4 Identidade Psiquiátrica

Por Joacir Soares d'Abadia | 29/01/2013 | Filosofia

4 Identidade Psiquiátrica

_ continuação _ O psiquiatra voltando seus ombros pra frente inclina-se para falar com Atingo... _ “Olha! Nada me disse Incógnita em relação a você. Cheguei até aqui porque na última consulta que ela teve comigo, ao sair, esqueceu sua agenda. Nela encontrei escrito: ‘discussão filosófica – Atingo (MÉDICO ESPIRITUAL). Tema: a vida’. Todavia estou aqui não para falar de minha paciente – jamais é lícito qualquer médico falar do quadro clínico de seu paciente a terceiros sem a devida permissão do mesmo –, senão para tratar-me com o senhor” – disse.

Atingo, por sua vez, recusou veementemente o pedido. Tentou se levantar, mas foi impedido pelo psiquiatra. Ajeitando-se no seu lugar começou explicar:

_ “Não sou nada de ‘médico espiritual’, somente tenho apreciação pela filosofia, pois fala sobre o encontro com o outro; seu relacionamento consigo mesmo e com os outros...”.

_ “(...) é você mesmo. Pois, discursa a respeito da vida e tem o meu remédio que tanto procuro para responder aos meus pacientes: o ‘relacionamento consigo mesmo e com os outros!”, disse o psiquiatra que tirando do bolso de seu blazer um cartão entrega-o ao médico espiritual.

No cartão estava escrito: “CULLY WOSQUIM (Psiquiatra) – ‘Uma pessoa se revela, antes de tudo, a si mesma, depois aos outros’”. Entregando o cartão... Levanta-se para ir embora. É, portanto, puxado pelo braço tendo que voltar a se sentar de novo.

Isso porque Atingo, enquanto recebia o cartão observou que Incógnita estava chegando... Pensou: “este homem colocou-me em uma emboscada! Ele tramou... Deve ter, sim, feito de propósito! Mas, para quê? Todavia, algo ele fez. O que, porém, não sei. Ele não viria aqui somente para me pedir ajuda...”.

Enquanto assim pensava Atingo, chegou Incógnita, que se enfureceu ao reconhecer seu médico psiquiatra conversando com seu “médico espiritual”. Ela lhes dirigiu entre gritos e choros:

_ “É isso que vocês fazem? Fingem-se de profissionais do saber ou da ciência, mas não passam de dois traidores, covardes, sem caráter profissional, de ofícios míopes, dados ao nada. Sim, ambos não passam de uma enganação. Falam do valor do autoconhecimento, no entanto, só querem conhecer as pessoas para fazerem delas objeto de pesquisas. Aplicando-lhes suas teorias...”.

Atingo lhe disse: “nada disso Incógnita. Escute-me, por favor”! Ela nem mesmo ouvira estas palavras.

Continuou... “Sim. Suas teorias são prisões de vocês mesmos. Querem que eu decifre sonhos com cercados e animais... Visualize-me a partir de mim mesma. Isso tudo era, vocês me diziam, para que eu me conhecesse melhor. Ao que percebo agora é que tudo isso era um desejo de aumentarem suas posses intelectuais, não tinham nada de alteridade. O outro que vocês tanto buscavam não era o meu conhecimento de mim mesma, senão, o outro de cada um. Para mim tudo isso já é o bastante! Tive por muito tempo buscando o nada: o auto conhecimento de mim mesma”.

Dizendo tudo isso, Incógnita caiu desmaiada aos pés de Atingo, quem a segurou pelas costas tentando levantá-la: foi uma tentativa improfícua. Com isso, o psiquiatra chega para lhe ajudar; porém, é afugentado: _ “afaste-se daqui, porque foi você quem fez isso a ela!”. Nesse momento chega ajuda de socorro...

Incógnita, com efeito, foi encaminhada ao hospital, tendo Atingo por companhia; e, o desafortunado do psiquiatra, saiu andando com pesar pelo acontecido.

Pe. Joacir S. d’Abadia, autor de 7 livros