Arthur Schopenhauer (1788/1860)

A presente coletânea é composta de cinco escritos, a saber: Sobre a erudição e os eruditos; Pensar por si mesmo; Sobre a escrita e o estilo; Sobre a leitura e os livros; e, Sobre a linguagem e as palavras, todos relacionados à “literatura”, desenvolvendo uma argumentação crítica sobre a decadência da literatura e da escrita, em especial a alemã de sua época (1818).
No primeiro texto, Sobre a erudição e o erudito, o autor trabalha os temas da instrução e da verdade, mostrando que a cada trinta anos uma nova geração desponta no mundo, devorando o saber acumulado durante milênios, de uma forma apressada e sumária. 

O pensamento e as próprias idéias do leitor são deixados de lado mediante uma leitura mecânica dos textos novos em detrimento dos clássicos. A importância das idéias próprias é fato abandonado, pois o ato de pensar perdeu seu brilho e importância, uma vez que o pensamento alheio já está pronto para ser lido, copiado e reproduzido. Muitos eruditos leram, até ficarem burros.

Portanto, a erudição livresca é um adorno de pensamento alheio, caracterizando-se como uma falácia, pois nenhum indivíduo pode conhecer a totalidade do saber acumulado. No pensamento do autor “apenas as bibliotecas são a única memória permanente e segura da espécie humana”.

No segundo texto, Pensando por si mesmo, Schopenhauer trabalha a importância de o leitor desenvolver seu próprio pensamento, deixando de lado o ser autômato e mecânico, reprodutor de idéias alheias.  Somente o pensamento próprio e metódico sobre um tema é capaz de levar ao domínio do mesmo. Ler obras alheias é como pensar com uma cabeça alheia, deixando-se ser conduzido em andadeiras por outrem. Não há autenticidade, liberdade, nem saber, apenas reprodução.

O autor poeticamente descreve que “no reino dos pensamentos, somos espíritos incorpóreos, sem gravidade e sem necessidade. Por isso, não existe felicidade maior na terra do que aquela que um espírito belo e produtivo encontra em si mesmo nos momentos felizes.” E, podemos acrescentar: que tal alegria ocorre em especial, quando se está pensando e produzindo mentalmente o seu próprio saber, como um ruminante de idéias.

O pensamento deve ser escrito para materializar o crescimento do próprio ser pensante.

No terceiro texto, Sobre a escrita e o estilo, somos apresentados a dois tipos de escritores: os que escrevem em função do assunto e os que escrevem por escrever; os primeiros, ruminaram seus pensamentos; enquanto os segundos, necessitam de dinheiro. Assim que alguém perceber que uma obra é superficial, deve jogá-la fora, pois o tempo é precioso.

As pessoas lêem o novo, o jornalístico e os compêndios, feitos como moldes de gesso.

Deve-se ler em primeira mão, na própria fonte, adentrando-se no pensamento do verdadeiro fundador e descobridor de uma teoria, para navegar no mar bravio das idéias desenvolvidas pelo pensador, ao invés de cavalgar o animal domesticado. Não devemos ler obras sobre Goethe, mas ler obras de Goethe.

A grande massa de obras é péssima e não deveria ter sido escrita.  Uma obra imortal requer qualidades especiais, conquistando o leitor de imediato.

O estilo é a fisionomia do espírito gênio e literato, devendo evitar o preciosismo, o rebuscado, o enigmático, o prolixo, o supérfluo, o subjetivo, o truncado, as orações subordinadas e o neologismo. Com este foco é apresentado uma teoria da escrita, que abrange várias questões relacionadas à construção do texto mediante a exposição sistemática do pensamento, de forma clara e direta, conforme o próprio estilo defendido nos textos.

No quarto texto, Sobre a leitura e os livros, o autor desenvolve a crítica entre ler as idéias que já foram desenvolvidas e o trabalho de auto-iluminação e desenvolvimento do próprio pensamento.

 O autor discorre sobre a literatura de consumo e sobre a verdadeira obra de arte literária, realizada por autêntico pensador, ao contrário da primeira, que é realizada por compilador interessado somente no retorno financeiro imediato. Para ele isso ocorre porquanto o vulgo se interessa em ler apenas coisas novas, independente de seu conteúdo, deixando as obras clássicas de lado.

Por volta de 1818, Schopenhauer já se preocupava com a qualidade do ensino, do aprendizado, do pensamento, da produção literária e teórica, alertando que naquela época já havia uma quantidade enorme de livros ruins, escritos pelo mero interesse financeiro, por isso ele demonstra que existe uma arte de não ler, pois a vida é curta, o tempo e a energia são limitados, exigindo o desenvolvimento dessa arte de não ler o que é ruim.

As obras clássicas são a quintessência do espírito, o que pode nos levar a preferir o prazer de um bom livro ao convívio ordinário com o homem comum. Deve-se, portanto, privilegiar os clássicos, como alento da alma.

No quinto texto, Sobre a linguagem e as palavras, Schopenhauer nos apresenta o valor das línguas antigas, em especial o grego, o latim e o sânscrito. Ele defende a importância de aprender e dominar o uso de outras línguas, enriquecendo o campo conceitual do homem.

A preguiça e sua filha ignorância estão por trás da ignorância humana, sendo que fumar charuto, falar sobre política e apresentar-se como culto e erudito são credenciais do tolo que se julga sábio mediante a repetição livresca, sem autonomia e liberdade de pensamento próprio.

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