Quarenta e dois anos. Fase da maturidade ou do conformismo? Éverton era um homem aparentemente feliz. Muito tempo de serviço prestado ao banco, uma esposa agradável e três lindos filhos saudáveis. Uma vida estável apesar de monótona. Não imaginava nada além disso e não queria mais. Mas a vida é mulher, e com seus caprichos desenha labirintos e lugares além da imaginação. Na sua rotina enfadonha e maçante nunca poderia imaginar uma revolução sentimental, que poria de cabeça para baixo todos os conceitos de moral, de normas e transfiguraria definitivamente todas as formas inexoravelmente niilistas do seu ser.

Anelise era seu nome. Dezoito anos. Toda jovialidade à flor da pele, um apelo sexual a olhos vistos. A nova funcionária do banco. Éverton era chefe de seção, portanto, era o encarregado direto responsável por Anelise. No início, nada, depois uma paixão capaz de desmentir todos os critérios de sanidade, se é que algum dia chegou a existir um. Uma fagulha de esperança, um desejo arrebatador, aquilo que já se achava morto ressuscitava de uma forma avassaladora, a própria razão da existência, por que estamos aqui porra? "Anelise, Anelise, tu és a razão do meu trabalho, tu és a força motivadora que me faz acordar todas as manhãs. Já me considerava um morto-vivo, restabeleceste todo líquido rejuvenescedor de minha alma, do meu pranto brotou tua pessoa, se alguma vontade há para viver essa persistência és tu. Teu corpo, moreno, jovem, esbelto. Não imagino minha jornada enfadonha sem tua presença, que a morte nos separe".

Não sabia como se aproximar, qual a melhor maneirade dizer o que sentia. Poderia haver um erro de interpretação. Não era ele apenas um garanhão em caça a mais um presa, e sim, um apaixonado sublime, um homem vivido, com o trunfo da estabilidade emocional(??). Passou meses nessa angústia destruidora de nervos. Noites e mais noites em claro. Mais de uma vez masturbou-se no banheiro, escondido da mulher. "Que droga! Preciso de uma definição. Ela é simpática, mas nunca demostrou qualquer tipo de afeição. Mas quem sabe?" Pobre criatura. Estava cego pelo amor. Ou quem sabe cego pela crise dos quarenta anos? Será que ainda tinha charme para conquistar alguma mulher? Mais do que isso, será que tinha personalidade suficiente forte para atrair uma adolescente? Não seria um velho gagá? E se a declaração não for correspondida? Parecia uma criança. Mas o amor deixa bobo, decidiu arriscar.

Um equívoco. O desmoronamento de um arranha-céu de ilusões. "Sou noiva, com data de casamento marcada e tudo". A queda, o estilhaço em mil pedaços. Sonhos de inverossímeis realizações. Podia vislumbrar um futuro próximo, sem sua mulher e filhos, apenas ele e Anelise a matarem a fome em obscenidades inomináveis. Seria ele um facínora do amor, não teria mais tempo ocioso, todos os minutos do seu dia trabalharia na exploração deste novo e insólito amor. O que sobrou? apenas a recomposição do que restou. "Como fui me iludir? Ela era apenas uma garota, e eu um velho, ou pelo menos comparativamente. Sei que agi de forma ridícula,nunca deveria deixar uma coisa dessas abalar minha relação familiar. Uma estrutura sólida e garantida. Sem emoções. O que importa? Foda-se o mundo, a vida, e o que mais existir. Quero mais é voltar para a segurança do meu lar. O abraço carinhoso da minha esposa, o ambiente fraterno dos meus filhos, o conforto da família".

Ele chega em casa e o que vê não lhe agrada. Filhos esparramados pela casa. Um ambiente de deserção. Na geladeira apenas um bilhete fixado com os enfeites magnetizados. O recado era sintético e objetivo. Sua esposa estava cheia dessa vida medíocre. Abandonaria ele, os filhos e a casa. Tentaria nova vida com Édson, um rapaz quinze anos mais novo do que ela.