FACULDADE LUCIANO FEIJÃO
 PSICOLOGIA 2021.1


EUGÊNIO SABOYA DIAS LOPES[1]

JULYANA LIMA[2]

 

A ATUAÇÃO DA PSICANÁLISE DENTRO DO HOSPITAL: UMA REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA.

 

RESUMO

Este artigo investiga dentro de uma revisão narrativa de literatura, a atuação da clínica psicanalítica dentro de uma instituição hospitalar, a medicina contemporânea reconhece que a forma como os pacientes se relaciona com suas doenças e a internação, afetam diretamente em seu processo de hospitalização. A psicanálise entra como um novo saber para ir muito além dos sintomas do corpo, reconhecendo e reafirmando o desejo e a subjetividade do sujeito internado, sujeito a muitas dificuldades e possibilidades.  

 

Palavras-chave: psicanálise, psicologia hospitalar, hospital

 

ABSTRACT

This[JL1]  paper investigates, within a narrative literature review, the role of the psychoanalytic clinic within a hospital institution, contemporary medicine recognizes that the way in which patients relate to their illnesses and hospitalization directly affect their hospitalization process. Psychoanalysis enters as a new knowledge to go far beyond the body's symptoms, recognizing and reaffirming the desire and subjectivity of the hospitalized subject, subject to many difficulties and possibilities.

 

Keywords: psychoanalysis, hospital psychology, hospital

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

O interesse em investigar a atuação da psicanálise dentro do hospital, se dá a partir do momento em que tive a oportunidade de estagiar em um hospital filantrópico, e atuar com psicologia hospitalar, na escuta do sofrimento humano, orientado pela psicanálise. Historicamente, a psicanálise galga o seu espaço através num trabalho clínico, portanto, como atuar em uma instituição que se difere tanto do espaço clínico comum?

Foucault (2019) nos descreve o nascimento do hospital, como um lugar puramente arquitetônico, que recebia principalmente insanos, pobres e enfermos que estavam morrendo, era um lugar de transição e de exclusão social. Prestavam uma assistência material e espiritual, o pessoal que atuava, era essencialmente leigos e religiosos, que buscavam uma salvação espiritual do indivíduo. A reorganização do hospital como um lugar de cura, se dá a partir do século 18, a implementação da disciplina e de uma hierarquia, herança dos hospitais militares que tratavam soldados feridos, foi possível a introdução da medicalização e transforma o médico na figura do mais alto escalão, e por consequência o seu saber biomédico, o mais aceito e desejável dentro da instituição.

Mais em um mundo pós-moderno, já não se pensa a saúde como simplesmente a ausência de doenças e o bem-estar físico, o saber biomédico já não é suficiente, penso que em um hospital com tanto sofrimento não só as ciências médicas e a religião possam trazer algum alívio, como também a psicanálise, que reconhece o sofrimento humano em uma perspectiva completamente diferente de outros saberes. Mas diante de uma nova concepção de saúde, qual seria o lugar do psicanalista nesta hierarquia hospitalar? A quem realmente interessa a atuação deste profissional dentro do hospital? E quais as possibilidades da psicanálise?

Segundo Simonetti, (2015) a psicologia entra no hospital em 1950, Mathilde Neder uma psicóloga de formação, na área de educação. Se utilizando de uma abordagem psicológica que nada tem a ver com a psicanálise, passa a atender crianças e seus familiares que necessitavam passar por cirurgias no Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo.

Depois da regulamentação da psicologia como profissão sobre a lei 4119 do ano de 1962, a psicologia hospitalar tem mais um avanço com a possibilidade de contratações destes profissionais pelos hospitais públicos. Foi em 1974 que a psicóloga Belkis Romano organiza um atendimento no Instituo do Coração e abre discussão para um fazer dentro do hospital.

