Num cenário de forte retração do consumo global e em meio a uma das mais duras e longas negociações, a mineradora aceitou cortar em 28,8% o preço do minério fino, o principal produto exportado pelo grupo, e em 44,47% o do granulado. A queda foi menor que a firmada pela Rio Tinto no final de maio, que ficou entre 33% e 44%. O percentual, fechado em acordos firmados com siderúrgicas do Japão e da Coreia, está abaixo do que pleiteia a China, principal cliente da companhia.

As usinas chinesas pressionam por uma redução de 40% no preço do minério de ferro. Mas, depois de a Vale e de a concorrente Rio Tinto fecharem contratos com preços em torno de 30% mais baixos, elas devem ser forçadas a aceitar um percentual menor, segundo analistas do setor.
 
Os ajustes vieram dentro do esperado e não afetaram os papéis da mineradora brasileira, que subiram 1,12% ontem, sobretudo porque o principal mercado da Vale, a China, continua sem uma solução.

O corte menor no preço em relação à Rio Tinto, que havia aceito redução de 33% para o minério fino, também não surpreendeu os especialistas.

O acordo da Vale foi acertado com a japonesa Nippon Steel, a sul-coreana Posco, e também com as siderúrgicas do Japão Sumitomo Metal Industries, Kobe Steel e Nisshin Steel. Com isso, os novos preços de referência para 2009, em tonelada métrica seca, são de US$0,8543 por unidade de ferro para o minério de ferro fino do Sistema Sudeste; US$0,8987 para o fino de Carajás (SFCJ); US$0,9942 para o granulado do Sistema Sudeste; e US$1,0094 para o granulado do Sistema Sul, segundo informou a Vale. O preço da pelota, também em tonelada métrica seca, passou a US$1,1043.

Líder mundial em minério de ferro, a Vale usualmente é a primeira a fechar uma negociação de preço com um grande cliente, que servirá de referência para todo o mercado -conhecido como benchmark, esse é o sistema de reajuste do minério de ferro, que não é cotado em bolsas de mercadorias.

Em 2008, a Vale saiu na frente e obteve reajuste de 65% a 71% em fevereiro, dependendo do minério. As rivais Rio Tinto e BHP (anglo-australiana) esperam mais tempo - até junho – e conseguiram aumento de até 96%, num momento de mercado mais aquecido.

Neste ano, a Vale adotou como estratégia só negociar após a conclusão das tratativas das concorrentes e conseguiu uma redução menor – a Rio Tinto diminuiu seu preço em 33%.

O acordo com a Nippon Steel e a Posco, porém, não acaba com as incertezas que rondam as negociações deste ano. A grande dúvida gira em torno das siderúrgicas chinesas, que continuam pressionando por uma queda maior nesse momento de retração da economia internacional. Fontes ligadas à Vale contam que a empresa já considera a possibilidade de a China migrar de vez do tradicional sistema benchmark (preço de referência), que se ancora em contratos de longo prazo, para o mercado à vista (spot).

Após despencar desde outubro do ano passado, as exportações para a China reagiram em março e abril numa estratégia de formar estoques e atender ao plano de estímulo da economia. Em maio, já com o objetivo de forçar uma queda mais intensa, as siderúrgicas do país cortaram as importações.

No pico do ano passado, a Vale exportou, em agosto, perto de 30 milhões de toneladas. Com a crise, o volume baixou para a faixa dos 17 milhões de toneladas, mas voltou para 15 milhões de toneladas. Neste mês, analistas esperam que as exportações também fiquem travadas à espera da conclusão das negociações.

A posição da China
Diante da forte queda de até 50% da produção de aço na Europa e nos EUA, as vendas para a China representaram 43,6% da receita total da Vale no primeiro trimestre. Esse percentual era de 18,9% nos três primeiros meses de 2008.

A China é hoje é o maior consumidor de minério de ferro do mundo, o que dá às siderúrgicas locais, capitaneadas pela Baosteel, um maior poder de barganha nas negociações. No primeiro trimestre, o país comprou 66% de todo o minério de ferro vendido pela companhia brasileira. O crescimento da demanda chinesa conseguiu minimizar o impacto da forte retração no consumo de minério registrada pela Europa, Estados Unidos e Japão, locais mais intensamente atingidos pelos efeitos da crise financeira.

