A ARTE PLUMÁRIA INDÍGENA: UM ESTUDO DE CASO ACERCA DAS COLEÇÕES ETNOGRÁFICAS DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
Por Edjane Silva Costa de Alencar | 09/03/2022 | EducaçãoUNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH
GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
A ARTE PLUMÁRIA INDÍGENA: UM ESTUDO DE CASO ACERCA DAS COLEÇÕES ETNOGRÁFICAS DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
1 Edjane Silva Costa De Alencar
RECIFE - PE
30 de novembro de 2021
Resumo
A conservação preventiva é um tema de suma importância no que tange os materiais musicalizados. Tendo por finalidade preservar um vasto material, que na grande parte dos casos estão enfrentando processos de deterioração físico, químico e biológico. O seguinte trabalho tem por objetivo primário, discorrer acerca dos procedimentos adotados na preservação de coleções etnográficas indígenas, a arte plumária. E por serem materiais de fáceis desgastes precisam de tratamentos minuciosos e preventivos, com o objetivo de prolongar o tempo de vida desse material. Através de uma pesquisa de cunho exploratório, será apresentado alguns dos métodos utilizados nas coleções localizadas na reserva técnica do 2Museu Paraense Emílio Goeldi. Considerando a necessidade de preservação dessas coleções etnográficas para uma possível abordagem a posteriori de novas tecnologias e melhoramentos nesses espaços museais.
Palavra-chave: Conservação preventiva; arte plumária; coleções.
Introdução
Objetivando ampliar e compreender como se desenvolve os processos de conservação das coleções etnográficas, mais especificamente, a arte plumária indígena, foi realizada uma pesquisa exploratória acerca da temática. O alvo da pesquisa foi a reserva técnica do museu Paraense Emílio Goeldi, localizado na Região Norte (Estado do Pará) do Brasil, com o intuito de obter dados e suscitar um debate de extrema relevância no que se refere a conservação preventiva realizadas nesses materiais.
Sendo assim, é interessante conceituar que conservação, é o “conjunto de atuações de prevenção e salvaguarda, direcionada a assegurar uma duração, que pretende ser ilimitada, para a configuração material do objeto considerado”. (CALDEIRA, 2006, p. 101.) E também pontuar outro importante conceito, prevenção, que é o “conjunto de atuações de conservação, a mais longo prazo possível, motivadas por conhecimentos prospectivos, sobre o objeto considerado e sobre as condições de seu contexto ambiental”. (CALDEIRA, 2006, p. 101).
Ao transcurso do texto, serão apresentados os procedimentos adotados pela reserva técnicas do Museu Emílio Goeldi, pontuando fatores como: acondicionamento dos adornos plumários, a ambientação e algumas técnicas empregadas para a conservação dessas coleções.
A arte plumária: um pequeno esboço
A plumária é o termo utilizado para nomear confecções de peças formada a partir de plumas de aves. A arte indígena de produção de artefatos que desde o período da chegada dos primeiros colonos à costa brasileira, encantou os europeus pela transição de cores e técnicas apresentadas nos adornos:
os produtos entre manufaturas os que mais os europeus que aqui aportaram na época do descobrimento. De fato, a "arte plumária" é uma das manifestações artísticas mais expressivas do índio brasileiro, alia um tipo matéria-prima de um perfeito domínio de procedimentos técnicos e um senso estético altamente desenvolvido. Através dos séculos, a documentação etnográfica dos naturalistas, viajantes e missionários registrou de forma constante o uso e a confecção destes artefatos. Nos estudos monográficos iniciados no século XIX a plumária era descrita conjuntamente com as outras manifestações das culturas indígenas. Somente a partir do segundo quartel deste século surgiram trabalhos específicos sobre "arte plumária" referentes aos índios Urubus-Kaapor, Bororo, Tukano, Kayapó, Wayana, Kayabi e do Alto Xingu (Bakairi, Kamayurá, Waurá, Kuikúru, Mehináku, Kalapálo) que abordavam aspectos técnicos, estilísticos e de significado sócio-cultural.(CATÁLOGO DE EXPOSISÃO, 1983, p. 13).