A parti dos anos 90 é publicado o livro com o sugestivo nome de E a psicologia entra no hospital (1996) de Valdemar Augusto Angerami-Camon, fruto de sua pesquisa de mestrado e doutorado, outras publicações do mesmo autor como Psicologia Hospitalar - Teoria e Prática (2003) e o Manual de Psicologia Hospitalar (2003) de Alfredo Simonetti. Ainda em meados dos anos 90 a psicanalista Sonia Alberti escreve o texto A demanda do sujeito no hospital e uma série de artigos descrevendo sua experiencia dentro do hospital, mais tarde, Livia Moretto lança seu livro que se torna imprescindível para entender a psicanálise no hospital, O que pode um psicanalista no hospital? (2001)

O fato é, que dentro de todas as práticas da psicologia, a hospitalar se torna muito desafiadora, o contato direto com a realidade da maioria população em busca do mínimo da dignidade humana, a saúde, o analista será posto à prova de suas ideologias, crenças e aceitações, a prática exigirá muito além do conhecimento técnico acadêmico, sendo a união de forças com os outros saberes uma ferramenta necessária, a intervenção psicológica se demonstra cada vez mais necessária hoje em dia, a medicina nem sempre têm explicações absolutas, assim não se pode negar os fatores emocionais e somáticos dentro de diagnósticos. (ANGERAMI, TRUCHARTE e KNIJNIK, 2010) 

Objetivo

A intenção deste trabalho é, compreender a atuação da clínica psicanalítica dentro da instituição hospitalar, suas possibilidades e limitações, como agir dentro de uma equipe onde a visão biomédica prevalece, reduzido o sujeito aos sintomas, a um número de leito qualquer, o processo de hospitalização passa a ser muito invasivo, o paciente passa a não ter escolha e fica refém das normas do hospital, as situações de perda, dor e falta de esperança acabam por tornar tal processo bastante árduo. [JL2] 

O estudo se torna relevante para entender a atuação da psicanálise dentro do ambiente hospitalar, tendo como base artigos atuais, o estudo faz um apanhado atual de artigos escritos por autores que atuam dentro do hospital. A principal contribuição deste trabalho é mostrar as possibilidades e as dificuldades enfrentadas na clínica psicanalítica fora das quatro paredes.

Metodologia

O estudo foi feito na forma de uma revisão narrativa de literatura, a temática proposta aqui é abrangente e não se limita a especificidade de uma questão em si, não se esgotando o assunto a fontes limitadas e nem definindo um meio rígido de análise de dados[JL3] . A proposta do trabalho vai além da quantificação de trabalhos acadêmicos, tendo em vista, entender as especificidades da atuação através dos textos aqui pesquisados.

Para uma base de pesquisa foram utilizados artigos do portal regional da BVS, artigos dos últimos 10 anos, utilizando os seguintes tendo como critérios de inclusão artigos com os descritores "psicanálise” and “hospitalar” no qual chegamos ao total de 322 artigos, utilizando os critérios de inclusão “texto completo” o idioma “português” e o período dos 10 últimos anos, chegando a 48 artigos. Os critérios de exclusão se deram de forma a excluir aqueles que não estivesse relacionado com a atuação direta da psicanálise dentro do hospital chegando a 6 artigos.

Autor(es)

Título

Resumo

Ano

Maia, Maria Vitória Campos Mamede

Pinheiro, Nadja Nara Barbosa

Um Psicanalista Fazendo Outra Coisa: Reflexões Sobre Setting na Psicanálise Extramuros

O texto propõe uma reflexão sobre a questão do setting no desenvolvimento de atendimentos psicanalíticos na clínica dita extramuros. Apresenta dois exemplos clínicos conduzidos pelas autoras em contextos não convencionais, a clínica-escola de uma universidade e o ambulatório de psicologia de um hospital geral, para sustentar suas hipóteses sobre o entendimento de setting a partir de uma vertente ética, e não técnica, isto é, para as autoras, setting se refere ao campo teórico que sustenta a condução da clínica, e não ao lugar em que o trabalho transcorre. Em seguida, os ensinamentos de Freud e de Winnicott sobre a questão são tomados como fundamento teórico. Nesse sentido, Freud sustenta uma flexibilidade técnica em contraposição ao rigor teórico. Por sua vez, Winnicott afirma que há uma adaptação ativa do analista às necessidades de seu paciente na condução da clínica. Esses ensinamentos são base para um questionamento radical sobre a própria expressão extramuros, ou seja, em se tratando de psicanálise, há muros?