No final do mês passado, o próprio diretor executivo de Ferrosos da Vale, José Carlos Martins, admitiu a possibilidade de mineradoras e siderúrgicas atravessarem o ano sem a fixação de novo nível de preço para os contratos de longo prazo. A pressão das chinesas por um corte mais acentuado na cotação do minério este ano levou a companhia a flexibilizar suas estratégias de venda. Uma das alternativas foi conceder descontos de 20% nos preços para a China e também voltar a operar no mercado spot.

A mudança de cenário também levou a Vale a fechar acordos para o fornecimento de minério de ferro a 38 pequenas siderúrgicas chinesas, representando um total de 50 milhões de toneladas para este ano, segundo o jornal Beijing News. Citando uma fonte do setor, o jornal disse que a Vale exportou 85 milhões de toneladas de minério de ferro para a China no ano passado, o que faz desses acordos com as siderúrgicas pequenas uma parte significativa de sua carga vinculada à China. Antes, muitas delas não constavam do portfólio da empresa brasileira. A demanda era maior que a disponibilidade de produtos e Vale optava por atender prioritariamente os grandes clientes.

As negociações prosseguem
A Vale informou em 12 de junho que está em negociações com siderúrgicas chinesas sobre o preço do minério de ferro. A companhia afirmara anteriormente que só retornaria às negociações anuais sobre o preço do minério com a China após as concorrentes BHP e Rio Tinto fecharem os valores com as siderúrgicas, o que ainda não ocorreu com as empresas chinesas.

O anúncio sobre a China se segue ao fechamento do acordo entre a Vale e siderúrgicas do Japão e da Coreia do Sul, realizado somente após a rival australiana Rio Tinto ter fechado contratos com empresas japonesas e coreanas.

A Vale adotou uma postura mais cautelosa este ano nas negociações de minério, porque em 2008 BHP e Rio Tinto romperam uma tradição de seguir a companhia brasileira, obtendo um contrato mais vantajoso para o minério, o que a brasileira tenta compensar nas negociações deste ano.

Embora tenha voltado às negociações com as siderúrgicas chinesas, resta saber se a Vale vai seguir a mesma prudência das negociações com japonesas e coreanas, considerando que BHP e Rio Tinto ainda não fecharam acordo com as empresas da China.
 
Há indícios de que a Vale sairá vitoriosa na queda de braço com a China. Ontem, o país informou que a produção de aço bruto subiu 7% em maio, na comparação com o mês anterior, para 46,46 milhões de toneladas. O volume é ligeiramente menor que o recorde mensal de produção de 46,9 milhões, alcançado em junho de 2008.

O  crescimento da produção siderúrgica põe a China em uma posição desfavorável para negociar preços com as mineradoras, uma vez que sua demanda por minério se mostra crescente. A China quer corte de entre 40% e 45% nos preços. Ela se recusa a aceitar a redução de 33% acertada entre a anglo-australiana Rio Tinto e suas clientes sul-coreanas. A Vale conseguiu negociar um corte menor, de 28,8% para o minério de ferro fino e 44,47% para o granulado.

Mudança
O sistema de benchmark vem sendo colocado à prova desde o ano passado, quando as concorrentes australianas não seguiram o acordo fechado pela Vale e negociaram um reajuste maior para seus produtos, sob a alegação de oferecer um custo menor de frete. O fato de hoje os principais mercados consumidores do insumo viverem uma realidade econômica completamente diferente dificulta ainda mais as negociações deste ano.

Os novos preços, que começam a valer retroativamente a partir de abril, serão aplicados sobre um desconto de 20% que já estava sendo concedido pela mineradora. A política de descontos foi adotada porque o mercado estava fraco e muitas empresas estavam migrando para o mercado spot em busca de preços mais baixos.

Bibliografia
Jornal O Globo de 11 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 11 de junho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 11 de junho de 2009 Jornal do Brasil de 13 de junho de 2009
Jornal O Globo de 13 de junho de 2009