2006, p.33), “[...] a vida ética consiste na obediência a essas normas, ao passo que tudo o que as viola é considerado conduta não ética”. Dentro da perspectiva cristã, o deontologismo normativo esta intrinsecamente ligado as ordenanças dada por Deus por meio de sua palavra e tudo contrário é pecado, pois é nela que o cristão acha seu modo de se comportar e viver.

Examinando-se a Bíblia no Antigo Testamento, nota-se que o ápice das normas dadas por Deus para que seu povo obedecesse e vivesse se encontra no decálogo. Pois nos dez mandamentos encontrasse como deveria ser o relacionamento do povo para com Deus e do povo para os seus semelhantes, sendo assim o reformador João Calvino estava certo quando diz que a lei tinha seus aspectos judiciais, civis e santificador. Deixando claro o caráter moral de Deus através de seus atributos como a santidade, a justiça.

Já no Novo Testamento nota-se que o apogeu da ética cristã se encontra principalmente no amor e no sermão da montanha proferido por Jesus nos capítulos cinco, seis e sete do evangelho de Mateus. A ética cristã fica mais solidificada com esse sermão. Os discípulos de Cristo agora fazem parte de um reino que é caracterizado por aspectos morais como a santidade, justiça, integridade, humildade, entre outras características que revela não apenas uma moralidade externa, mais uma moralidade interna que com certeza fará com que as pessoas tenham paz dentro de si refletindo para seu convívio em sociedade e o viver para Deus.

 A ética cristã é essencial para a sociedade. O Alderi Souza resume bem isso.

A ética é importante para a vida diária do cristão. A cada momento precisamos tomar decisões que afetam a outros e a nós mesmos. A ética cristã ajuda as pessoas a encarar seus valores e deveres de uma perspectiva correta, a perspectiva de Deus. Ela mostra ao ser humano o quanto está distante dos alvos de Deus para a sua vida, mas o ajuda a progredir em direção esse ideal. (MATOS, Alderi de Souza. As bases bíblicas da ética cristã. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/7153.html>. Acesso em: 31 março 2016).

Sendo assim, conclui-se que, a ética cristã precisa ser praticada com mais veemência pelos cristãos para que a sociedade seja mais justa e tenha mais amor uns para com os outros.

REFERÊNCIAS

BULFINCH, Tomas. Mitologia. Histórias de Deuses e Heróis. Rio de Janeiro: Agir, 2015.

CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? : inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis, Rj. Vozes, 2015.

GRENZ, Stanley. A busca da moral: fundamentos da ética cristã. São Paulo. Vida, 2006.

MATOS, Alderi de Souza. As bases bíblicas da ética cristã. Disponivel em: <http://www.mackenzie.br/7153.html>. Acesso em: 31 março 2016.