2011

Coppus, Alinne Nogueira Silva

Netto, Marcus Vinícius Rezende Fagundes

A Inserção do Psicanalista em uma Unidade de Tratamento Intensivo

Levando-se em consideração a necessidade de publicações que aprofundem a possível articulação entre Psicanálise e Psicologia, juntamente com o fato de que cada vez mais o psicólogo/psicanalista é convocado a compor a equipe multidisciplinar de um hospital, este artigo discute e aprofunda as peculiaridades que permeiam a inserção deste profissional neste campo de trabalho. A partir de autores que têm como viés a leitura psicanalítica e do relato da singular experiência clínica em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), demarcam a diferença entre entrada e inserção para que o psicólogo/psicanalista efetivamente tenha um lugar de atuação neste contexto. Além disso, chegamos à conclusão de que a produção de saber, a partir da clínica no hospital, pode possibilitar a criação da demanda de saber e, com isso, a inserção do analista via transferência de trabalho.

2016

Zihlmann, Karina Franco

Um olhar a mais: construção do trabalho psicanalítico na situação da perda da visão do paciente no contexto hospitalar

O objetivo desse artigo foi fazer um relato da experiência de implantação do serviço de atendimento psicológico de abordagem psicanalítica lacaniana em um hospital geral de alta complexidade da cidade de São Paulo - Brasil - especificamente junto a pacientes oftalmológicos. Utilizou-se também o recurso do relato de um recorte clínico para ilustrar especificidades do atendimento a esses pacientes. O trabalho do psicanalista no contexto hospitalar apresenta características distintas do trabalho tradicional de reabilitação visual e exige segurança quanto ao posicionamento clínico-epistemológico, bem como ético, para conduzir adequadamente situações em que se observa a emergência de grande angústia, tanto para o paciente, quanto para a equipe de saúde multiprofissional. Observou-se uma articulação entre a construção do trabalho de implantação do serviço de atendimento psicológico de abordagem psicanalítica (estabelecimento da transferência na equipe de saúde) e a possibilidade de que a equipe de saúde vislumbre a necessidade de atendimento psicológico dos pacientes acometidos por perda paulatina ou abrupta da visão, fazendo o encaminhamento adequado para acompanhamento multidisciplinar. Nesse sentido o atendimento aos pacientes pode passar a abarcar a complexidade necessária para garantir o acolhimento das necessidades complexas dos sujeitos envolvidos, para além do campo biomédico.

2014

Ferracioli, Natália Gallo Mendes

Vendruscolo, Juliana

Santos, Manoel Antônio dos

Quando a psicanálise entrou no centro cirúrgico: um relato de experiência

O psicanalista pode atuar em diversas áreas e setores do hospital. Uma das modalidades de atendimento concerne à preparação psicológica de pacientes que serão submetidos a intervenção cirúrgica eletiva. Este estudo tem por objetivo descrever a inserção de uma psicanalista no centro cirúrgico, por meio do relato do acompanhamento psicológico de um paciente antes, durante e após uma cirurgia para correção de fratura de mandíbula em um hospital do interior do estado de São Paulo. O paciente vivenciou uma situação traumática em cirurgia anterior, por isso considerou-se que a permanência da profissional de psicologia durante todo o procedimento poderia favorecer seu enfrentamento. Atitudes da equipe multiprofissional perante a presença inusitada da psicanalista no centro cirúrgico foram descritas e analisadas. Concluiu-se que a postura inovadora e empreendedora, baseada na ética e comprometimento, pode contribuir para a ampliação do campo de conhecimento e atuação do psicólogo.

2017

Sabbagh, Ana Luísa Masetti

Schneider, Venicius Scott

Limites e possibilidades da escuta clínica dentro deram hospital geral

Este artigo traz considerações sobre um obstáculo identificado no trabalho clínico com pacientes internados em hospital geral: o manejo protocolar da transferência, que torna a escuta ruidosa e inviabiliza o manejo de conteúdos inconscientes. Delineamos o trabalho no hospital e seu cotidiano, definindo o campo psicanalítico de atuação. Norteados por uma vinheta clínica, discutimos dificuldades próprias do cotidiano hospitalar que imporiam impasses na prática. Concluímos que a escuta psicanalítica independe do contexto, estando atrelada à disposição e formação do praticante. É necessária, portanto, interrogação constante da prática – na supervisão e análise pessoal – para suspender pressuposições pessoais acerca do caso.

