3 Médico Espiritual de um Psiquiatra

_ Continuação _ Logo à frente encontra-se com um homem que se trajava com um terno “slim” de ótima qualidade. Em sua mão esquerda segurava uma pasta preta de couro e com a mão direita baixava seus óculos para enxergar Atingo de olhos nus.

Parando a certa distância, o homem o fitou profundamente como se fossem velhos amigos que se reencontravam depois de muito tempo sem se encontrarem. Porém, aquele olhar intenso admitiu sobreviver sua densa investigação de resposta.

Ele, infatigavelmente, buscava contestar as objeções que seus pacientes o dirigiam. Seu ser pulsava como seu próprio coração naquela ânsia em ter respostas primorosas e claras na hora certa.

Seu rosto era um rosto indagador, parecido com os pensamentos de filósofos! Procura, todavia, uma resposta. A tal ponto de poder se inquirir: “este homem busca resposta para seus pacientes ou para si mesmo?” Nenhuma resposta poderia desconsiderar tanto seus pacientes como ele próprio. Visto que passava quase que todo seu tempo em contato com eles. Ou seja, com suas investigações. Suas buscas constantes.

Vendo, Atingo, aquele homem em sua frente, saudou-o: _ “Bom dia, senhor!”. _ “Bom dia, caro ‘médico espiritual!’”, rebateu o homem.

Ao ouvir a resposta: “Bom dia, caro ‘médico espiritual!’”, Atingo se ergueu e tomou uma postura ereta; parou, de repente, de forma firme! Mas, não se deixou levar pela familiaridade com que era tratado por aquele desconhecido e acrescentou: _ “Em que posso ajudar?”.

O homem ajeitou os óculos em seu rosto... Deu mais um passo à frente e estendeu a mão direita ao “médico espiritual”, o qual erguendo sua mão pensou:

“Quem será este homem que vem até aqui me chamando pelo nome que somente Incógnita me chama até o momento? Será que ela lhe contou de nossos encontros filosóficos? Ou mesmo, deve ter encontrado alguma coisa que ela escrevera... Mas, poderia, ela, ter escrito algo de filosofia sobre os nossos encontros? Ela seria uma pensadora que se construía chamando-me de ‘médico espiritual’?”.

Aquele homem lhe apertou a mão com firmeza. E, mantendo seu corpo ereto e ombros erguidos, disse: _ “Sou psiquiatra!”.

Com estas palavras aqueles homens soltaram as mãos... _ “Psiquiatra!” – repetiu o “médico” franzindo sua testa e meneando sua cabeça como negando qualquer conhecimento que fosse de algum psiquiatra.

Logo disse: “o que Incógnita lhe disse a respeito de mim? Ela falou de nossas discussões filosóficas? Sobre sua...”. Contudo, enquanto falava foi interrompido pelo psiquiatra, o qual fez: “nada disso, caro médico”.

_ “Então, como soube que Incógnita me chama de ‘médico espiritual’?” – indaga, fulminante, Atingo.

Naquele momento o silêncio deu lugar aos olhares tanto de reprovação, por parte do médico, quanto de inquietação por parte do psiquiatra, o qual, tomando a palavra convidou o “médico” para que se sentassem.

Foram caminhando lado a lado. No entanto, nenhum abaixou a cabeça enquanto seguia. Andaram com passos seguros!

Sentados onde, antes, estavam Atingo e Incógnita, o psiquiatra sentou onde sentara o “médico espiritual” e, esse, por sua vez, no lugar de Incógnita.

                                                                  Pe. Joacir S. d’Abadia, Autor de 7 livros