É importante pontuar que, a arte plumária não tem por objetivo ser um mero enfeite, mas também:
Podem ser considerados verdadeiros códigos que transmitem, numa linguagem não verbal, mensagens sobre sexo, idade, filiação clânica, posição social, importância cerimonial, cargo político, e grau de prestígios de seus portadores e possuidores, reportando-nos também a um tempo histórico-mitológico. Além de enfeites, portanto, são símbolos e, por isso, usados nos ritos e cerimônias, campo simbólico por excelência das culturas humanas. (CATÁLOGO DE EXPOSIÇÃO, 1983, p. 13.).
A arte plumária também abrange um elenco de características, sendo elas: a matéria prima; as técnicas; a cor; a forma e a fixação. Envoltos em um forte simbolismo, que abordam a sua distinção ao que está ao seu entorno desses grupos. A produção dessas peças, é de responsabilidade masculina.
É interessante abordar que, um dos grupos étnicos mais evoluídos na produção dessa arte plumária, são os URUBUS-KAAPOR que serão as coleções estudadas, na pesquisa da RT do museu Emílio Goeldi.
Uma breve descrição acerca da conservação preventiva
Na década de 80 que a conservação preventiva se consolida, é a época onde pesquisadores e autores abordam o controle ambiental como fator importante para a conservação de bens culturais, o que vem se desdobrando atualmente em uma interdisciplinaridade entre áreas e ressaltando a variabilidade de métodos e técnicas que venham corroborar para esta preservação.
No âmbito arqueológico pode-se citar as diversas formas de manutenção dessa materialidade, que começa desde o cuidado ao escavar o material (quando está enterrado) passando pelos processos de acondicionamento até a sua chegada ao laboratório para as respectivas análises.
Entretanto, o mais corriqueiro dos processos é a salvaguarda desses materiais em reservas técnicas, e isso vem sendo uma preocupação de muitos pesquisadores, tendo em vista o estado físico e o alto teor de deterioração desses materiais, o que implica na necessidade de projetos e especialistas alocados nessas reservas. (CALDEIRA,2006).
A importância da temática e seus possíveis aportes
Quando discorremos acerca da conservação de coleções de plumárias indígenas, abarcamos também um tópico relevante ao que se à preservação desses materiais - que são categorizados como ibens culturais. A importância de se conservar esse material etnográfico, reverbera na valorização e preservação da memória dos povos originários, tendo em mente que, todo e qualquer material arqueológico é imprescindível para a construção de uma identidade, seja ela coletiva ou individual.
A pesquisa acerca dos procedimentos que abrangem a conservação preventiva das coleções da arte plumária URUBUS-KAAPOR, que estão na RT do museu Goeldi, podem ser melhorados e também reproduzidos por outras RTs de museus espalhados em todo país. O objetivo desse trabalho é trazer pontos que abarcam os métodos referentes ao tema.
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A vulnerabilidade da peça plumária
As peças feitas de plumas de aves, são materiais biológicos, sendo assim a sua fragilidade e deterioração também são mais agilizados pelo tempo, levando em consideração um elenco de fatores que possam contribuir ainda mais para a degradação desse material, sendo eles: o local; o clima; o acondicionamento; o manejo e vários outros fatores que podem interferir de forma negativa no processo de conservação. Esse tipo de material pode sofrer com “ataques” de fungos, que poderá comprometer a sua estrutura.
Mesmo sendo um material frágil, algumas medidas e procedimentos poderão ser tomados para uma maior durabilidade dessas peças.
Tendo por base a dissertação de mestrado de Bianca Cristina Ribeiro Vicente, que pesquisou as condições de coleções de plumárias na Reserva técnica do museu Goeldi, analisou os fatores que colaboravam para a aceleração dessa deterioração, sendo ela:
Com relação aos danos podemos perceber entre os principais algumas características. A sujidade, por exemplo, foi a que apareceu em 87,5% das peças analisadas, sendo mais perceptível em algumas do que em outras. Estas sujidades que são basicamente particulados diminutos que se imbricam nas barbas, bárbulas e próximos as raques e podem deixar uma aparência levemente escurecida na pena ou mesmo uma fina camada de pó em pequenas áreas. (VINCENTE, Bianca, 2018, p. 85.).
A Bianca utiliza variados métodos para obter um panorama mais amplo acerca dos adornos, que será abordado no tópico de métodos. O objetivo da pesquisa levantada não é detalhar a morfologia das plumas, tendo em vista que uma breve introdução já foi realizada, mas sim abordar alguns procedimentos efetuados pela autora. [...]