2020

Resultados

A psicanálise encontrou nas psicologias uma porta de entrada para outras instituições, o saber psicanalítico, já se mostra atuante dentro dos hospitais em diversas áreas e setores. A prática do analista dentro do ambiente hospitalar se depara com a coexistência dos outros saberes (médicos, psiquiatras, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas), percebe-se a existência de uma tensão entre estes discursos por serem tão diferentes entre si.

O acompanhamento ocorre em diversas situações desde as passagens curtas e as mais longas, no do árduo dia a dia dos hospitais, nas expectativas pré e pós-operatórias, nas perdas significativas, que podem mudam por completo a qualidade de vida do sujeito e até o difícil enfrentamento da morte. Exigindo sempre do analista o comprometimento e a ética, para manter uma escuta psicanalítica.

Discursão

Foi dentro dos muros do hospital, que Freud um jovem médico neurologista fez seus primeiros postulados sobre seus conceitos psicanalíticos, enquanto investigava a histeria, demonstrou o qual fértil o hospital é para demonstrar a fragilidade humana, mas conforme seus estudos avançavam, ele encontrou no conforto de seus pacientes, o material a ser explorado em suas interpretações[JL4]  (FREUD, 2020). De maneira que logo a psicanálise e o próprio Freud começam a se distanciar do hospital, e a psicanálise se solidifica na clínica.

A psicanálise encontra na medicina, um espaço a ser preenchido, foi justamente nas observações sobre a histeria que Freud se utilizou daquilo que era descartado pela medicina, e deu fundamento a sua clínica. Que funciona a partir das formações do inconsciente, dos quais podem ser escutados de várias maneiras, o analista se utiliza de um filtro, que toma o paciente de forma objetiva e elenca condutas, é na qualidade da relação dos falantes que ocorre a transferência, conceito fundamental na psicanálise que permite a exploração do inconsciente. O conteúdo trazido pelo paciente, apresenta um caráter singular e é crucial para escutar a dimensão do sujeito. (SABBAGH e SCHNEIDER, 2020)

Segundo Pinheiro, (2002), a transferência que tem a ver com o investimento libidinal do paciente, nem sempre se tem tempo de ocorrer, já que alguns pacientes passam pouco tempo internados, ou não se sentem suficientemente confortáveis a contar sobre seus anseios a um completo estranho. E comum os pacientes com mais tempo de internação, acabam estabelecendo uma transferência não com o analista, e sim com a instituição. Na qual investi toda sua angústia e desamparo aos médicos e o tratamento da instituição.

Na urgência médica o que vai estar em jogo, é o sofrimento e as necessidades do corpo, é preciso então a atuação de outro profissional que dê lugar a urgência subjetiva. (LIMA, 2018) A urgência psicanalítica se dá de outra forma, nem sempre parte do sujeito, e sim do Outro, seja alguém da equipe ou de um acompanhante. Trabalhar com esse sujeito é dar vazão ao seu desejo, que a partir do momento que entrou no hospital foi assujeitado, ficando refém de um único discurso de cura, o biomédico. Desamparado psicologicamente, muitas vezes também está sujeito a outras violências como o abandono e outras perdas simbólicas que afetam de forma significativa o paciente, como o afastamento de suas atividades, do seu trabalho e de amigos, a possibilidade e o enfretamento da ideia de morte, são vários os motivos que geram uma demanda psicanalítica.

Mas como uma analista pode sustentar seu discurso em um mundo que busca o alívio imediato da dor, e uma busca incessante pelo bem-estar?

