Não faz muito tempo, a rotina de uma sala de aula da educação básica, principalmente no ensino fundamental, era bastante previsível; todo o processo começava com o professor falando, os alunos escutando, sem espaços para questionamentos ou reflexões, tudo vinha pronto, tudo tinha que ser decorado. Até mesmo a tarefa para casa parecia ser padronizada para todas as séries e disciplinas, era necessário resolver questionários intermináveis, pois tudo aquilo seria cobrado na prova, exatamente igual. A avaliação, aliás, mais parecia um instrumento de punição ou de intimidação, era uma ferramenta usada para classificar ou “eliminar”. E o pior é que tudo isso parecia não fazer sentido com o mundo lá fora, com a realidade, com as vontades e com as necessidades dos alunos, fato que contribuía até mesmo para a evasão escolar.

Muitos são os fatores que contribuíram para que o sistema de ensino no Brasil chegasse a esse ponto. Historicamente a educação escolar nunca foi prioridade em nosso país. Não houve em períodos passados comprometimento por parte dos governantes, e até mesmo de outros setores da sociedade, no sentido de investir e incentivar a oferta do ensino com qualidade e acesso democrático. Até mesmo a formação de professores era moldada na rigidez do tecnicismo e do positivismo; as graduações, incluindo as licenciaturas, eram estruturadas em um projeto pedagógico burocrático, voltado para atender às demandas do mercado. Não se formavam cidadãos ou profissionais críticos, formava-se o “operário padrão”, a serviço do progresso e do capital.

O professor, que quisesse fugir do “rigor mecânico” de sua formação, tinha que inovar por conta própria, mesmo sem saber exatamente como fazer; mas quase sempre se deparava com uma espécie de “cartilha” imposta pelo projeto pedagógico da escola e pelo sistema; qualquer tentativa que não seguisse os padrões era recebida com muitas resistências e desconfianças. Tudo isso ficava claro na rigidez do processo avaliativo e na concepção de avaliação por parte de muitos colegas de trabalho que ainda carregavam a herança de uma experiência de ensino moldada no autoritarismo vivido pelo país em um passado recente. Autores como Fisher (2002. p. 19) denuncia a herança e a forte influência do regime político militar na educação brasileira durante as décadas de 70 e 80, quando diz: “... a avaliação caracteriza-se pelo aparato instrumental que tentou aprimorar ao máximo as possibilidades de ser científico ao se avaliar. Ou seja, garantir a fidedignidade dos testes, evitando a subjetividade, insistindo que somente a neutralidade do avaliador permitiria conclusões objetivas e imparciais”. [...]