A AJUDA TERAPEUTICA DO ELETROSSONO NAS PSICOPATOLOGIAS
Dr.Wagner Paulon
1974 - 2008

O diálogo (quando o terapeuta usa a persuasão, isto é, a argumentação com recomendações verbais apelando para a lógica e o raciocínio do paciente) e a boa relação terapêutica favorecem a formação de novos condicionamentos positivos em substituição aos reflexos condicionados patológicos; e na hipnose a repetição concentrada dos condicionamentos sugeridos em vigília vem reforçar de forma mais intensa a assimilação desses condicionamentos.

A origem da hipnose é tão antiga quanto a humanidade, e os seus fenômenos, embora não identificados como tais, estavam presentes nos primórdios da civilização. Inicialmente envolvida em mistério, misticismo e superstições, e estreitamente relacionada com os rituais religiosos, foi situada pela primeira vez dentro do interesse científico pelo médico austríaco Franz Anton MESMER (1734-1815). É dele a "Teoria do Magnetismo Animal", que atribuía os fenômenos de cura a um complicado e imaginoso sistema de fluidos, ímãs e forças universais atuando sobre a saúde humana.
Vários outros teóricos da hipnose apareceram depois dele, tomando por base seus trabalhos ou partindo de pontos inteiramente opostos: Elliotson, Esdaile, Bennet, Charcot, Myers, Janet, Prince e Ferenczi foram os mais destacados, mas suas teorias passaram bem ao largo da hipnose tal como é hoje compreendida. James BRAID (1795-1860) foi o primeiro a traçar um esboço da neurofisiologia da hipnose, chegando a conclusões que, em parte, são válidas até hoje.

A interpretação reflexológica dos fenômenos hipnóticos constituiu o primeiro marco realmente significativo na história da hipnose.

O surgimento freqüente do sono nos animais submetidos por PAVLOV e seus colaboradores aos trabalhos de reflexos condicionados foi o que determinou que o notável fisiólogo se empenhasse em estudá-lo. Após dez anos de trabalho, em 1923 chegou à concepção e compreensão finais do fenômeno.

O córtex cerebral, de acordo com suas complexas funções, tem também uma estrutura complexa, integrada no ser humano por 10 a 15 bilhões de células nervosas. Estas células são de estrutura variada, assegurando conexões múltiplas entre as diversas partes do córtex e entre o córtex e o subcórtex. Relacionadas entre si por meio dos seus dendritos e axônios formam complicadas cadeias de neurônios através das quais se difundem as excitações que chegam ao córtex. As fibras que vão ao córtex provindas do subcórtex e as que unem entre si as diversas zonas corticais se entrelaçam, por meio de suas ramificações terminais, com os dendritos das células das diversas camadas corticais, transmitindo-lhes a excitação; essa excitação é então difundida pelos axônios das células de uma para outra parte do córtex ou diretamente para os centros subcorticais.

As excitações que chegam ao córtex cerebral se irradiam de uma camada para outra e de uma para outra zona dos hemisférios, de maneira que a totalidade dos neurônios corticais fica dividida em numerosos pequenos centros. Em parte esses centros estão excitados, enquanto outros estão inibidos; forma-se assim um mosaico, cortical de pontos excitados e pontos inibidos. Este mosaico, altamente móvel, modifica-se constantemente sob a ação dos distintos estímulos que atuam sobre o indivíduo.

A excitação da célula nervosa está relacionada com um débito energético que, em última análise, vem a ser um certo consumo de substância, constituindo o "gasta funcional". Conforme a escola reflexológica, quando este gasto atinge um ponto tal que põe em risco a capacidade funcional da célula, instala-se a "inibição protetora % supramaximal, que lhe serve de repouso e permite assim o restabelecimento de sua atividade normal”.

Uma das formas de manifestação dessa inibição protetora é o sono, que se inicia quando o trabalho prolongado das células corticais representa um perigo para o seu funcionamento regular. Desse modo, dentro desse conceito e de acordo com as leis que regem os processos de excitação e de inibição, o sono é uma inibição irradiada a todo o córtex cerebral e às áreas subcorticais próximas. Durante o sono o mosaico funcional desaparece, ficando todo o córtex num estado de inibição difusa.

Pela ação prolongada e monótona de um estimulo qualquer se pode produzir uma forma especial de inibição difusa do córtex cerebral: o sono hipnótico.
Esta inibição inicia-se em torno do ponto cortical onde esteja atuando o estímulo, e a partir daí se difunde; permanecem, entretanto, determinados grupos de células não inibidas, mantidas em excitação (vigília) pela palavra, através das quais o indivíduo hipnotizado conserva a sua relação com o hipnologista, caracterizando-se assim uma diferença fundamental entre o sono hipnótico e a sono normal. Esses grupos de células não inibidas formam um ponto que PAVLOV denominou de "ponta vígil" do córtex cerebral (ponto de vigília).

Assim sendo, a hipnose pode ser definida, dentro da Reflexologia, como "um estado de difusa inibição cortical com a preservação de um ponto vígil".