 No hospital muitas vezes, foi isso que escutei, um sujeito que se submete aos diversos exames e medicações que lhe é prescrito, sem mesmo entender ou se implicar em seu próprio tratamento. Afinal ele está ali para ser curado. Os chamados da equipe, em sua maioria tinham este propósito, pois o paciente não queria aderir ao tratamento. A medicina responde prontamente a urgência, tratando os sintomas do corpo, eliminando a dimensão de tempo. A psicanálise articula a pressa exigida pela situação, ao tempo do sujeito.

A pratica analítica é de construção constante, imprevisível e dinâmica, já que, cada paciente é dotado de singularidade única, tanto dentro de sua subjetividade quanto de suas condições médicas, exigindo reflexões constantes sobre as possibilidades, e que exige segundo Zihlmann, (2014) a relação de transferência, junto a equipe multidisciplinar, partindo daí a demanda de um suposto saber, para além do saber biomédico da equipe, frente ao sofrimento do paciente, mas que nem sempre se estabelece frente a um desresponsabilizar-se da equipe ao sofrimento, fruto de suas próprias defesas e resistências da angústia.

A interpretação psicanalítica, consiste em referências que permitem ao analista, escutar de forma peculiar, diferentemente do sofrimento do corpo. O paciente sofre por não ser escutado ou não saber como ser, diferente do saber médico que se propõe a saber exatamente qual o mal a afligir o paciente, longe de uma concepção narcisista de que um saber se sobressai melhor que o outro, os dois saberes podem e devem se complementar para um melhor diagnóstico . (COPPUS e NETTO, 2016)

Mas diferentemente da clínica clássica, o atendimento hospitalar não é feito em um divã ou em um espaço tranquilo e com um tempo pré-determinado, e sim no leito, na escada, no corredor, na capela, ou qualquer espaço disponível, e nem sempre será silencioso e privado. (MAIA e PINHEIRO, 2011). Um atendimento ao leito está sujeito a diversas interrupções desde o vizinho de leito até os inúmeros exames, curativos e medicamentos sendo administrados, há outros complicadores como as enfermarias lotadas, os ruídos de ventiladores e conversas paralelas.

Segundo Almeida (2010) as terapias breves, se tornam uma grande ferramenta para atuar dentro do hospital, são terapias propostas de cunho altamente técnicas e especificas, algumas propõem serem não transferenciais, atuar diretamente em um sintoma psicanalítico, ou se utilizar da temporalidade como ferramenta para uma maior implicação do sujeito no processo. Mas mesmo a terapia mais breve possível, pode levar anos, já que o sujeito doente é multideterminado por diversos fatores.

            É fato, que o processo analítico vai depender da implicação do sujeito no mesmo, de seu desejo e de sua disponibilidade, dentro da clínica a procura é espontânea, na instituição a busca se torna ativa, às vezes chamadas da equipe, mas a chamada não garante uma aceitação do tratamento de imediato, as resistências são muitas, não só o obstáculo de falar com um estranho, mas também com o ambiente e a situação em que se encontra o sujeito, o medo e o desalento muitas vezes são os sentimentos que imperam no momento. (FREUD, 2020)

Lembro-me de um chamado da equipe para escutar uma garota de 16 anos que acabara de entrar na enfermaria de cuidados paliativos, devido um câncer em metástase, o chamado foi feito por enfermeira notavelmente aflita com a situação. A eminente morte nunca é fácil de encarar, e o que dizer quando ela se dá em uma pessoa tão jovem. Mesmo diante de uma situação irreversível, ela se dizia estar bem e só se preocupava com sua mãe que estava ali ao seu leito, desconsolada com a situação.

A ética no discurso psicanalítico tem que falar mais alto, o desejo do analista não pode se sobressair a situação, e se deixar abalar frente a sua insuficiência como ser humano.  Nem sempre é possível fazer algo, mesmo que haja uma implicação do sujeito neste processo. É possível escutar sobre o processo de morte de uma jovem garota de 16 anos com um câncer terminal? Como não desejar vida diante do vazio de uma morte precoce? Qual o destino do desejo do analista? E dessa equipe que se empenha em curar?  

 

Considerações Finais

A psicanálise nasce da ruptura de uma medicina que se preocupava apenas com o adoecimento do corpo, é um momento de reconciliação, onde existe a possibilidade de dar voz a estas pessoas que padecem de doenças corpóreas, e muitas vezes são reduzidas a apenas sintomas pela medicina moderna, a reafirmação destes sujeitos como seres desejantes, se mostra promissor na relação do paciente com sua enfermidade.

