A brevidade da vida.

Como posso ser orgulhoso.

 Sou  apenas insumo da natureza.

A minha única razão de ser.

É exatamente não ser.

É o que realmente sou.

Do ponto de vista da matéria.

Minha finalidade é a deterioração.  

Como tudo que existe tem essa natureza.

Na naturea,

A natureza no seu fundamento.

 Complexo.

Tudo que contém nela.

Serve tão somente ao seu intento.

Fazer com que ela seja sempre  ela.

O  que produz serve para alimentar a si própria.  

A natureza é  para si mesma.

Nada sobre ela tem alguma preferência.

Tudo se esgota e transforma ao seu tempo.

A natureza de cada ser é o pó químico.

 É inútil forçar o entendimento para a mentira.  

Quanto a mim.

Um pobre ser mortal.

Resultado da evolução de milhões de elos.

Em algum momento.

No  encontro dessa evolução.

Fui semelhante todas as derivações.

As que deixaram de ser.

E as que ainda são.

E certamente por algum tempo.

 Continuarão  a ser.

A origem de tudo remonta.

A  uma única origem.

 A uma célula mater.

Dela em um longo processo.

 Surgiram  todas as formas de vida.

 Apesar das diferenças nesse longo processo evolutivo.

Tudo teve origem em um único fundamento.

Do ponto de vista da natureza.

 Nada é diferente.

Sou tão insumo.

Como é uma barata.

Meu corpo em deterioração.

É inferior ao corpo de uma barata.

Porque ficarei anos preservados.

Refiro ao sistema ósseo.

O que me faz superior a ela.

É apenas o espírito.

Refiro à razão.

Mas se uma barata falasse.

E o homem vivesse tão somente o instinto.

A barata transformaria uma delas em deus.

Inventaria o céu.

E ensinaria as demais baratas.

Que a vida não se esgotaria como insumo.

Dessa magnífica natureza.

Se o porco também tivesse domínio da linguagem.

Teria o mesmo procedimento.

O cavalo.

O elefante.

Possivelmente o chimpanzé.

 Cultuaria na floresta um dos seus antepassados.

Como a mais absoluta santidade.

A linguagem precisa de uma ideologia.

 Para responder ao seu grande medo.

A única tragédia.

A brevidade da existência.

E a consciência de não ser exatamente nada.

Edjar Dias de Vasconcelos.