É a oportunidade que o psicoterapeuta tem de utilizar a sugestão (vide pág. 98), inserindo na ANS do paciente novos condicionamentos sem a sua interferência crítica. Aí a palavra tem um papel ainda mais destacado, pois deve ser precisa, positiva e de conteúdo extremamente significativo para o paciente.

Para que o paciente possa realmente levar à prática essa nova mecânica de vida, é preciso que seu sistema nervoso esteja em condições satisfatórias.

Vimos acima como funciona o processo de restauração das células através do sono. A sonoterapia química não é recurso recente da psiquiatria. O eletro-sono, porém, vem acrescentar uma série de vantagens a essa sonoterapia tradicional, eliminando de saída dois pontos negativos — a necessidade de internamente e a superdosagem de tranqüilizantes. O eletro-sono foi construído na década de 40 por V. GUILLIAROVSKI e outros cientistas russos, com base na doutrina reflexológica, considerando que "estímulos débeis e monótonos provocam nas pessoas um estado de languidez, de sonolência e até de sono". Embora algumas pessoas não cheguem propriamente a dormir, o estado produzido pelo eletro-sono é semelhante ao sono fisiológico e também ao sono hipnótico, com a diferença de introduzir um elemento novo: a eletricidade. O aparelho, pequeno e de prática utilização em regime de ambulatório (de uma a duas horas diárias, num total de 20 a 30 aplicações num tratamento normal), tem as seguintes características: corrente pulsatória retangular (galvânica); freqüência de impulsos de 5 a 25 Hz (e, num diapasão mais amplo, de l a 130 Hz); duração fixa de impulsos (numa faixa de •0,3 a 0,5 milisegundo); e intensidade de estímulos regulada para cada paciente. É aplicado através de óculos com algodão umidecido colocados sobre os olhos e sobre as mastóides (ossos atrás das orelhas); a corrente elétrica entra pelos óculos que estão sobre os olhos e sai pelos que estão nas mastóides. No início da aplicação, o paciente sente um agradável formigamento nas pálpebras. E, mesmo que não chegue a dormir, seu sono da -noite será sempre muito melhor. Como resultado imediato produz-se um grande relaxamento, o que possibilita um desempenho mais adaptativo nas atividades cotidianas do paciente, desde o trabalho até a racionalização de sua problemática.

O Neurotron, construído em 1969 pelo médico brasileiro Fernando THIRÉ, utiliza a corrente farádica e consta de aplicadores (eletrodos) de folha metálica flexível que se colocam de preferência nas plantas dos pés, ou nos tornozelos, panturrilhas (barrigas das pernas) ou coxas, sempre simetricamente.

O paciente, uma vez ligado o Neurotron, sente também uma espécie de formigamento no local da aplicação, formigamento esse que sobe pelo tornozelo e pode ter sua intensidade mais acentuada dependendo do caso.
A aplicação do Neurotron também determina uma tonificação dos processos nervosos fundamentais e é indicado particularmente nos distúrbios neuro-vegetativos, pois atua através dos troncos nervosos vegetativos (viscerais) e sensitivos (da vida de relação). Pode levar igualmente ao sono durante o período de aplicação, o que significa uma influência cortical canalizada através da inervação periférica dos membros inferiores.

Naturalmente, o campo da psicoterapia é aquele dos distúrbios nervosos chamados psicogênicos; os somato-gênicos exigirão, antes de qualquer coisa, tratamento especializado paralelo à psicoterapia.

Uma vez assegurado o equilíbrio da ANS do paciente, e com o novo plano de vida já em fase adiantada de elaboração dentro do processo de interferir em tudo o que sinaliza a neurose (sugerir mudança de ambiente, trabalho remunerado, aquisição de hobbies), a psicoterapia reflexológica vai fazer a abordagem das pessoas que possam ter contribuído, direta ou indiretamente, para o desencadeamento de sua neurose. Se for o caso de uma paciente casada, chama-se o marido; primeiro o terapeuta o entrevista isoladamente, expondo-lhe a situação de forma a que ele a compreenda e passe a participar positivamente do tratamento; em seguida reúne-se o casal, passando assim à psicoterapia do grupo familiar. São freqüentes os casos de jovens que trazem os pais, pais que trazem os filhos, expondo assim ao terapeuta o restante da constelação familiar neurotizada. O terapeuta age nestas sessões como o poder moderador, orientando os debates que surgem inevitavelmente a princípio, esclarecendo pontos confusos e agindo no sentido de harmonizar o grupo. É traçado, então, um programa de vida a ser cumprido num prazo determinado, ao fim do qual o paciente inicial ou o grupo voltarão à clínica para que possa ser feita uma avaliação dos resultados. Dependendo do caso, novo programa é organizado, e às vezes com vista a um terceiro; ou o paciente simplesmente não volta, porque conseguiu superar seu desajuste e entrar em harmonia com o seu grupo ambiental.