O trabalho analítico é possível dentro do hospital, e vem como um grande aliado, um saber além do conhecimento médico, trazendo novas possibilidades e olhares sobre os diagnósticos antes limitados apenas ao sintoma do corpo. A atuação do analista dentro do hospital comparado com a clássica visão da atuação clínica, tem suas particularidades, sobretudo a psicanálise aplicada aqui, não se justifica sem a psicanálise pura que segundo a visão Freudiana se dá através, além da formação teórica, através da análise pessoal e a supervisão.

Freud como um homem do iluminismo tinha o desejo de que a psicanálise fosse além da clínica entre quatro paredes, o diálogo entre a psicanálise e hospital se mostra instigante, e abre uma nova era para a clínica que se expande para outras instituições. A produção de conhecimento, é um caminho que ainda se tem muito a trilhar, afinal trabalhar junto a um discurso muito diferente, torna-se um desafio não só para o analista, mas também para toda a equipe que não tem conhecimento sobre o saber psicanalítico

 

 

 

 

 

 

 

Referências

ALMEIDA, R. A. D. Possibilidades de utilização da psicoterapia breve em hospital. Revista Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar - SBPH, Rio de Janeiro, Junho 2010.

ANGERAMI, V. A.; TRUCHARTE, F. A. R.; KNIJNIK, R. B. Psicologia Hospitalar: Teoria e prática. 2a. ed. [S.l.]: Cengage, 2010.

COPPUS, A. N. S.; NETTO, M. V. R. F. A Inserção do Psicanalista em uma Unidade de Tratamento Intensivo. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 36, p. 88-100, Janeiro/Março 2016. ISSN 10.1590/1982-3703000322012.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 10a. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2019.

FREUD, S. O método psicanalítico freudiano (1904). In: ______ Fundamentos da clínica psicanalítica. [S.l.]: autêntica, 2020. p. 51-61.

LIMA, L. M. C. A Clínica psicanalitica no setting hospitalar. Revista Valore, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 361-372, Jan/Jun 2018.

MAIA, M. V. C. M.; PINHEIRO, N. N. B. Um Psicanalista Fazendo Outra Coisa: Reflexões Sobre Setting na Psicanálise Extramuros. Psicologia, ciências e profissão., p. 656-667, 2011.

PINHEIRO, N. N. B. Enlaces transferenciais: reflexões sobre a clínica psicanalítica no ambulatório hospitalar. Psicologia: Ciência e Profissão, 2002. 42-49.

SABBAGH, A. L. M.; SCHNEIDER, V. S. Limites e possibilidades da escuta clínica dentro de um hospital geral. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, Dezembro 2020.

SIMONETTI, A. Psicologia hospitalar e psicanálise. [S.l.]: Casa do psicólogo, 2015.

ZIHLMANN, K. F. Um Olhar a Mais: A Construção do Trabalho Psicanalítico na Situação da Perda da Visão do Paciente no Contexto Hospitalar. Revista Subjetividades, n. 14, p. 105-114, abril 2014.

 

 

[1] Graduando em psicologia na Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: [email protected]

[2] Psicóloga. Mestranda em Psicologia e Políticas Públicas - UFC/Sobral. Docente da Faculdade Luciano Feijão

 [JL1]Vc traduziu do google? Eu sou péssima em inglês...sempre pago pra alguém fazer meu abstract

 [JL2]Não costumamos trazer referencias nos objetivos. Porque o objetivo é seu. Do seu trabalho. [JL2]

 [JL3]A impressão que tive é que você está falando mal da revisão sistemática. Eu sugiro você trocar por algo: “a proposta desse trabalho está para além quantificação dos trabalhos compreendendo a importância de se debruçar sobre a temática ... e etc...”

 [JL4]Eu sou um pouco reticente a essa afirmação. O divã não é um sofá confortável. Ele é a própria análise muitas vezes... eu tiraria essa expressão. Me parece um pouco equivoca.